Quando saltam, minúsculos sapinhos brasileiros têm sérios problemas na aterrissagem… Agora pesquisadores descobriram o porquê!

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A miniaturização é um fenômeno evolutivo muito observado em sapos de ambientes úmidos das florestas tropicais. Esses minúsculos anfíbios estão entre os menores vertebrados do mundo e exibem uma série de características enigmáticas para os cientistas. É o caso, por exemplo, daqueles do gênero Brachycephalidae, encontrados na Mata Atlântica, como o sapinho-pingo-de-ouro.

Pesquisadores sempre ficaram intrigados porque esses sapos apresentam uma falta de habilidade em “aterrissar” após seus saltos. Agora uma equipe de cientistas dos Estados Unidos, do Reino Unido e do Brasil conseguiu finalmente entender a razão pela qual esses anfíbios são tão desastrados para finalizar seus “voos” no ar.

Ao comparar as estruturas dos canais internos dos ouvidos de 147 tipos de sapos e rãs, eles descobriram que nos Brachycephalidae eles são pequenos demais e comprometem sua habilidade de se equilibrar.

Segundo os cientistas, que publicaram um artigo científico sobre o assunto, o canal auditivo interno em animais é semicircular e cheio de líquido. À medida que ele se move, o líquido é empurrado, estimulando as células nervosas que revestem o canal. Isso confere uma sensação de equilíbrio (similar ao que acontece com o labirinto nos seres humanos).

À medida que foram ficando menores, os órgãos internos desses animais também diminuíram, como por exemplo, seu canal auditivo, que com menos fluido, tornou-se mais difícil para ele balance e flua, resultando em menos sensação de equilíbrio. “Nas rãs, isso resulta em capacidade reduzida de girar para uma boa posição de pouso”, afirmam os pesquisadores.

De acordo com Luiz Fernando Ribeiro, pesquisador do Mater Natura e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR, que não fez parte desse estudo, mas foi um dos responsáveis pela descoberta de uma nova espécie da mesma família, o Brachycephalus mirissimus, em 2018, os mini sapos passaram pelo processo evolutivo chamado de miniaturização, o que dá a eles uma vantagem estratégica para sobreviver às condições da montanha. “Além disso, por viverem em lugares íngremes e úmidos, mas sem a presença de grande quantidade de água, durante o processo evolutivo, esses sapinhos da montanha também adquiriram outra característica própria: eles não passam pela fase de girino”, explica.

Em geral, os sapos do gênero Brachycephalidae medem entre 10 a 13 milímetros e possuem uma coloração de tom alaranjado, muito vibrante.

Apesar de não serem exímios saltadores, eles têm uma pele tóxica, que os ajuda a se protegerem de predadores.

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O Brachycephalus mirissimus, menor do que a ponta de uma lapiseira
(Foto: Luiz Fernando Ribeiro)

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Foto de abertura: Luiz Fernando Ribeiro (pesquisador do Mater Natura e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR)

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.