Um mergulho virtual com o Projeto Coral Vivo

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Nem todo mundo tem a chance de sair nadando de máscara e snorkel para ver de perto os recifes de coral e a imensa diversidade de seres marinhos a eles associados. Mas alguns pesquisadores, mergulhadores e fotógrafos, detentores desse privilégio, resolveram compartilhar imagens e histórias por meio de livros, disponibilizados para download gratuito.

Desde o início de novembro, os interessados podem ler online ou copiar em PDF, o livro Mergulhando no Coral Vivo. São 360 páginas (de 30 por 25 centímetros, na versão impressa), contendo belas fotos e um resumo dos 13 anos de parcerias, estudos e esforços de conservação dos organismos coralíneos da costa brasileira.

mergulando-no-coral-vivo-capaEssa é a segunda publicação organizada pelo Projeto Coral Vivo: no primeiro semestre de 2016, o grupo também lançou e disponibilizou online o livro Conhecendo os Recifes Brasileiros: Rede de Pesquisas Coral Vivo, com resultados de pesquisas realizadas no Brasil, em 25 capítulos assinados por 55 autores.

Segundo Clóvis Barreira e Castro, idealizador do Projeto Coral Vivo junto com Débora de Oliveira Pires, o projeto tem quatro pernas. A primeira é a pesquisa, que está na origem de tudo: Clóvis e Débora começaram a trabalhar com os ciclos de formação e renovação de comunidades de corais, no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, onde contribuíram para a formação de um bom número de mestres e doutores. Hoje, contam com dezenas de professores associados, de oito universidades brasileiras.

A segunda perna é a educação: “Vimos que era necessário formar mentalidades críticas, gente capaz de parar para pensar nos assuntos em mais longo prazo”, conta Clóvis. No caso das comunidades de corais, o prazo realmente deve ser longo, pois a formação de um único centímetro coralíneo para recobrir uma rocha pode levar algo em torno de três anos! E a percepção do que isso significa para a recuperação de um recife de corais destruído é crucial para a sensibilização dos moradores urbanos e de membros de comunidades litorâneas. Na “perna” da educação, desde 2006, o projeto conta com a expertise de Maria Teresa de Jesus Gouveia, educadora ambiental do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, com a ajuda de quem as informações do grupo já chegaram a mais de um milhão de jovens.

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A terceira perna do projeto é a sensibilização do público, por meio da comunicação e das redes sociais. O Facebook do Projeto Coral Vivo já tem quase 250 mil seguidores e as ações de conscientização mobilizam muita gente, no mundo real e em realidade virtual. Viveiros estabelecidos pelos pesquisadores no Arraial D’Ajuda Ecoparque, no sul da Bahia, contribuíram muito para a percepção da necessidade de chamar a atenção de pessoas, que não são mergulhadores ou cientistas, mas fazem diferença ao se recusarem a comprar esqueletos de coral coletados irregularmente ou ao lutarem pela redução da poluição dos recifes de coral por esgotos domésticos e descargas industriais ou ainda tentarem reduzir a destruição dos corais por excesso de sedimentação, causada por desmatamentos e outras atividades realizadas ao longo dos rios que deságuam no mar.

A quarta e última perna é a contribuição para políticas públicas. Com a participação do Ministério Público, o Projeto Coral Vivo participou da elaboração do plano de manejo do Recife de Fora (litoral sul da Bahia), um dos mais bonitos e mais visitados do país, com a intenção de transformar essa visitação num modelo de conhecimento e gestão. Eles também contribuíram com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Ambientes Coralíneos, de modo a expandir o modelo de conservação para toda a zona costeira e talvez contribuir para reduzir o problema que mais ameaça os recifes de corais, que é a sobrepesca.

“Esse livro, na verdade, é uma celebração, uma memória de ações e de muitas parcerias realizadas em dez anos de patrocínio da Petrobras Ambiental e mais de três anos iniciais de muito esforço”, acrescenta Clóvis. “O Coral Vivo nasceu no Museu Nacional e hoje é multi institucional. Muita gente passou por lá, muita gente ficou, muita gente saiu e voltou e quando precisamos organizar mutirões contamos sempre com muitas pessoas. A chave do sucesso é a continuidade e a parceria com todas essas pessoas”.

Fotos: Áthila Bertoncini – peixe maria-da-toca ou Parablennius marmoreus (abre), coral-casca-de-jaca ou Montastraea cavernosa (capa do livro) e gorgônia-de-fogo ou Muricea flamma

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Liana John

Jornalista ambiental há mais de 30 anos, escreve sobre clima, ecossistemas, fauna e flora, recursos naturais e sustentabilidade para os principais jornais e revistas do país. Já recebeu diversos prêmios, entre eles, o Embrapa de Reportagem 2015 e o Reportagem sobre a Mata Atlântica 2013, ambos por matérias publicadas na National Geographic Brasil.