
Atualizado em 15/4/2019, às 19h11
O Museu de História Natural de Nova York atendeu o apelo do prefeito, Bill Blasio, para não sediar a cerimônia de entrega dos prêmios Pessoa do Ano, concedido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. Este ano, a instituição homenageará Bolsonaro e um americano, que ainda está em sigilo. Blasio considera o presidente brasileiro perigoso para a humanidade porque quer destruir/explorar a Amazônia, por isso, para ele seria um contra-senso que ele fosse recebido numa instituição que defende a biodiversidade e a Ciência, que ele tanto ataca com suas medidas inconstitucionais.
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Publicado em 15/4/2019, às 7hs
Desde que a Câmara do Comércio Brasil-Estados Unidos divulgou o nome do eleito para o prêmio de Pessoa do Ano, na semana passada, que Nova York se tornou o centro das atenções e os movimentos contra a realização da cerimônia de entrega se espalharam pelas redes sociais. Também pudera, o escolhido foi Bolsonaro. E o local da cerimônia de entrega do prêmio, em 14 de maio, o Museu de História Natural.
Em entrevista à rádio WNYC, em 12/4, o prefeito de Nova York, Bill Blasio, declarou que considera a homenagem como uma ironia e uma “contradição chocante” já que “esse cara é um ser humano perigoso, não só por causa de suas posições abertamente racistas e homofóbicas, mas também porque, infelizmente, ele é a pessoa que pode definir o que acontecerá com a Amazônia no futuro e, se ela for destruída, uma vez que ela faz parte de nosso ecossistema global, todos estaremos em perigo“.
Blasio comentou que defende a liberdade de expressão e que, por isso, é muito difícil para ele se posicionar dessa forma, mas logo ressaltou que “há um bom argumento quando se trata de uma instituição pública e de que alguém que está fazendo algo visivelmente perigoso. Eu fico desconfortável com essa situação e peço ao museu que não permita que ele seja recebido lá”.
Na verdade, Blasio foi elegante. Desde sua campanha presidencial, além de incitar à violência, Bolsonaro tem feito declarações contra os indígenas e a favor do agronegócio e da mineração na Amazônia, de seu projeto desenvolvimentista. Por conta disso, a região tem sido alvo de justiceiros, madeireiros, garimpeiros e tanto a floresta como seus povos estão sendo destruídos, sem lei.
Suas escolhas para os ministérios de Relações Exteriores e Meio Ambiente só fortalecem essas ideias. O chanceler Ernesto Araújo declarou que o aquecimento global é uma conspiração marxista. Ricardo Salles fez coro dizendo que o debate sobre mudanças climáticas é desnecessário. Condenado pela Justiça paulista por favorecer mineradora quando foi secretario do meio ambiente do estado, Salles tem feito declarações polêmicas e tomado decisões que vão declaradamente contra a preservação ambiental, como, por exemplo, sua proposta de dar concessão de sete parques nacionais, sem licitação, para a Vale utilizar multa pelo crime em Brumadinho.
O que dizem o Museu e a Câmara
Logo que o nome de Bolsonaro foi divulgado pela Câmara de Comércio, ele celebrou no Twitter e rapidamente um movimento indignado cresceu nas redes sociais para tentar sensibilizar a direção do Museu de História Natural a impedir a realização da cerimônia em suas instalações.
Também pelo Twitter, o museu garantiu que suas dependências foram alugadas pela Câmara quando o nome do presidente brasileiro ainda não havia sido divulgado. “O evento externo e privado em que o atual presidente do Brasil será honrado foi agendado no Museu antes de a homenagem ser divulgada. Estamos profundamente preocupados e explorando outras opções”.
The external, private event at which the current President of Brazil is to be honored was booked at the Museum before the honoree was secured. We are deeply concerned, and we are exploring our options.
— American Museum of Natural History (@AMNH) April 12, 2019
Segundo o site G1, a assessoria do Museu garantiu que sua direção entende que há uma necessidade urgente de conservar a Floresta Amazônica, que tem profundas implicações para a diversidade biológica, as comunidades indígenas, as mudanças climáticas e o futuro saudável do planeta.
Todos os anos, a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos homenageia duas Pessoas do Ano: uma americana e outra brasileira. Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton já foram homenageados. No ano passado, os eleitos foram Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, empresário e criador da Fundação Bloomberg – ok, merecido! – e Sergio Moro, atual ministro da justiça. De alguma maneira, faz sentido que, depois dessa indicação, a escolha seja Bolsonaro. A personalidade americana ainda não foi divulgada.
Em fevereiro, a Câmara justificou a escolha de Bolsonaro assim: “É o reconhecimento de sua intenção fortemente declarada de estreitar laços comerciais e diplomáticos mais próximos entre Brasil e Estados Unidos e seu firme comprometimento em construir uma parceria forte e duradoura entre as duas nações”.
Ah, se há uma coisa da qual não se pode ter dúvida é a paixão submissa de Bolsonaro pelos Estados Unidos. O mundo inteiro viu sua subserviência à Trump na viagem que fez ao país no mês passado. Se levarmos isso em conta, a escolha para receber esse prêmio é perfeita. Mas um governante que tem demonstrado total desinteresse pela Ciência e feito declarações que revelam que pouco se importa com a biodiversidade brasileira, com os povos indígenas e com os direitos humanos, não pode receber um prêmio numa instituição científica.
Foto: Reprodução vídeo CNN