Prefeita de Paris propõe e conselho aprova que espaço público receba o nome de Marielle Franco

Atualizado em 2/4/2019

Ontem, 1/4/2019, o Conselho Municipal de Paris aprovou moção de intenção para dar nome da vereadora carioca a espaço público na capital francesa. E não há nada de mentira ou de fakenews nesta notícia, como alguns brasileiros estão se acostumando a falar, por conta das falácias constantes do governo Bolsonaro.

De acordo com o coletivo Rede Europeia para Democracia no Brasil (REDE.Br), a proposta foi apresentada por políticos de esquerda, mas aprovada pelos conselheiros (espécie de vereadores) de forma unânime, ou seja, também por políticos de esquerda. Que boa notícia!

Agora, só falta encontrar um local – que pode ser rua, praça pública ou passagem pública – para que seja colocada uma placa em homenagem a Marielle. A intenção dos envolvidos é buscar o lugar no centro da cidade. E, por isso, o bairro do Marais, bastante frequentado por pessoas LGBT, é um dos mais cotados.

Tomara que essa iniciativa, aprovada com tanta rapidez, inspire outras, também no Brasil, onde já se quebraram placas com o nome de Marielle, e onde a maioria dos projetos aprovados com tal velocidade – e, por vezes, na calada da noite – visa os interesses escusos de políticos corruptos e de empresários da elite.

Agora, leia o texto completo que escrevi em 16 de março a respeito do projeto, e que causou polêmica nas redes sociais do Conexão Planeta.

Prefeita de Paris anuncia proposta de batizar rua com nome da vereadora e ativista brasileira

Marielle Franco foi assassinada em 14 de março de 2018. E, ao contrário do que certamente almejava quem encomendou o crime, ela não se calou. Está cada vez mais viva e presente na mente, no coração e na voz de muitos brasileiros e brasileiras. Mas não só aqui no Brasil. No exterior e no coração de estrangeiros também.

Quem defende os direitos humanos não pode se calar diante de tamanha barbárie, que foi seguida de descaso e manifestações agressivas por parte de integrantes da família do presidente Jair Bolsonaro, do próprio e de seus seguidores.

Não dá pra esquecer a cena dantesca protagonizada, alguns dias antes das eleições, por dois deputados recém eleitos do PSL (Daniel Silveira e Rodrigo Amorim, do partido de Bolsonaro), na companhia do então candidato ao governo do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, durante ato de campanha em Petrópolis, na região serrana.

Com o apoio inflamado dos que os ouviam, os deputados quebraram uma placa de rua com o nome de Marielleque foi criada para ato público em sua homenagem – durante discurso agressivo de Amorim: “Esses vagabundos, eles foram na Cinelândia, e à revelia de todo mundo, eles pegaram uma placa da Praça Marechal Floriano, no Rio de Janeiro, e botaram uma placa escrito Rua Marielle Franco. Eu e Daniel essa semana fomos lá e quebramos a placa. Jair Bolsonaro sofreu um atentado contra a democracia e esses canalhas calaram a boca. Por isso, a gente vai varrer esses vagabundos. Acabou Psol, acabou PCdoB, acabou essa porra aqui. Agora é Bolsonaro, p***”.

Dias depois desse ato de vandalismo, um ato público de repúdio foi realizado no centro do Rio de Janeiro. Em menos de uma hora, 1,7 mil placas de rua foram distribuídas aos presentes. Foi lindo!

E, nesta semana, logo após a prisão dos suspeitos de matar Marielle (dois milicianos foram presos dois dias antes de o crime completar um ano), o governador Witzel pediu desculpas à sua família por esse ato insano e disse apoiar a prisão.

E, assim, a placa de rua com o nome da ativista se tornou um dos maiores símbolos das manifestações por sua memória, mas também por justiça, pela proteção e defesa das mulheres, das mulheres negras, dos negros, dos LGBTs, a favor dos direitos humanos e contra a violência. Tudo que a vereadora do PSOL representava para a cidade. E, quem sabe, pode ser instalada em uma rua de Paris, em homenagem à ativista assassinada.

Isto porque a prefeita da capital francesa, Anne Hidalgo, manifestou, em seu Twitter, o desejo de homenagea-la: “Marielle Franco foi assassinada há um ano. Como vereadora no Rio de Janeiro, ela esteve envolvida na luta contra o racismo, a homofobia e a violência policial. Em sua memória, proporemos ao próximo Conselho de Paris que um lugar seja dedicado a ela”.

No dia em que completou um ano do assassinato de Marielle, Anne Hidalgo se manifestou pelo Twitter,

No começo do mês, o coletivo Rede Europeia para a Democracia no Brasil (RED-BR), que reúne artistas, intelectuais e militantes na França, já havia anunciado que a prefeitura de Paris aceitou a proposta de abrir processo para analisar o projeto de alterar o nome de uma de suas ruas para homenagear Marielle. Com essa manifestação no Twitter, Hidalgo parece apoiar o projeto.

Quando alguém pensou em calar Marielle Franco, não imaginou que ela se multiplicaria. Que sua voz seria ouvida pelo Brasil e pelo mundo. Que ela se tornaria o símbolo da luta pelos direitos humanos e sua história ficaria ainda mais forte.

Que as ruas com o seu nome se multipliquem pelo país e pelo planeta e que suas ideias e reflexões nos inspirem a nunca desistir de lutar por justiça!

Foto Marielle Franco/Mídia Ninja e reproduções da placa e do tweet de Anne Hidalgo

Um comentário em “Prefeita de Paris propõe e conselho aprova que espaço público receba o nome de Marielle Franco

  • 19 de março de 2019 em 1:24 AM
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    A Anne Hidalgo tem um trabalho de justiça social em Paris que provavelmente inspirava Marielle. Essa mulher é uma fada de tão brilhante! Agora vamos aguardar os mimiminions reclamando de “franceses comunistas mimimi blábláblá França comunista blá blá blá” sendo que a França está em uma onda mega conservadora.

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.