Por que o Brasil é um país que insiste no modelo de “desenvolvimento a qualquer custo”?

Por que o Brasil é um país que insiste no modelo de “desenvolvimento a qualquer custo”?

O livro de Warren Dean, “A Ferro e Fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira”, não deixa dúvidas sobre a forma com a qual impusemos em nosso país um desenvolvimento no qual a natureza foi considerada como um mal a ser brutalmente subjugado. O ritmo de destruição e as regiões mais afetadas variaram com o tempo, mas as práticas utilizadas sistematicamente deixaram um rastro de imensa devastação e eliminação de áreas naturais, gerando paradoxos ainda presentes de muita riqueza e extrema pobreza.   

Um misto de insensibilidade e de avareza, com falta de apego ao interesse público e ao destino das gerações futuras, ajuda a explicar como uma sociedade mantém padrões de exploração de suas terras ignorando premissas tão fundamentais de gestão. O imaginário coletivo colabora com a insensatez institucionalizada, ao esboçar ingenuamente um país repleto de belezas naturais bem conservadas, como se “logo ali” as áreas nativas ainda estivessem presentes em toda a sua exuberância.

Na situação atual, isso nada mais é que uma autoilusão, que apenas desliga nossas consciências do que está acontecendo.  Um verdadeiro fenômeno do escapismo, que tem feito a sociedade em geral ignorar esses fatos e achar que sempre vai existir uma nova área natural à disposição.

Além disso, apesar de seguirmos as mesmas práticas ambientalmente destrutivas, seguidamente, somos inebriados por publicidades baseadas em falsas premissas, enaltecendo nossa condição de sustentabilidade ambiental. Em última instância, o que temos é o avanço de um modelo de desenvolvimento obsoleto e degradador da natureza, amparado por cosméticos midiáticos que, embora grosseiramente falaciosos, servem de anestésico para uma sociedade que vem, perigosamente, perdendo sua capacidade de se indignar.

É evidente que este amparo conivente a atividades econômicas incompatíveis com um desenvolvimento responsável vai contra a manutenção da qualidade de vida e da própria longevidade dos negócios. Se mantivermos um comportamento de passividade, apesar dos fatos que mostram que estamos sendo levados a um caminho desastroso, certamente, a história responsabilizará a todos pelos prejuízos sem precedentes que estamos observando – e dos quais somos partícipes – por ação ou omissão. 

O Brasil precisa de avanços emergenciais em suas práticas de proteção ao meio ambiente, com estruturas públicas mais robustas e qualificadas e uma firme determinação para ajustar desequilíbrios em atividades econômicas que geram imensos impactos ambientais. Impactos que acabam, como sempre, sendo coletivizados, e atingindo a todos nós.  Mas ao contrário do que deveria ter acontecido, o que já era aterrador em termos de destruição de áreas naturais, passou a ser uma política governamental ainda mais explícita e violenta. 

Não por acaso, a economia sofre revezes cada vez mais significativos, com a recusa de investidores e de compradores de produtos nacionais em manter suas atividades em nosso país. Além das enormes consequências negativas da degradação ambiental que pagamos internamente, corremos o risco de perder mais e mais espaço no mercado internacional pela inconsequência com a qual a gestão do patrimônio natural brasileiro está sendo conduzida.

Toda a população brasileira está sendo prejudicada brutalmente com os crimes contra a natureza que passaram a representar a política pública vigente. O Brasil, que nunca foi um grande exemplo, saiu completamente dos eixos e despenca no precipício de sua própria incompetência, lastreada pela passividade e pelo oportunismo barato. E a grande “conquista” do período, foi o país ter se tornado um “pária internacional”.

*Artigo escrito por Adalberto Eberhard, fundador da Fundação de Apoio a Vida nos Trópicos (Ecotrópica), Clóvis Borges, diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS), Fernando Fernandez, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Gilson Burigo Guimarães, professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), e Miriam Prochnow, fundadora da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi).

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Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real/Fotos Públicas

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