Polvo-de-anéis-azuis, um dos animais mais perigosos do oceano, tem veneno mais potente que cianeto

Polvo-de-anéis-azuis, um dos animais mais perigosos do oceano, tem veneno mais potente que cianeto

Em geral, polvos são criaturas que encantam os seres humanos por demonstrarem comportamentos pouco vistos no mundo animal. Não por menos, em 2021, um filme encantou milhões de espectadores no mundo todo, ao relatar um possível relacionamento de afeição entre um homem e um polvo fêmea. ‘Professor Polvo’ ganhou tanto a estatueta de Melhor documentário no Oscar e do Sindicato dos Produtores de Hollywood, mas também arrebatou o júri do Bafta, o maior prêmio do cinema e da TV do Reino Unido (leia mais aqui).

Cientistas afirmam que cefalópodes, como os polvos, possuem um complexo sistema nervoso, o que os faz muito inteligentes e inclusive, serem considerados seres sencientes, ou seja, que apresentam alguns tipos de sentimentos, como dor, tristeza ou alegria.

Mas apesar da nossa fascinação por eles, também é necessário manter a distância de algumas espécies. Pois nem todos os polvos são inofensivos como aquele do documentário premiado. Na Austrália, por exemplo, o belíssimo Hapalochlaena maculosa esconde na base de seus tentáculos uma surpesa letal.

Considerado um dos animais mais perigoso dos oceanos, o polvo-de-anéis azuis possui um veneno fatal, muito mais poderoso do que o cianeto.

“O veneno do polvo-de-anéis-azuis contém tetrodotoxina, uma neurotoxina potente que acredita-se ser mil vezes mais potente para os humanos do que o cianeto”, diz Zoe Doubleday, ecologista marinha da University of South Australia, em artigo recente publicado no site The Conversation.

Espécie de pequeno porte – não verdade são três as descritas -, mede entre 12 e 22 centímetros e é observada em toda a costa da Austrália, sobretudo em águas rasas. Seus habitats preferidos incluem recifes rochosos e recifes de coral, ervas marinhas e leitos de algas e escombros.

Se não se sente ameaçado, seus anéis azuis não brilham. Mas caso eles comecem a brilhar, é sinal de perigo.

“Picadas de polvo-de-anéis-azuis são raras. Eles são animais dóceis, tímidos e não se interessam por pessoas. Mas eles podem morder quando ameaçados ou provocados, então NUNCA, NUNCA os toque”, alerta Zoe.

A tetrodotoxina é encontrada em cerca de 100 espécies de animais. A concentração da substância varia muito entre elas, mas no polvo é extremamente alta, e pode matar um ser humano. Há casos registrados, apesar de raros. A picada não é dolorosa e os primeiros sintomas são de formigamento na área da boca e leve fraqueza. Todavia, quando mais grave, pode levar à paralisia respiratória.

“Embora não haja antídoto disponível para uma picada de polvo-de-anéis-azuis, o veneno tem efeitos de curta duração, geralmente horas. No final do dia, aproveite o oceano. Mas se você vir algum polvo pequeno, faça o que fizer, não o pegue”, recomenda.

Sabe-se que o polvo-de-anéis-azuis usa seu veneno não somente como defesa, mas quando o inocula em suas presas, como caranguejos e peixes.

Segundo a ecologista australiana, especula-se frequentemente se existe um aumento na população da espécie. Ela diz que não há dados suficientes de longo prazo para fazer tal afirmação, mas alguns impactos da atividade humano podem contribuir para a sua proliferação, como as mudanças climáticas que aumentam a temperatura da água oceânica e tornam mais fácil sua adaptação e ainda, a poluição do solo marinho, como garrafas e latas, que podem fornecer habitat adicional aos polvos.

“Mas simplesmente não sabemos se esse é o caso do polvo-de-anéis-azuis. As populações também podem passar por ciclos naturais de “expansão e queda” em resposta a flutuações de temperatura, alimentação e outros fatores em seu ambiente, resultando em rápidos aumentos e reduções em seus números”, escreve a especialista em seu artigo no The Conservation.

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Foto de abertura: Kris-Mikael Krister on Unsplash

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.