Passeio Verde, entre raízes

Todo início de um novo ano é um momento de renovação e de novas atitudes, por isso quero fazer um convite para que você, leitor, tenha uma nova atitude em relação às árvores e à natureza em seus caminhos.

Começando pelo simples caminhar, uma das atitudes mais essenciais da existência humana, que nos permitiu ocupar locais distantes e diversos do planeta Terra. Exercitar o caminhar no quarteirão de casa, no bairro onde trabalha, mora ou estuda é uma excelente maneira de permitir que a natureza esteja mais presente, de maneira integral, em sua vida.

Permitir, desejar, abrir espaço na rotina, isso mesmo, cabe a nós a escolha e a opção. Queremos que a natureza nos encante, nos demonstre processos únicos que levaram milhões de anos para existir? Desejamos nos sentir mais próximos ou parecidos com as árvores, as aves, o vento, o solo, a chuva, a semente, os insetos? Buscamos essa abertura de sentidos para receber e perceber os sinais da natureza?

Meu desejo é que cada vez mais pessoas consigam fazer essa escolha consciente diariamente. Quero espalhar sementes que estimulem a reconexão, o reencontro com a natureza que somos e que a todo momento é lembrada pela existência de cada elemento que nos cerca, mas na maioria das vezes são pouco valorizados, apreciados e cuidados.

Então, convido você, neste primeiro mês do ano, a fazer conexões com as raízes das árvores por meio de um Passeio Verde, que pode ser feito sozinho, com amigos, com a família ou, até mesmo, participando das vivências realizadas pelo Instituto Árvores Vivas nas ruas, praças e parques de São Paulo.

Você observa ou já observou raízes? O que raízes significam para você?  Para que existem as raízes? Por que raízes são importantes para a vida?  Quantos tipos diferentes de raízes existem?  O tamanho da planta ou da árvore é proporcional ao tamanho de sua raiz?

Nessas caminhadas, costumo dizer que, se árvores e as plantas tivessem boca, ela ficaria na raiz. Antes mesmo de dar sua primeira folha, da semente é ela, a raiz, que brota. Assim fica garantido o acesso à água e aos nutrientes necessários para o crescimento e o desenvolvimento da planta. E o tamanho da planta? Tem ligação com sua raiz? Sim, totalmente. Se uma planta tem pouco espaço para desenvolver sua raiz, naturalmente o tamanho de seu tronco e dos galhos será menor do que se ela pudesse crescer livremente, sem barreiras.

Abaixo, listo algumas espécies interessantes para apreciar a diversidade estética e estrutural de suas raízes.

FALSA-SERINGUEIRA (Ficus elastica)
Árvore de origem asiática, mas muito comum em diversas cidades ao redor do mundo.

Em clima tropical cresce vigorosamente devido ao calor e à umidade. Seu crescimento e porte são grandiosos.

Suas raízes se estruturam continuamente por meio de pequenas formações que surgem nos galhos e quando atingem o chão se fixam e se fortalecem, criando corpo suficiente para sustentar galhos cada vez maiores, mais longos e mais pesados.

Enquanto ainda soltas, antes de encontrar o chão, as raízes da figueira formam uma espécie de grandes “cordas”, nas quais crianças e jovens costumam balançar e brincar, como na foto.

Raízes de figueiras são muito acolhedoras, mas há algumas curiosidades sobre elas que podem nos dar uma outra visão. Além de figueiras com raízes estruturantes, existem outras com raízes estranguladoras, como a mata-pau que sufoca a árvore em que ela estiver hospedada.

CHICHÁ (Sterculia chicha)
É uma árvore nativa da Mata Atlântica de grande porte.

Esta árvore é um espetáculo em todas as suas estruturas, mas com o foco nas raízes, as suas possuem partes aparentes que auxiliam a sustentação, conhecidas como tabulares. Altas, ficam acima do solo e formam estrutura similar a paredes.

Essa formação sustenta o grande tronco retilíneo da espécie e chega a alturas que podem ser maiores que dois metros ao se abrirem ao lado do tronco. No meio da floresta, esta raiz pode servir como um instrumento de comunicação.

Existem relatos que contam que indígenas, quando queriam se comunicar e saber onde estavam localizados, batiam com força na raiz tabular usando um pedaço de madeira. O som forte emitido pela raiz propagava-se a grandes distâncias, permitindo que seus companheiros localizassem o ponto de onde o som partia.

As raízes da Chichá também dão uma bela proteção para abrigos de crianças que brincam entre as árvores, ou até mesmo para um acampamento ou pernoite em meio à vegetação.

PALMEIRA-JUÇARA (Euterpe edulis)
Suas raízes, assim como de todas as palmeiras, são conhecidas por serem organizadas como uma espécie de “cabeleira” – daí a origem de um de seus apelidos -, mas tecnicamente chamada de fasciculada.

As diversas raízes têm espessura similar e aumentam em número ao longo do tempo para ampliar a capacidade de absorção de água e de sais minerais.

Elas não são muito profundas, mas, neste caso, a eficiência de fixação funciona de uma forma diferente das raízes de outras árvores.

A área da raiz se relaciona com a arquitetura do estipe (tronco da palmeira), que não desenvolve galhos laterais. Assim sendo, a sustentação exige menos esforço para manter o equilíbrio.

MANGUE-BRANCO (Laguncularia racemosa)
Típica das regiões de mangue, esta árvore possui raízes com função respiratória, que crescem invertidas saindo para fora do solo – devido ao fato de as regiões onde se encontram serem alagadas ou alagáveis.

Muito curiosa essa adaptação, que permitiu que a espécie sobrevivesse nessas condições.

Esta é a árvore que abre este post. A foto foi feita na praia de Cumuruxatiba, na Bahia. Lá, ela passa metade do dia totalmente visível e, na maré alta, quase inteiramente coberta pelo mar.

Por isso, árvores de mangues são incríveis e devem ser apreciadas e valorizadas.

PINHEIRO-DO-PARANÁ (Araucaria angustifolia)
Árvore símbolo da região sul do país, assim como outros pinheiros de todo o mundo, possui raiz pivotante ou axial, caracterizada por uma estrutura central principal da qual saem pequenas ramificações.

Em termos proporcionais, raízes pivotantes precisam de solos muito profundos para garantir a profundidade necessária para sustentar a altura da árvore de maneira segura.

Os ipês são árvores que possuem raiz pivotante também, por isso têm sido muito recomendadas para a arborização urbana.

E as raízes das árvores dos caminhos pelos quais você passa, como são ou estão?

Fica aqui o meu convite para que você apreciar as raízes das árvores que encontrar em seu dia-a-dia e vivenciar esses encontros inspiradores. Comente aqui no post e envie registros em fotos para mim.

Feliz Ano Novo! Que as sementes que plantamos se firmem e desenvolvam raízes fortes, ao mesmo tempo em que desenvolvemos “nosso melhor” todos os dias.

Fotos: Acervo Instituto Árvores Vivas e Google Maps (chichá)

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Juliana Gatti

Mestranda na área de Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável, sua pesquisa dedica-se a avaliar a influência da natureza na qualidade de vida de crianças e sociedade. Idealizou o Instituto Árvores Vivas em 2006, onde promove ações de conexão com a natureza por meio de apreciação, restauração e fomento da cultura ambiental.