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Parado, programa de reintrodução da ararinha-azul no Brasil pode ser rompido, diz ex-ministro do Meio Ambiente

Centro de reintrodução da ararinha-azul na Bahia será construído e administrado por alemão suspeito de tráfico

Em junho de 2018, o ministério do Meio Ambiente anunciou a assinatura de um acordo, na Bélgica, entre o governo brasileiro e organizações de conservação europeias – Pairi Daiza Foundation e Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP) -, que estabelecia a “repatriação” de 50 ararinhas-azuis de volta ao país, conforme noticiamos aqui.

A ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) é uma espécie nativa da região de Caatinga, na Bahia. Descrita pela primeira vez em 1832, a ave tem aproximadamente 57 cm, quase a metade do tamanho da arara-azul-grande, daí o seu nome “ararinha-azul”. Sua plumagem azul e seu canto estão entre suas mais marcantes características.

Infelizmente, sua beleza a fez se tornar vítima do tráfico ilegal de aves silvestres. Além disso, a destruição de seu habitat também provocou o desaparecimento da ararinha-azul. O último indivíduo da espécie foi visto perto do município baiano de Curaça, no ano 2000. Por isso, ela foi considerada extinta na natureza.

Hoje a ararinha-azul só sobrevive em cativeiros. São pouco mais de 150 indivíduos e a maioria deles – 90% da população ainda existente no mundo – está na ACTP, na Alemanha.

Mas no final do ano passado, uma denúncia do jornal britânico The Guardian fez sérias acusações contra o proprietário do criadouro alemão. De acordo com a reportagem da publicação, Martin Guth seria um ex-gerente de boate, já preso por extorsão e sequestro, e que poderia ter envolvimento com tráfico ilegal de aves.

O Conexão Planeta repercutiu a denúncia no Brasil e fez uma série de matérias sobre o assunto. Descobriu que muitos biólogos e criadores no país já tinham ouvido falar sobre a má fama de Guth, mas todos relataram medo em denunciar o alemão (leia mais aqui).

Assinatura do acordo em 2018: Martin Guth, ao centro,
e o ex-ministro, Edson Duarte, à direita

Há uma petição internacional, que já tem mais de 50 mil assinaturas, que pede uma investigação ao governo alemão sobre o criador de aves ameaçadas.

Procurado pelo Conexão Planeta, o ministério do Meio Ambiente, ainda sob a gestão de Edson Duarte, respondeu algumas questões, mas nunca se posicionou sobre as denúncias feitas a Guth*.

Segundo estimativas iniciais do programa de reintrodução, um desdobramento do Plano de Ação Nacional a Conservação da Ararinha-azul (PAN Ararinha-azul), coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave/Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade – ICMBio), órgão do ministério do Meio Ambiente, as aves só chegariam ao Brasil no primeiro trimestre de 2019.

Antes disso, elas precisariam passar por um processo de treinamento para, sobretudo, se adaptar ao clima da Caatinga. O primeiro passo seria a transferência para um Centro de Preparação para Reprodução e Reintrodução da Ararinha-Azul, em Berlim, criado especialmente para esta finalidade.

Pois esta semana, na coletiva organizada por ex-ministros do Meio Ambiente para repudiar o desmonte da política ambiental no governo Bolsonaro, Edson Duarte afirmou que o programa da ararinha-azul, que teria custado 10 milhões (ele não esclarece se em reais ou dólares), está parado. “Ele corre o risco de uma ruptura porque não foi fechado novamente o acordo e podemos perder o programa”, alertou.

Novamente, o Conexão Planeta entrou em contato com as assessoria de imprensa, tanto do ICMBio, quanto do ministério do Meio Ambiente, para ter um retorno sobre o assunto. Até o momento da publicação desta reportagem, não houve nenhuma resposta.

Em postagem de 27 de março, em sua página no Facebook, a ACTP divulgou fotos da construção do centro de reintrodução baiano.

Enquanto aguardamos a posição do atual governo sobre a continuidade ou não do programa, estão na Alemanha praticamente os últimos indivíduos de ararinha-azul do planeta.

Especialistas em reprodução em cativeiro demonstram preocupação de que 90% das ararinhas-azuis estejam em posse somente de um único criador. Caso aconteça algum problema, o contágio de uma doença, por exemplo, todas correriam risco de vida.

* Em contato com a ACTP, no ano passado, o Conexão Planeta se colocou à disposição para publicar uma entrevista exclusiva com Martin Guth, em que ele possa responder questões que ainda não ficaram claras, como por exemplo, a origem do dinheiro – do enorme investimento feito no programa brasileiro e em outros realizados por seu criadoruo, já que a ACTP é uma organização sem fins lucrativos.

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Fotos: reprodução Facebook

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