Para proteger roedores e pequenos mamíferos, abrigos biodegradáveis substituem naturais destruídos após incêndios

Para proteger roedores e pequenos mamíferos, abrigos biodegradáveis substituem naturais destruídos após incêndios florestais na Austrália

Os incêndios florestais que devastaram 12 milhões de hectares da Austrália entre o final de 2019 e começo de 2020 foram alguns dos piores da história daquele país. A tragédia ficou conhecida como “Black Summer”, ou “Verão Negro”. Estimativas apontam que 3 bilhões de animais vertebrados foram impactados pelo fogo e milhares morreram carbonizados, entre eles, coalas, pequenos mamíferos e roedores. Uma das regiões afetadas foi o santuário de vida selvagem de North Head, na costa sudeste do país, próximo à capital Sidney.

“Estudei e monitorei as plantas e animais em North Head por dois anos, mas depois dos incêndios, encontramos principalmente esqueletos carbonizados nas cinzas. Foi de partir o coração”, diz a ecologista Angela Raña. “Com a vegetação rasteira espessa quase completamente removida, qualquer animal sobrevivente poderia simplesmente ser abatido por pássaros, raposas e gatos.”

Ao lado do pesquisador Alex Carthey, da Macquarie University, Angela, que está fazendo PhD na University of Sydney, desenvolveu como seu projeto um abrigo alternativo para pequenos animais. Feito de polpa de papel reciclado, prensado em moldes impressos em 3D e revestido com cera de abelha para repelir a água, ele é biodegradável e se decompõe em 12 meses. Ele pode ser facilmente montado, e colocado em regiões destruídas pelo fogo, com rapidez, para substituir arbustos e outros tipos de plantas e vegetações que esses bichos costumam usar para se refugiar de predadores, descansar ou cuidar de seus filhotes.

Para proteger roedores e pequenos mamíferos, abrigos biodegradáveis substituem naturais destruídos após incêndios florestais na Austrália

A pesquisadora Angela Raña ao lao de seu projeto: em forma de pirâmide, o abrigo tem vários furos pelos quais os animais podem entrar e sair rapidamente

Desde 2014, o governo australiano, em parceria com a organização Australian Wildlife Conservancy, fez a reintrodução de diversas espécies em North Head, entre elas, o gambá-pigmeu (Cercartetus  nanus). A espécie, uma das menores do mundo, pesando cerca de 45 gramas e com10 cm, havia sido extinta no local. Ela faz um importante trabalho de polinização nesse ecossistema, ao levar pólen entre flores enquanto se alimenta de néctar.

Outro roedor que também deve se beneficiar com a instalação dos abrigos biodegradáveis é o rato-do-arbusto (Rattus fuscipes), nativo da Austrália, mas que começou a ter sua população reduzida após a introdução de uma espécie invasora.

Para proteger roedores e pequenos mamíferos, abrigos biodegradáveis substituem naturais destruídos após incêndios florestais na Austrália

O rato-do-arbusto

Agora, durante o período de um ano, Angela irá monitorar a eficácia dos abrigos de papelão. Foram instalados 200 deles.

“Acho que este projeto tem um potencial enorme de sucesso. Os incêndios florestais em grande escala são uma preocupação constante para os conservacionistas, especialmente à medida que o clima esquenta. Os abrigos alternativos podem ser uma nova ferramenta eficaz para a resposta aos incêndios florestais e ser a diferença entre a vida e a morte para milhares de animais nativos”, afirma o ecologista Viyanna Leo, responsável pelo programa de reintrodução em North Head.

Para proteger roedores e pequenos mamíferos, abrigos biodegradáveis substituem naturais destruídos após incêndios florestais na Austrália

Ele pesa menos do que uma bola de golfe: o gambá-pigmeu

*Com informações da Australian Wildlife Conservancy

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Fotos: divulgação Australia Wildlife Conservancy/Joey Clarke

Um comentário em “Para proteger roedores e pequenos mamíferos, abrigos biodegradáveis substituem naturais destruídos após incêndios

  • 7 de dezembro de 2021 em 10:01 AM
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    Legal isso. Para humanos e animais, um Lar é tudo.

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.