Para onde foram as andorinhas?

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Por Inês Zanchetta, do ISA*

Produzido em parceria pelo Instituto Sociambiental (ISA) e pelo Instituto Catitu para ser exibido durante a Conferência do Clima de Paris (COP-21), o documentário Para Onde Foram as Andorinhas? foi apresentado na Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental deste ano, mas seu lançamento se deu em 16/8 e, desde o dia 22, está disponível na internet.

Com roteiro de Paulo Junqueira, do ISA, e Mari Corrêa, do Instituto Catitu, que também é sua diretora, o filme mostra de forma sensível como os povos que habitam o Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso, estão sentindo os impactos das mudanças do clima e do agronegócio, no dia a dia: seja em sua base alimentar, como nos sistemas de orientação no tempo, em sua cultura material e rituais. Os índios estão preocupados com o futuro de seus netos, das novas gerações. Com o mundo que vão deixar de herança para eles.

Hoje, no Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso, vivem 6 500 índios de 16 povos diferentes que, com seu tradicional sistema de manejo do território, garantem a preservação das florestas. Entretanto, no entorno do parqu, a realidade é outra. Com 86% das florestas convertidas principalmente para a cultura de soja, milho e também para pasto, os últimos 30 anos foram de devastação ambiental no entorno e as consequências no clima, nos animais, na agricultura estão sendo sentidas pelos índios.

Cigarras não cantam mais. Borboletas e andorinhas sumiram

Os sinais estão por toda parte. As cigarras não cantam mais anunciando que a chuva está por vir. Também desapareceram as andorinhas que voavam em bandos para anunciar o início das chuvas. As borboletas, que visitavam as aldeias avisando que o rio ia começar a secar, sumiram. Estes são apenas alguns exemplos do que está acontecendo. Antigamente não era assim, dizem os índios. Mas o aumento do calor, a falta de chuvas, o desmatamento no entorno do parque e a construção de barragens são apontados como causas dessas mudanças. O fogo, antes restrito à roça, hoje se alastra com muita facilidade, atingindo grandes áreas da reservA, exigindo que os índios se mobilizem e adotem novas técnicas e equipamentos para controlar o fogo.

O calor intenso também está matando as frutas e os alimentos que fazem parte da culinária dos povos xinguanos estão desaparecendo, caso de algumas espécies de mandioca e batata. Até os pés de pequi, fonte de alimento e fundamental no ritual da furação de orelhas dos Waurá, estão sendo atacados por pragas que os povos que moram ali não conheciam.

Preocupados, acreditam que vão passar fome no futuro, porque as plantações não vão resistir. E temem que as futuras gerações tenham que depender da comida dos brancos.

*Texto publicado originalmente no site do Observatório do Clima, em 22/8/2016

Foto: Reprodução

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Observatório do Clima

Fundado em 2002, o OC é a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com mais de 70 organizações integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais. Seu objetivo é ajudar a construir um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável, na luta contra a crise climática. Desde 2013 publica o SEEG, a estimativa anual das emissões de gases de efeito estufa do Brasil