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Padre Julio Lancellotti recebe Prêmio Juca Pato – Intelectual do Ano de 2022, concedido pela União Brasileira de Escritores

Texto atualizado em 12/12/2022 para contar sobre a entrega do prêmio:

A entrega do Prêmio Juca Pato – Intelectual do Ano aconteceu ontem, 11 de dezembro, numa cerimônia muito especial: durante a missa celebrada pelo Padre Julio Lancellotti na Igreja São Miguel Arcanjo, no bairro o Belenzinho, em São Paulo.

É de praxe que o vencedor do prêmio anterior entregue o troféu, mas como a cartunista Laerte Coutinho está com covid-19, Ricardo Ramos Filho, presidente da União Brasileira de Escritores (UBE), que concede a homenagem, a representou e, na ocasião, declarou:

“Estamos muito felizes hoje. Sabemos o quanto é difícil estar do lado certo da história. Olhando aqui e agora para a Cruz, nesta missa de domingo, recordamos a luta de Jesus que morreu nela para nos salvar. Tanto quanto o Padre Julio, ele também se posicionou ao lado dos pobres, desvalidos, menos favorecidos pela sorte. A luta cotidiana do Padre Julio é difícil e perigosa: ele tem críticos ferrenhos, gente que acha correto comer carne banhada a ouro, ostentar vaidades, fazer pouco dos que quase nada possuem. Mas estamos aqui, ao lado dele, solidários, unidos neste combate que é pelo bem”.

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Ao receber o prêmio Intelectual do Ano, Padre Julio mostra a força do pensamento que é verdadeiramente humano. Com a votação expressiva, tida – e é sempre bom respeitar os votos, nada mais democrático -, nos traz a esperança de um mundo melhor, de uma nação mais fraterna, mesma esperança de vida de uma outra eleição recente. O Brasil tende a se recuperar de um tempo muito difícil, o amor vingará com todos os significados que a palavra vingar possa ter. O amor irá vingar! Viva o Juca Pato! Viva o Padre Julio Lanceltotti!”, finalizou Ramos Filho.

Quem quiser ouvir a gravação completa com a fala de Ramos Filho e a leitura da carta que Laerte enviou ao Padre Julio, clique aqui. A seguir, leia o texto que escrevi em 27 de setembro, pouco depois que a UBE divulgou o nome do homenageado deste ano, e que destaca a trajetória do padre e um pouco da história do prêmio criado em 1962.

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No auge da pandemia, em 2020, o pensador e líder indígena Ailton Krenak foi homenageado com o Prêmio Juca Pato, concedido pela UBE – União Brasileira de Escritores (contamos aqui). No ano passado, foi a cartunista Laerte Coutinho quem recebeu a distinção.

Agora, neste momento tão delicado e turbulento do Brasil e às vésperas das eleições, a UBE anuncia o homenageado deste ano: o amado Padre Julio Lancellotti.

“O Juca Pato é muito mais que um prêmio literário”, explica o escritor Ricardo Ramos Filho, presidente da UBE. “Reconhece a trajetória de pessoas que atuam na defesa dos valores democráticos e republicanos. É o que o Padre Julio tem defendido a vida toda, com muito amor e carinho, e, também, em seu livro lançado no ano passado”.

Com o título ‘Tinha uma pedra no meio do caminho’, a obra relata sua trajetória de 36 anos ao lado das pessoas que vivem em situação de rua na cidade de São Paulo. 

“É isso o que o Padre Julio tem defendido a vida toda, com muito amor e carinho, e, também, em seu livro lançado no ano passado”. Com o título Tinha uma pedra no meio do caminho, a obra relata sua trajetória de 36 anos ao lado das pessoas que vivem em situação de rua na cidade de São Paulo. 

“Considero o padre como um homem santo, abnegado, e sua vitória agora é importantíssima, principalmente porque temos um governo que despreza o pobre, as pessoas que vivem nas ruas, incentiva o desamor”, destaca Ramos Filho.

“O filho do presidente acaba de celebrar a vitória da ultradireita na Itália! Neste cenário, o trabalho do Padre Julio é ainda mais difícil, requer maior abnegação e mais amor pelo ser humano. Ele sabe bem passar essa mensagem para o público”.

E isso acontece independente da religiosidade de cada um. É o que se vê nos comentários que seus seguidores deixam em seus posts no Instagram, por exemplo. É sempre muito emocionante. Por outro lado, ele também é muito atacado. Mas, em suas páginas e na vida real, seu amor sempre vence o ódio.

“Torço muito para que o Padre Julio ainda ganhe um Prêmio Nobel! Fico feliz que uma pessoa tão desprezada e atacada pelas forças conservadoras, que apoiam este governo, tenha conquistado o Juca Pato. É um recado da UBE de que eles podem espernear à vontade, é um recado de amor, fraternidade e carinho pelo próximo”, completa o presidente da UBE.

À coluna da jornalista Mônica Bergamo, o pároco paulistano declarou: “Fiquei muito emocionado e comovido, achei que era impossível. Recebo este prêmio com muito carinho, significando toda a luta pela dignidade humana“.

‘Disputa’ acirrada

Como acontece todos os anos, a “disputa” também foi acirrada este ano: o pároco e pedagogo concorreu com a jornalista Eliane Brum (indicada em 2020, também), o escritor Laurentino Gomes, o biógrafo Fernando Morais e a autora e tradutora Marina Colasanti.

“Um time muito bacana! E ele foi muito bem votado”, conta Ramos Filho muito feliz.

Ter um livro de repercussão nacional publicado no ano anterior é quesito fundamental para ser indicado ao Juca Pato, mas a primeira lista – que, em geral, reúne cerca de 200 nomes – é produzida pelo público. Em seu site, a UBE convida os brasileiros a fazer indicações durante cerca de um mês e meio. Elas são analisadas pela diretoria, que indica os cinco finalistas, e a escolha final cabe aos associados da instituição. 

O nome do/a eleito/a, em geral, é divulgado em setembro, na primavera.

Em 2020 e 2021, por conta da pandemia, as celebrações aconteceram virtualmente: Krenak ‘recebeu’ o prêmio de Inácio de Loyola Brandão e Laerte, de Krenak. Este ano, a cerimônia será presencial (em dezembro, ainda sem data marcada) e o Padre Júlio receberá o prêmio das mãos de Laerte. Como rege o estatuto, o vencedor anterior entrega o troféu para o novo eleito.

A trajetória do padre 

Julio Renato Lancellotti nasceu em 1948 na capital paulista. Iniciou sua educação formal no Educandário Espírito Santo, no Tatuapé, e, em 1980, fez a fundamentação da Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo com Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida.

É pedagogo e, em 1986, foi designado para a Paróquia de São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca, onde intensificou seu trabalho com moradores de rua e menores abandonados. 

Participou da campanha contra maus tratos ocorridos na Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor (FEBEM) e, em 1990, denunciou maus tratos e torturas aos menores por meio da Pastoral do Menor, ano em que fundou a Comunidade Povo da Rua São Martinho de Lima, abrigo para pessoas em situação de rua, que oferecia cozinha, lavanderia e uma pequena marcenaria destinada a realização de cursos profissionalizantes. 

Um ano depois, fundou as Casa Vida I e II para acolher crianças portadoras do vírus HIV

Como vigário episcopal do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo, está à frente de vários projetos de atendimento à população carente, atuando junto a menores infratores, detentos em liberdade assistida, pacientes com HIV/Aids e populações de baixa renda e em situação de rua.

Por seu trabalho magnânimo, Padre Julio já foi reconhecido pela Unesco, é Doutor Honoris Causa da PUC/SP, recebeu o Prêmio Alceu Amoroso Lima da Universidade Cândido Mendes/RJ e, no ano passado, a mais alta honraria da Assembleia Legislativa de São Paulo por sua atuação em defesa dos direitos humanos: o Colar de Honra ao Mérito.

O Prêmio da UBE

Criado em 1962, por iniciativa do escritor Marcos Rey, é representado por um troféu que é réplica do personagem Juca Pato, idealizado pelo jornalista Lélis Vieira, imortalizado por Benedito Carneiro Bastos Barreto, ilustrador e chargista mais conhecido como Belmonte.

(a titulo de curiosidade, “Juca Pato representava o cidadão comum, trabalhador, honesto, pagador de impostos, perplexo, irritado e, por vezes, apoplético com os desmandos do custo de vida, da burocracia, da corrupção política e da exploração do povo”, indica o Guia dos Quadrinhos)

O Prêmio Juca Pato homenageia anualmente, como “Intelectual do Ano”, uma personalidade que tenha se destacado em qualquer área do conhecimento e contribuído para o prestígio do país, ao defender valores democráticos e republicanos, como Ramos destacou, anteriormente.

Os escritores Lygia Fagundes Telles e Carlos Drummond de Andrade, o crítico literário Antônio Candido e os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e Fernando Henrique Cardoso integram a galeria de escolhidos. 

Mais recentemente – a partir do ano em que Bolsonaro iniciou sua influência macabra na política, ainda em campanha -, Milton Hatoum foi o homenageado de 2018, com o livro A Noite da Espera; em 2019, Ignácio de Loyola Brandão com a reedição de Não Verás País Nenhumem 2020, Ailton Krenak com Ideias para Adiar o Fim do Mundo; e, em 2021, Laerte Coutinho com os três volumes de Laerte Total, que reúne todo o seu trabalho crítico sobre a vida brasileira: ilustrações, cartuns, tiras e histórias em quadrinhos.

Agora, celebramos a vida e a igualdade com Padre Julio Lancellotti. Parabéns pra ele e para a UBE que, mesmo em tempos tão turbulentos – agravados com a pandemia –, nos lembra que a literatura, as boas ideias e o amor sempre nos salvam. 

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Foto: divulgação

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