Ousadia, trabalho e arte: a economia solidária como alternativa para a população de rua
Semana passada participei em São Paulo do lançamento de uma iniciativa ousada e necessária nesse momento em que nosso país se encontra: a inauguração do Centro de Inclusão pela Arte, Cultura e Educação (Cisarte), uma iniciativa do Movimento Nacional de População de Rua (MNPR) e da Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários (Unisol Brasil) em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
Ousada porque o espaço, cedido por tempo indeterminado ao MNPR pela Prefeitura de São Paulo, pretende romper as barreiras do assistencialismo a essa população, oferecendo inclusão por meio da cultura e do trabalho.
Localizado no Viaduto Pedroso, próximo à Liberdade, o espaço amplo, que já funcionou como albergue, era também visado pela iniciativa privada para a construção de um restaurante panorâmico. Agora, seu destino é promover projetos de economia solidária oferecendo cursos, oficinas e serviços voltados para a população em situação de rua. No município de São Paulo, são cerca de 16 mil pessoas segundo o censo de 2015 da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS).
O coordenador do MNPR, Anderson Miranda, pretende que o Cisarte seja um espaço para discutir as políticas da cidade e romper com o modelo restrito ao abrigamento. Para ele, a iniciativa deve inclusive melhorar o diálogo com a sociedade, que em parte tende a criminalizar os que vivem nas ruas.
A estratégia de implementação desse centro vem sendo debatida por um conjunto de organizações públicas e privadas que partilharão a gestão e a responsabilidade das ações desenvolvidas com o MNPR. Entre os objetivos, além da articulação de ações voltadas à população de rua, figuram a ampliação do diálogo com o poder público e organizações da sociedade civil; a participação na formulação de políticas públicas de modo a incentivar a promoção da cidadania; o combate a todas as formas de discriminação e preconceito e a valorização da diversidade.
Um espaço de inclusão
Durante o lançamento, uma planta simplificada trazia o desenho de onde ficarão as oficinas, sala de cinema, biblioteca, salas de aula, teatro, cozinha, lavandeira, bagageiro e canil. Isso mesmo! O local será também uma base, um ponto de apoio, por exemplo, para quem precisar lavar e secar uma roupa para uma entrevista de trabalho. Ou mesmo deixar seu cão temporariamente.
Caminhando pelos cerca de 1.590 m² que compõem o espaço, é possível imaginar o funcionamento pleno num futuro próximo. No dia 21 de outubro, data em que o Cisarte foi oficialmente apresentado ao mundo, pude perceber a produção que já é feita pela incubação de empreendimentos com a população de rua não só ali, mas em outros equipamentos de acolhimento da SMADS. Três empreendimentos já estão em processo de incubação no Cisarte, nas áreas de artesanato, prestação de serviços e reciclagem. Mas as ações junto à população de rua em outros pontos da cidade incluem também jardinagem e fabricação de peças cimentícias.
“Pelo Cisarte, 20 pessoas participam atualmente do processo de incubação de empreendimentos. Contando todos os casos, cerca de 70 pessoas já passaram pelo processo. De nove grupos originais, seis estão ativos”, diz Elisa Feltran Serafim, educadora e uma das responsáveis pela coordenação dos processos de incubação no Centro. A idade dos integrantes dos empreendimentos é variada, mas em média a maioria tem entre 40 a 45 anos. O perfil dominante é masculino e adulto.
A incubação é a terceira fase do processo, que inclui sensibilização e formação. Nessas etapas anteriores é que as pessoas se conhecem, encontram sinergias e pensam em empreendimentos de trabalho com os quais se identificam. Desse ciclo surgiram coletivos de jardinagem, panificação, prestação de serviços e artesanato, por exemplo.
Cada coletivo formado passa, então, a ter encontros com um incubador e conta com especialistas para melhoramento de produtos, aperfeiçoamento de técnicas ou conhecimento.
Um dos projetos gestado no Cisarte é a Cooperativa Luz Divina, que faz triagem e catalogação de materiais recolhidos por catadores e encaminha para empresas que realizam a reciclagem de produtos específicos como papelão, latinhas e celulares, auxiliando na logística reversa desses itens.
Os outros dois coletivos também resultantes desse processo são a Constru-Sol, que oferece soluções para reformas e manutenção preventiva em geral, e o Estimularte, que desenvolve peças em artesanato.
O Presidente da Unisol Brasil, Leonardo Pinho, destaca a intersetorialidade como modelo para inclusão: “Vamos romper a fronteira entre assistência e trabalho. O morador de rua precisa mais do que cobertor, colchão e sopa. O Cisarte vai ser o espaço de promoção dos direitos humanos. A verdadeira transformação das pessoas acontece quando a assistência cria e articula uma política de promoção de direitos e trabalho, que transforma e dá identidade às pessoas”.
Fotos: Divulgação/Arte de Luis Birigui
Jornalista e mestre em Antropologia. Atua nas áreas de meio ambiente, investimento social privado, governos locais, políticas públicas, economia solidária e negócios de impacto, linkando projetos e pessoas na comunicação para potencializar modos mais sustentáveis e diversos de estar no mundo.
O desafio existe, só lamento a ignorância e falta de visão de gestores com tapa olho, meu projeto não perde em nada com objetivos de inclusão social,trabalho e renda, empreendedorismo, educação ambiental, turismo educacional, etc, o que falta é reconhecimento, vergonha é saber que cada um puxa a brasa para sua sardinha. Meu projeto PREVENIR, EDUCAR, RECICLAR será um ponto de referência em educar e ensinar,aguardem.