PUBLICIDADE

ONGs repudiam uso de suas marcas em documento do Bioparque sobre “programa de conservação” das girafas trazidas da África

ONGs repudiam uso de suas marcas em documento do Bioparque sobre "programa de conservação" das girafas trazidas da África

Mais um capítulo nebuloso na história da importação pelo Bioparque do Rio de Janeiro de 18 girafas da África do Sul (três morreram durante uma fuga logo após a chegada ao Brasil), que há mais de seis meses estão vivendo em recintos de 30 m2 no Resort Safari Portobello, em Mangaratiba, no sul do estado.

O Bioparque divulgou há poucos dias um documento sobre o suposto “Programa de Conservação” do qual os animais fariam parte, daí o motivo de sua vinda ao Brasil. A empresa se diz coordenadora do grupo de trabalho de tal programa para “esforços de conservação ex-situ da girafa no Brasil.

Na página 11 do referido documento, o Bioparque usa os nomes e logomarcas de várias entidades que trabalham na área de proteção e preservação do meio ambiente no Brasil e as cita como “Parceiros na Conservação”.

Mas desde que o documento se tornou público, diversas delas divulgaram notas afirmando que suas marcas foram utilizadas de forma indevida pelo Bioparque, sem autorização. O WWF-Brasil ressaltou que não possui nenhum projeto ou parceria com o Bioparque. “Tomamos conhecimento pela imprensa do uso indevido do nome e da marca do WWF-Brasil em divulgações do BioParque do Rio de Janeiro. Esse uso não foi autorizado e não reflete nenhuma relação ou parceria em andamento. Já entramos em contato com a direção do BioParque para a retirada da menção indevida e uso não autorizado de nossa marca das comunicações. O WWF-Brasil não atua nem apoia projetos ou iniciativas que favoreçam a introdução de espécies exóticas no território brasileiro e atualmente não possui parceria com o BioParque do Rio”.

O Instituto Espaço Silvestre (IES) também publicou uma nota de esclarecimento em seu site. “Esclarecemos que o IES não participou de nenhuma etapa deste projeto, haja vista que a parceria mantida entre o BioParque do Rio e o IES se resume ao projeto de reintrodução do papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea), sem transferência de recursos, limitando-se a troca de conhecimento e ações educacionais relacionadas a está espécie, o que acabou não ocorrendo. Cabe destacar que o logo do IES foi veiculado sem autorização e em violação ao convênio firmado entre as partes para o fim especificado acima, de modo que as providências cabíveis serão adotadas. O IES acompanhará pela imprensa a apuração e identificação dos responsáveis e espera que o caso seja esclarecido”.

Outra organização que se pronunciou sobre o uso de seu logo pelo Bioparque foi a Refauna. “O Refauna esclarece que não tem qualquer relação com o projeto de importação nem com o Plano de Conservação das girafas, realizados pelo Bioparque, tampouco participamos do processo de decisão a respeito destas ações. Bioparque e Refauna são parceiros em projetos de translocação de espécies nativas como a cutia, a anta, o trinca-ferro e a arara-canindé para florestas de Mata Atlântica. O uso da nossa marca e nome neste projeto não foram autorizados. Seguimos na luta para trazer os animais de volta às nossas florestas vazias”.

Quem também usou suas redes sociais foi o Instituto Arara-Azul, que escreveu o seguinte:

“Tomamos conhecimento, através da imprensa, que estão investigando o que pode ter causado as mortes de três girafas trazidas da África do Sul e que seriam levadas para o Bioparque do RJ. – Entendemos que o caso precisa ser apurado pelas autoridades competentes e que os responsáveis sejam devidamente punidos;

Quanto à logo do Instituto Arara Azul ter sido inclusa como parceiro do Bioparque do RJ, salientamos que o Instituto foi procurado por àquela instituição e convidado a assinar um Memorando de Entendimentos, em março de 2021 (com vigência de um ano), para fins específicos de apoio institucional para conjugar esforços para o desenvolvimento de atividades conjuntas e individuais de pesquisa e conservação com o foco na espécie arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus). Porém, neste período não foram elaborados planos de trabalho e nenhuma ação desenvolvida em conjunto.

Lamentamos o ocorrido e, assim como toda a sociedade, aguardaremos esclarecimentos legais sobre o fato”.

A Save Brasil também se mostrou indignada por ter sua imagem aliada ao caso das girafas. “A SAVE Brasil esclarece que não tem nenhuma relação com a importação de girafas pelo BioParque do Rio de Janeiro e não compactua com essa ação, tampouco com o documento que circula nas redes sociais intitulado Programa Conservação Girafa. Assinamos um Memorando de Entendimentos em 2021 junto ao BioParque, sem transferência de recursos, apenas para ações educativas e de conservação de jacutingas, espécie reintroduzida pela SAVE Brasil desde 2016, com apoio de zoológicos e criadouros.Ressaltamos que a SAVE Brasil não foi consultada em momento algum e não tem qualquer tipo de relação com o documento vinculado às girafas”.

Depois do repúdio das organizações, o Bioparque também se pronunciou sobre essa nova polêmica. Afirma que “as menções dos parceiros e membros do comitê científico divulgadas no documento não possuem relação com o programa de conservação e processo de importação das girafas, mas sim com outros projetos de pesquisa e conservação da biodiversidade”.

Pedido de habeas-corpus para as girafas

Em janeiro, quando o caso das girafas ganhou repercussão nacional, a justiça determinou que as sobreviventes fossem transferidas para baias maiores em até 48 horas. Na época, a juíza Neusa Regina Larsen de Alvarenga Leite, da 7ª Vara da Fazenda Pública do Rio de Janeiro, mandou o Bioparque construir recintos apropriados, conforme as normas do Ibama, e que essas obras ficassem prontas em 30 dias, sob pena de aplicação de multa diária no valor de R$ 5 mil se a ordem não fosse cumprida.

Todavia, a ordem não foi cumprida e no final de março, a juíza emitiu um parecer afirmando que o caso deveria ser transferido para a esfera do Ministério Público de Mangaratiba e não mais fosse analisado no Rio de Janeiro, já que o Resort Safari Portobello está localizado lá. Todavia, o MP de Mangaratiba recusou a transferência. Com isso, nesse momento não há juiz designado para analisar o processo.

A nova reviravolta no caso é que na terça-feira (24/05) foi protocolado na 10a Vara Federal do Rio de Janeiro um pedido de habeas corpus para as girafas, já que há um precedente de um caso similar. Em 2017, depois de 19 anos enclausurada, a chimpanzé argentina Cecília ganhou novo lar em santuário de primatas no Brasil graças a um recurso semelhante.

Quem assinou o pedido de habeas corpus para as girafas é a advogada do Fórum Nacional de Proteção Animal, uma das muitas organizações da sociedade civil envolvidas no caso e buscando o bem-estar das girafas.

Girafas presas nas baias há seis meses: elas só têm direito a um breve banho de sol por dia
(Reprodução de imagens feitas durante reportagem da Rede Globo em Mangaratiba)

Leia também:
Após 5 meses da chegada ao Brasil, girafas continuam confinadas e Bioparque omite informações e nega acesso a animais
Necropsia aponta que as três girafas do Bioparque morreram por miopatia, causada por estresse extremo
Ministério Público Federal recomenda devolução imediata de girafas importadas pelo Bioparque à África do Sul e à vida livre
Documentos de importação revelam que girafas trazidas pelo Bioparque foram retiradas da vida selvagem e adquiridas de empresa na África que comercializa animais

Imagem: montagem com reprodução documento divulgado pelo Bioparque

Comentários
guest

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
Notícias Relacionadas
Sobre o autor
PUBLICIDADE
Receba notícias por e-mail

Digite seu endereço eletrônico abaixo para receber notificações das novas publicações do Conexão Planeta.

  • PUBLICIDADE

    Mais lidas

    PUBLICIDADE