ONGs do Brasil e do exterior pedem transferência do elefante Sandro de zoológico no interior de São Paulo para santuário no Mato Grosso

O elefante asiático Sandro tem aproximadamente 50 anos. Há 40 anos vive no Zoológico Municipal Quinzinho de Barros, em Sorocaba (SP). Em 1995, o macho ganhou a companhia da fêmea Haisa, mas há dois anos ela faleceu e ele vive sozinho. Na natureza, esses animais costumam viver sempre em grupos. Apesar de os machos terem hábitos mais solitários, também costumam ser encontrados nas manadas. Nas savanas africanas, os clãs desses mamíferos podem chegar a ter até 70 indivíduos.

Mas no zoológico de Sorocaba Sandro passa seus dias solitários, num pequeno recinto e várias horas por dias, dentro de um “ambiente de contenção” – um fim de vida triste e que poderia ser diferente. Quase 40 organizações de proteção animal do Brasil, Argentina, Estados Unidos e Canadá assinaram uma declaração de apoio à transferência do animal para o Santuário de Elefantes Brasil (SEB), na Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, onde ele poderia desfrutar de uma área de mais de 1 mil hectares de natureza e com a companhia de outras sete elefantas.

O caso de Sandro já está na justiça há algum tempo. Envolve uma série de batalhas. A prefeitura e o zoológico de Sorocaba querem que ele permaneça no local (ele é uma das principais “atrações” dali). Alegam que ele está sendo bem tratado e estaria velho demais para fazer uma longa viagem até o Mato Grosso, aproximadamente 1,5 mil km. Entretanto, no mês passado, a elefanta Pocha, de 55 anos, e sua filha Guillermina, de 22 anos, percorreram 3 mil km de Mendoza até lá e chegaram bem ao santuário (leia mais aqui).

O zoológico se comprometeu a aumentar e fazer melhorias no recinto onde Sandro vive atualmente e trazer uma elefanta de outra cidade para fazer companhia a ele.

Já o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) defende a transferência dele para o Santuário de Elefantes Brasil e fez, inclusive, uma recomendação para tal, todavia, ela não foi acatada pela prefeitura de Sorocaba.

Segundo a ONG Olhar Animal, uma das principais envolvidas no caso, após a recomendação do MP ser ignorada, o promotor de justiça Jorge Alberto de Oliveira Marum ajuizou uma ação civil pública com um pedido de liminar, mas que foi negado pelo juiz Alexandre Dartanhan de Mello Guerra, da Vara da Fazenda Pública da Comarca de Sorocaba. Também não foi dado provimento ao agravo de instrumento dirigido ao Tribunal de Justiça de SP e o processo aguarda o julgamento do mérito.

Tanto a Olhar Animal como outras diversas organizações no processo que analisa a entrega de Sandro para o santuário protocolaram pedidos de habilitação no processo como amicus curiae, expressão em latim usa para designar uma instituição que fornece subsídios às decisões dos tribunais, oferecendo melhor base para avaliação de algum caso.

“Mas as solicitações para ser amicus curiae foram estranhamente negadas pelo juiz de 1ª instância. Causou ainda mais espanto aos ativistas o despacho do magistrado recusando até mesmo a solicitação do Santuário de Elefantes Brasil, diretamente envolvido no caso, para atuar como assistente na ação. Meses atrás, a Olhar Animal foi admitida como amicus curiae em um processo muito similar, que resultou na transferência da elefanta Bambi do zoo de Ribeirão Preto para o SEB, mas pela primeira vez em sua história de ativismo judicial teve uma solicitação deste tipo negada entre as várias apresentadas na justiça, mesmo juntando ao pedido inicial um importante parecer técnico. A ONG vai protocolar um recurso dirigido ao Tribunal de Justiça de SP contestando a decisão e insistindo eu sua admissão na ação civil pública, para juntar outros documentos importantes para o processo”, afirma a Olhar Animal.

Há duas petições online pedindo a transferência de Sandro para o santuário, caso você ache essa a melhor solução e queira assiná-las: esta no site da Change.org, que já conta com mais de 50 mil assinaturas, e este outro abaixo assinado organizado pelo grupo Elefantes del Sur, da Argentina.

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Foto: prefeitura de Sorocaba

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.