Onda de branqueamento de corais atinge Ilhas Maldivas

branqueamos de corais nas Ilhas Maldivas

A imagem deveria ser linda. Mas há um problema com ela. Os corais que aparecem submersos sob a água cristalina das Ilhas Maldivas deveriam ser coloridos. Mas estão brancos. Eles perderam a coloração devido às altíssimas temperaturas registradas na região, uma consequência do aquecimento da superfície da Terra, já que 93% do calor que fica preso na superfície do planeta é absorvido pelos oceanos. A consequência é o aumento da temperatura da água do mar e um impacto gigantesco sobre a fauna e flora marinhas.

O primeiro evento como este, foi registrado pelos cientistas em 1998, quando estima-se que aproximadamente 15% dos recifes de corais ao redor do mundo morreram devido ao aquecimento do oceano. Naquele ano, descobriu-se que o branqueamento dos corais foi provocado pelo El Niño, fenômeno causado pela desaceleração dos ventos alísios, que sopram na região do Equador. Sem eles, o calor se intensifica nos oceanos, já que as águas não se movimentam.

A segunda grande onda de clareamento de corais foi ocasionada novamente pelo El Niño, em 2010. Cinco anos mais tarde, a Agência Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA) confirmou que o terceiro evento deste tipo se repetia. Pesquisadores afirmam que desde então, este é o maior das últimas décadas.

Sem conseguir se adaptar com as altas temperaturas, os corais morrem. Apesar de recifes representaram menos de 0,1% da vida marinha, eles são importantíssimos para a sobrevivência de quase 25% das espécies que habitam o mar.

Os prejuízos provocados pelas temperaturas anormais foram devastadores na Austrália. Cientistas afirmam que 35% dos corais nas áreas centrais e nordeste da Grande Barreira morreram, o que significa uma das maiores tragédias ambientais do país. Como a onda de calor move-se de uma região para a outra, agora ela está no Oceano Índico. A estimativa é que este novo evento de branqueamento de corais só perca força no final de 2016.

O branqueamento dos corais na Austrália e agora, nas Maldivas, é acompanhado de perto pela The Ocean Agency, organização não-governamental que luta pela conservação dos oceanos, em parceria com XL Catlin, Google e pesquisadores da Universidade de Queensland e do NOAA. A entidade produz imagens e vídeos e os divulga para que o problema possa ser visualizado internacionalmente e ganhe a devida atenção de governos e líderes globais.

“O branqueamento que acabamos de ver nas Maldivas é simplesmente assustador”, relatou Richard Vevers, fundador da The Ocean Agency. “É muito raro ver recifes tão brancos. Eles eram saudáveis até a chegada da onda de branqueamento. O que vimos foram esqueletos branquíssimos até onde nossa visão não conseguia mais enxergar. Lindo, se não fosse pertubador”.

O atual El Niño tem sido considerado um dos mais fortes das últimas duas décadas, por isso mesmo, seu estrago sobre os corais têm sido tão devastador. “Esta é a onda de branqueamento que já durou mais tempo do que qualquer outra anterior”, alerta Mark Eakin, coordenador do NOAA Coral Reef Watch.

A previsão dos cientistas é que eventos como estes se tornem mais frequentes e severos nas próximas décadas por causa do aprisionamento de dióxido de carbono na atmosfera. Por mais que o ser humano conseguisse parar de emitir carbono agora, ainda levariam centenas de anos para que o já está acumulado fosse dispersado.

Lembrando: o dióxido de carbono é liberado pela queima de combustíveis fósseis, como gasolina, diesel, carvão e gás. A única alternativa para revertermos tragédias ambientais como o branqueamento de corais é investindo na geração de energia limpa: solar, eólica, hidráulica e biomassa.

 

Fotos: divulgação XL Catlin Seaview Survey

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.