Desde que começou a ser exibido em festivais de cinema pelo mundo, em janeiro de 2022 – foram 120 em um ano! – o documentário ‘O Território’ tem colecionado boas críticas e prêmios. Só no site Rotten Tomatoes, agregador de críticas de cinema e TV, 95% dos textos elogiam a obra. E o documentário conquistou mais de 20 prêmios internacionais.
Ontem, abocanhou mais um: durante a cerimônia do Emmy Awards 2023 – considerado o “Oscar da TV” -, em Los Angeles, EUA (no qual concorria a três indicações, como contamos aqui), venceu a categoria Mérito Excepcional em Documentário.
A festa deveria ter sido realizada em setembro, mas foi adiada devido à greve dos roteiristas de Hollywood e à paralização atores de TV e cinema.
A bela estatueta – que exibe uma mulher alada segurando um átomo – foi entregue aos protagonistas Bitate Juma, jovem Uru-Eu-Wau-Wau, e à indigenista Ivaneide Bandeira Cardozo (mais conhecida como Neidinha), ao produtor Gabriel Uchida e à produtora executiva, a líder indígena Txai Suruí (filha de Neidinha), na companhia do diretor americano Alex Pritz.
“Estou muito emocionada porque tentei não pensar se a gente ia ganhar ou não, porque pra mim já era muito importante termos sido indicados. E na hora que anunciaram que a gente ganhou, meu coração explodiu”, contou Neidinha na cerimônia, com a estatueta nas mãos.
“Estou muito feliz porque esse filme representa muito para os povos indígenas, representa muito para a nossa luta por território. Este prêmio é de vocês, povos indígenas. Vocês que estão na luta! É nosso prêmio!”, acrescentou. Em entrevista à Defensoria de Rondônia, destacou a importância do prêmio para a trajetória do cinema indígena no Brasil: “Mostra que somos capazes de produzir cinema de excelente qualidade”.
Também muito emocionada, Txai Suruí celebrou: “Ganhamos o Emmy! Não sei nem explicar esta emoção. Este Emmy é pra todos os povos indígenas do Brasil, pra toda a nossa luta, pra mostrar que a nossa voz está sendo ouvida, mostrar a importância dos nossos territórios”.
Bitate, por sua vez, lembrou de seu povo: “Ganhamos! Meu povo merece, minha comunidade, minha Associação Jupaú. Este é um trabalho que não é só meu, é nosso! Muito feliz, representando nossas lideranças, aqui. E tem mais por vir”.
Depois de um período em exibição em festivais pelo Brasil, o documentário pode ser assistido no canal Disney+ (somente para assinantes).
Está mais do que na hora de obras tão importantes como esta, que ajudam a ampliar a consciência da sociedade sobre a causa indígena, tornarem-se acessíveis do grande público e de estudantes pelo Brasil, e não ficarem restritas a quem pode pagar por conteúdo exclusivo na TV.
A história
Distribuído pela National Geographic, o longa mostra a luta incansável dos indígenas Uru-Eu-Wau-Wau, em defesa dos 11 mil km2 de seu território protegido em Rondônia, na Amazônia, contra posseiros, que reivindicam terra e grileiros (agricultores e colonos ilegais), que queimam e desmatam ilegalmente a floresta.
Durante 1h24m, o público acompanha o dia a dia corrido e perigoso de Bitate, jovem Uru-Eu-Wau-Wau que recebe a missão de ser uma nova liderança para seu povo – para lutar contra o desmatamento ilegal, queimadas, invasão e grilagem -, e sua mentora Neidinha, ativista e coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental – Kanindé.
Em uma das cenas (foto abaixo), Bitaté lidera fiscalização dentro da terra indígena e flagra homem armado, suspeito de invasão. Durante a abordagem, que aconteceu em 2020, os indígenas passaram álcool em gel em suas mãos e o obrigaram a usar máscara. Na época, a pandemia de covid-19 estava no auge.
Ao longo da narrativa, fica clara a vulnerabilidadeda família de Neidinha devido ao ativismo desta mulher de coragem que denuncia crimes ambientais de forma incessante.
O líder Ari Uru-Eu-Wau-Wau(foto abaixo)participou do início das filmagens, mas morreu numa emboscada em abril de 2020. Ele era amigo de infância de Txai Suruí (ela falou dele em seu discurso na Cúpula da conferência do clima de 2021) e muito querido por Neidinha.
Ari fazia parte do grupo de monitoramento (guardiões da floresta) de seu povo e registrava e denunciava extrações ilegais de madeira dentro da aldeia.
Prêmios
Desde seu lançamento com a participação no primeiro festival, em Sundance, ‘O Território’ tem recebido diversas indicações a prêmios internacionais.
De acordo com o canal NatGeo, detentor dos direitos visuais do filme, ele talvez seja “um dos documentários mais condecorados de 2022”.
Já em janeiro desse ano, no Sundance Film Festival, nos Estados Unidos, ‘faturou’ dois prêmios: Melhor Documentário do Mundo (voto popular)e Prêmio Especial do Júri para Obra Documental.
No CPH:Dox, em Copenhague, na Dinamarca, o maior festival de documentários do mundo, recebeu menção especial do júri, em março, enquanto seguia concorrendo em quase 30 outros festivais de cinema pelo mundo e, tanto os protagonistas como os integrantes da equipe, se espalhavam para dar conta.
No mês seguinte, veio a premiação como Documentário Ativista no Festival Internacional ‘Filmes que Importam’ (Movies that Matter Festival), em Haia, na Holanda.
A seguir, assista ao trailer de ‘O Território’:
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Fotos: reprodução das redes e divulgação