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O gigante acorda

escultura gigante de isopor

Tão branquinho, tão macio, tão leve, tão bom para preservar o calor, o frio… Uma invenção dessas de tirar o chapéu, diriam… Mas soluções que parecem fáceis, em geral, podem se tornar problemas gigantes… Como um gigante furioso, que rasga o solo e se levanta, acordado pelas mãos do artista húngaro Hervé-Loránth Ervin. A obra fatalmente não existiria se o isopor não tivesse sido descoberto em 1949.

A humanidade aplaudiu a inauguração de um festival de embalagens industriais, como caixas térmicas, porta-gelo, copos, pratos, marmitex e aquelas bandejas para carne com furinhos cheios de sangue… Arg… Para limpar isso e jogar no lixo reciclável, o que, aliás, tem muita gente que não faz, é uma mão-de-obra, cercada de litros de água por todos os lados.

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Dá para dizer que o isopor não é biodegradável (demora 150 anos para sumir), mas é 100% reciclável. Porém, para que a reciclagem seja completa é necessário que esteja totalmente limpo.  Puxa uma cadeira, senta e pega essa empreitada.  Conforto civilizatório, homem-cadeira!  Ser-objeto.  Utilidade, fins e forma.  Sem espaço para os meios, o caminho e o conteúdo.

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Consequência desenvolvimentista que corre atrás da facilidade. Ainda que fosse mais fácil limpar (voltando lá às bandejinhas sanguinolentas), há que se levar em conta a dificuldade das cooperativas de lixo. O transporte e armazenamento são complicados. Embora o produto seja leve, ocupa muito espaço e enche fácil, fácil uma banheira dessas. E o preço é baixo em relação a outros materiais recicláveis.

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Além de Curitiba e São Paulo, existem poucas cidades no país que reciclam o isopor. Dados do instituto Plastivida Instituto Sócioambiental dos Plásticos apontam que, em 2008, foram produzidos no Brasil 82,9 mil toneladas de poliestireno, o milagroso isopor.  Só sete mil toneladas – 8,4% – foram recicladas. Menos de 10%.

O resto do isopor se espalha por aí entre nossos corpos e outros vãos. Vai parar nos lixões e n o mar… Imagina… Os animais confundem com alimento. E, nós, que comemos os bichos também podemos nos contaminar. Caímos num redemoinho.

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Esquartejados, feito filé na bandeja. O isopor age como uma pequena esponja poluente e absorve os compostos que mais contaminam o oceano.

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Mãos e pés insistem em fugir da constatação óbvia. Querem se esconder como raízes sorrateiras enquadradas nos ângulos arquitetônicos que justificam a utilização do isopor na construção civil como material isolante, em projetos mais econômicos.

A maior economia do mundo, mais populosa, com grande crescimento anual, afunda-se em lixo. 300 milhões de toneladas de resíduos por ano são produzidos pelos chineses da nova China, pintada por Hervé.

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Muitas cidades no mundo já baniram o isopor, pelo grande volume de lixo gerado. Há uma estimativa de que, apenas nos Estados Unidos, 25 bilhões de copos de café de isopor são jogados no lixo em um ano. Só para comparar: lá 100 bilhões de sacolas plásticas são descartadas anualmente.

Em 70 cidades nos Estados Unidos, incluindo Nova York, Washington, São Francisco (como mostramos neste post aqui, no Conexão Planeta) e Seattle, já foi proibido o isopor para acondicionar qualquer tipo de alimento, como o cachorro-quente e diversos tipos de comidas de rua.

No Brasil, esse gigante sonolento dos trópicos (meio dormindo, meio acordado), está em tramitação um projeto de lei, desde 2015, que dispõe sobre a proibição de embalagens de espuma de poliestireno para acondicionamento de alimentos e bebidas em todos os estabelecimentos comerciais do país. Mas, como tudo relacionado ao meio ambiente, vai demorar a ser analisado. Aparentemente, o assunto não é prioritário para os nossos políticos… Eles preferem se esconder atrás do negócio lucrativo das embalagens.

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Agradeço a bióloga, doutora em bioquímica pela UFRJ, Luz Alba Maria Garcete Fornells, que me deu consultoria e reuniu informações para que eu pudesse escrever esse post.

Obras (site do artista): 1. Feltépve – Ripped up / 2. Corpus humanicus / 3. Corpus humanicus/ 4. Chanson/5. Arquivo/6. Arquivo/7. Neochina/8. Neochina.

Em tempo: das esculturas de Hervé, só o gigante é de isopor. Escrevi para ele, perguntando o que foi feito com a obra, depois de retirada do local, mas ele não respondeu, não… É um material tão frágil! Fico imaginando se foi possível desmontar e guardar, se está montada em outro baita espaço ou se foi para a reciclagem.

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