O genial arquiteto e paisagista Burle Marx inspira a maior exposição do Jardim Botânico de Nova York

Desde 8 de junho – e até 29  de setembro – o Jardim Botânico de Nova York, no Bronx, abriga a maior exposição já realizada em seu espaço em 128 anos de existência, inspirada na genialidade do arquiteto e paisagista brasileiro Roberto Burle Max. O curador e os organizadores trabalharam durante três anos para apresentar Moderno Brasileiro: A Arte Vida de Roberto Burle Marx naquele que é considerado o maior jardim botânico urbano dos Estados Unidos

Paulistano de nascimento, carioca de coração, foi ele quem fez o paisagismo do Aterro do Flamengo e criou os desenhos de linhas sinuosas que tornou famosa a calçada de Copacabana (fotos abaixo). Ambos de uma beleza inegável. Também são de sua autoria os jardins do Instituto Moreira Salles, no Rio, da OEA, em Washington, da sede da Unesco, em Paris e da sede original do MEC no Rio de Janeiro, que envolve a obra de Oscar Niemeyer. Na verdade, têm a sua assinatura cerca de três mil jardins públicos e privados pelo mundo. E, sim, Brasília é um cartão postal de Burle Marx: Itamaraty, o Congresso Nacional e todos os palácios e edifícios que abrigam os ministérios têm sua marca registrada. 

Depois de morar um ano na Alemanha, não voltou a São Paulo. Foi direto para a cidade maravilhosa que, naquele tempo, se rendia aos jardins franceses, simétricos, com plantas importadas, que o incomodaram. Amou o Rio, assim mesmo, e decidiu dar início a um movimento contra esse desperdício de talento e de natureza, tornando-se defensor aguerrido da flora brasileira. Se embrenhou pelas florestas para se familiarizar com as inúmeras espécies existentes. Conheceu exemplares raros e antes nunca explorados pelos cientistas. 

Comprou um antigo engenho na zona oeste da cidade, que transformou em sítio e onde passou a morar a partir de 1972. A casa foi transformada por sua inquietude: revestida com azulejos azuis, tapeçarias e telas que pintou. Sim, ele era um pintor e tanto! Nos anos 20, estudou pintura com Leo Putz, na Escola Nacional de Belas Artes, e, nos anos 30, com Cândido Portinari, na UFRJ. E os jardins do sítio? Com o conhecimento adquirido ao desbravar florestas, transformou-os numa incrível coleção de espécies tropicais: cerca de 3500 plantas nativas, onde a curadoria da exposição em Nova York pode se inspirar. 

Depois de sua morte, a administração do sítio ficou a cargo da prefeitura, que o abriu à visitação pública. Um passeio rico e imperdível.  

Tropicalismo moderno

Curadores e horticultores – sob a coordenação de Carrie Rebora Barratta, diretora do Jardim Botânico do Bronx, levaram três anos para pesquisar e reconstruir alguns de seus mais marcantes projetos. E, por isso, a exposição é uma linda homenagem aos 60 anos de carreira do mais respeitado paisagista e arquiteto do século XX.

A explosão de cores e de arranjos de seus jardins é traduzida por mais de 80 espécies de plantas tropicais. Algumas têm origem na Flórida. Outras, oriundas do Brasil, ficaram guardadas em estufas para esperar a chegada da primavera, quando as temperaturas sobem um pouco mais e ficam próximas das do nosso país. 

As formas modernistas estão presentes na composição dos jardins, nos passeios que levam os visitantes a se perder neles, como também nos quadros de sua autoria.

O paisagista Raymond Jungles, que foi aluno de Marx, criou o Jardim Modernista (Modernist Garden) inspirado na parede de concreto feita em 1983 no interior da sede do Banco Safra, na capital paulistana. Para enfeitá-la, lá estão o chão de linhas sinuosas do calçadão de Copacabana, além de plantas muito brasileiras, parte vinda da Flórida, como já sinalizei: bromélias, orelhas-de-elefante e palmeiras, entre outras. 

A Biblioteca (Library Building) é um capítulo especial da mostra no Bronx. Construída em 1899, ela fica na entrada do Jardim Botânico e abriga o maior arquivo de botânica e horticultura do continente americano. Para uma de suas galerias, foram levadas pinturas em tela e tecido, como também tapeçarias de Marx, sendo que uma delas tem três metros, foi confeccionada no inicio dos anos 70 e cedida pelo Art Institute of Chicago

Particularidades de sua casa também dão o tom à exposição. Ainda no prédio da biblioteca, o interior da casa de Marx é reproduzido em uma grande sala. Sobre uma mesa enorme, lápis em tons de azul e papéis brancos convidam os visitantes a criarem “novos azulejos” para o ambiente. Cada “obra” é depois colada na parede para formar um lindo mosaico. Para completar a ambiência, uma imensa foto de Burle Marx, tirada no sítio.

Um trabalho tão belo e minucioso, como a exposição Moderno Brasileiro: A Arte Vida de Roberto Burle Marx obviamente conta com patrocínios potentes: são 20 apoiadores, entre eles a empresa brasileira de cosméticos Naturae a organização americana Bloomberg Philantropies, criada pelo ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg.  

O mestre em outras exposições

Esta não é a primeira vez que Burle Marx é homenageado de forma tão significativa na cidade. Em 1943, o MoMa – Museu de Arte Moderna de Nova York organizou a mostra Edifícios do Brasil: Nova e Velha Arquitetura, de 1652 a 1942 (Brazil Builds: Architecture New and Old, 1652-1942), na qual incluiu fotos de projetos de Burle Marx como o da Fazenda Garcia, em Petrópolis, e a Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte.

Em 2016, foi a vez do Jewish Museum exibir mais de 150 trabalhos dele – fotos, maquetes, sketches, tapeçarias e jóias – em sua galeria principal. Entre as imagens, destaque para o Aterro do Flamengo e uma sinagoga carioca. 

Fotos: Divulgação/New York Botanical Garden

Deixe uma resposta

Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.