Esta semana o consultor da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Lucas Mendes, fez um flagrante lindo. Durante um trabalho em campo de monitoramento, ele registrou a presença de três filhotinhos de papagaios-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis) dentro de um ninho artificial na Área de Proteção Ambiental (APA) de Ilha Comprida, no litoral de São Paulo (assista ao vídeo no final deste texto).
“Estamos no período de reprodução da espécie, que inicia na primavera e vai até fevereiro ou março”, relatou a SPVS em suas redes sociais.
A equipe da entidade explica que geralmente a fêmea do papagaio-de-cara-roxa coloca de dois a três ovos, podendo chegar a até quatro. “Os filhotes permanecem no ninho, sob os cuidados intensivos dos pais, por quase dois meses, quando já estão crescidos o suficiente para voar Mata Atlântica adentro”.
A Amazona brasiliensis é uma espécie rara, endêmica da Mata Atlântica e do Brasil, ou seja, só existe aqui e em nenhum outro lugar do mundo. Essas aves vivem em uma estreita faixa que se estende do litoral sul paulista ao extremo norte de Santa Catarina, passando por toda a costa do Paraná, onde se encontra quase 80% de sua população.
Até 2017, os papagaios-de-cara-roxa eram considerados vulneráveis à extinção pela Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). Graças à atuação da SPVS e do Projeto de Conservação do Papagaio-de-Cara-Roxa, eles foram retirados da lista.
Com cerca de 35 cm de comprimento, esse papagaio tem uma plumagem predominantemente verde, testa e loros vermelhos, vértice e garganta arroxeados e as laterais da cabeça azuis. A cauda tem a ponta amarelo-esverdeada e uma faixa vermelha.
Em geral, essas aves formam casais que se mantêm unidos durante um longo tempo e, muitas vezes, por toda a vida. Quando em voo, seu som é inconfundível, algo como “kli-kli; kra-kra”, que é repetido por todo o bando.
O papagaio-da-cara-roxa, espécie endêmica da Mata Atlântica,
observada entre florestas dos litorais sul de São Paulo e do Paraná
(Foto: Zig Koch/SPVS)
Ninhos artificiais: aliados dos papagaios-de-cara-roxa
Como já contamos nessa outra reportagem do Conexão Planeta, assim como outras espécies de papagaios, o da-cara-roxa faz seus ninhos nos ocos de árvores altas, preferindo as palmeiras. Além disso, os casais costumam usar sempre o mesmo local para reprodução. Todavia, com o desmatamento e a perda de habitat, nas últimas décadas diversos projetos de conservação têm dado uma “mãozinha” a eles, com a instalação de ninhos artificiais.
Esses ninhos são essenciais a ponto de existirem regiões que, se os papagaios não puderem contar com o eles, precisam se deslocar para áreas muito distantes e correm o risco de perder o período reprodutivo da espécie, acabar ocupando uma cavidade natural não apropriada, perdendo os filhotes ou até, morrer procurando um ninho natural.
O projeto de monitoramento dos ninhos é realizado pela Fundação Florestal de São Paulo, em parceria
com a SPVS.
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Foto de abertura: Lucas Mendes