‘Não tem jogo sem demarcação!’ Campanha do Esporte Clube Bahia homenageia lideranças indígenas e apoia demarcação de terras

Desde o final do ano passado, o Esporte Clube Bahia vem abraçando causas e introduzindo temas importantes da atualidade em seus jogos e nas redes sociais. Foi assim em novembro, mês da Consciência Negra, quando desfilou em suas camisetas nomes de negros notáveis como Zumbi, Mestre Môa do Katendê (que havia acabado de ser assassinado durante as eleições) e Mãe Menininha do Gantois, entre outros. Foi assim, também, no Carnaval, quando selecionou alguns nomes que representariam o povo que torna essa festa uma das mais lindas do país.

O Esquadrão de Aço ou Bahêa, como também é chamado carinhosamente pelos torcedores, já protestou contra intolerância religiosa, levantou bandeira contra a homofobia, bradou sobre os direitos das mulheres, inclusive de ir e vir com liberdade e segurança dos jogos de futebol. E agora, na semana do Dia do Índio, 19/4, faz homenagem aos povos indígenas com a campanha Não tem jogo sem demarcação!, lançada ontem, 16, pelas redes sociais.

O filme – que leva o mesmo nome da campanha -, simula a preparação de jogadores para entrada em campo. No lugar dos jogadores, estão 12 indígenas Pataxó, que se paramentam como se fossem para um jogo ou um ritual – com camisetas usadas nos jogos e cocares e outros adereços, saias de palha, pinturas de guerreiros, tênis e meias.

Enfileirados, seguem como os jogadores fazem em direção ao campo, mas vão cantando e chacoalhando maracas. Levam a bola também. No lugar do campo de futebol em um estádio, eles aparecem em uma aldeia, em suas terras (os indigenas amam futebol, mulheres e homens, por isso é comum ter um campo de futebol na aldeia). Lá, encontram um juiz. E marcam o campo para jogar.

Na narração, o indígena Taquari Pataxó diz:

“Nossa partida é a nossa luta.
Nossas vidas estão em disputa.
É preciso cumprir a regra.
Sem demarcação, não tem jogo”.

Muito lindo e tocante. Metafórico e fácil de entender. O vídeo está sendo divulgado pelas redes sociais do Clube durante o mês de abril. E você pode assisti-lo, logo abaixo, neste post.

Fazem parte da campanha as camisetas produzidas especialmente para os jogos de amanhã, 18/4, contra o Londrina (pela Copa do Brasil), e de domingo, 20/4, contra Bahia da Feira (final do campeonato baiano), ambos no estádio Fonte Nova, em Salvador. Nelas, estão estampados os nomes de 46 lideranças indígenas do passado e da atualidade.

No primeiro jogo, entre as lideranças do passado estão: Crispim de Leão, cacique da tribo Sateré Mawé, que morreu em combate na revolta da Cabanagem, no século XIX; Cunhambebe, líder dos Tupinambá do Rio de Janeiro e São Paulo, que liderou a Confederação dos Tamoios; Mané Garrincha, que era descendente dos Fulniôs, de Pernambuco; Mário Juruna, cacique Xavante que se tornou o primeiro deputado federal indígena em 1983; e Galdino Pataxó, queimado vivo por jovens da elite, em Brasília, no final dos anos 90.

No segundo jogo, entre as lideranças da atualidade, estão Sonia Guajajara, coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), que foi candidata à vice-presidência pelo PSOL, com Guilherme Boulos; Davi Yanomami, xamã que lutou pela demarcação de suas terras, obtida em 1992, e é co-autor do livro A Queda do Céu, que testemunha a destruição das Amazônia e dos povos indígenas; Raoni Metuktire, cacique Kayapó, o mais famoso ativista em defesa da Amazônia e de seus povos, também por suas andanças com o cantor britânico Sting, nos anos 80; e Joenia Wapichana, primeira advogada e deputada federal indígena do Brasil, que, no ano passado, recebeu prêmio de Direitos Humanos da ONU e Tuíra Kayapó, guerreira que ficou célebre quando, em 1989, numa audiência sobre projetos de hidrelétricas no rio Xingu, brandiu seu facão diante do presidente da Eletronorte e disse: “Sua eletricidade não vai nos dar a nossa comida. Precisamos que nossos rios fluam livres!”. O projeto foi adiado por 20 anos e amplamente reformulado.

Agora, fique com o vídeo protagonizado pelos indígenas Brenda, Cicilia, Dandara, Deivide, Hemerson, Hiorrana, Juliana, Júnior, Nataly, Samêhy e Taquari Pataxó, além de Tsayra Kramuhuá.

Em seguida, dê uma olhada na lista completa de indígenas homenageados pelo Esquadrão de Aço.


Jogo 1 – guerreiros/as da História do Brasil

AJURICABA (século XVIII)
Líder dos Manao do Rio Negro, resistiu às “tropas de resgate” escravizadoras de indígenas no Amazonas, onde hoje é considerado herói e a capital do Estado leva o nome do seu povo.
ÂNGELO KRETÃ (1942 – 1980)
Cacique kaingáng no Paraná,  foi o primeiro vereador indígena no Brasil, eleito em 1976. Sua luta em defesa da Terra Indígena Mangueirinha garantiu que essa conserve hoje a maior reserva existente do pinheiro araucária. Foi morto criminosamente, em uma colisão provocada.
ÂNGELO XAVIER (?-1979)
Primeiro cacique dos Pankararé do Raso da Catarina (Bahia), nos tempos modernos, retornou de São Paulo para “levantar a aldeia” do seu povo, resgatando os rituais sagrados e a luta pela terra. Foi assassinado em uma emboscada.
BAHETÁ (?-1992)
Última sobrevivente do último bando indígena contatado ainda em liberdade nas matas do sul da Bahia, na década de 1930, conservou sozinha o conhecimento de sua língua até que ela pudesse ser registrada em 1982 na cartilha “Lições de Bahetá”, ensinada hoje nas escolas do seu povo, os Pataxó Hã-Hã-Hãe.
CABOCLO MARCELINO (1896 – 1937)

Líder da resistência dos Tupinambá de Olivença (Bahia), quando suas terras foram invadidas pelos coronéis do cacau nas décadas de 1920 e 1930, desapareceu após ter sido várias vezes preso e perseguido e é hoje um espírito “encantado” que segue inspirando as lutas do seu povo.
CRISPIM DE LEÃO (século XIX)
Líder indígena da revolução da Cabanagem, atacou e incendiou, com os guerreiros do seu povo Sateré-Mawé, embarcações e redutos oficiais no rio Madeira (Amazonas), vindo a morrer como herói, em combate.
CUNHAMBEBE (1510 – 1555)
Líder dos Tupinambá do litoral do Rio de Janeiro e de São Paulo, articulou e comandou, ainda no século XVI, a Confederação dos Tamoios, primeira grande aliança de povos indígenas para resistir à colonização portuguesa no Brasil.
DADÁ (1915 – 1994)
Pankararé, deixou sua aldeia ainda adolescente para se tornar esposa do célebre Corisco, vivendo com ele os últimos episódios do cangaço, até a morte desse numa emboscada em 1940. Depois de presa e libertada, dedicou sua vida a outra dura batalha, afinal vitoriosa, pelo respeito e sepultamento digno dos restos mortais dos cangaceiros.
FRANCISCO RODELAS (século XVII)
Primeiro cacique da aldeia missionária de Rodelas, aldeia-mãe do povo Tuxá (Bahia), comandou – como capitão – 200 guerreiros indígenas do Rio São Francisco, que combateram e venceram os holandeses em Alagoas, em 1639.
JOÃO BAETINGA (1804 – 1857)
Líder da longa e obstinada resistência dos Kariri e Sapuyá das aldeias da Pedra Branca (Bahia) à invasão de suas terras, em meados do século XIX, é reconhecido como exemplo de protagonismo dos indígenas brasileiros em uma difícil época de sua história.
JOSEFA PATAXÓ (-)
Recebeu do cacique Epifânio, seu pai, a missão de defender a Terra Barra Velha do Monte Pascoal (Porto Seguro, Bahia) da criação de um Parque Nacional, em 1961. Mesmo várias vezes detida pela guarda florestal, jamais deixou a aldeia. Sua Terra está hoje reconhecida como de posse tradicional dos Pataxó.
MANDU LADINO (século XVIII)
Líder da revolta que ficou conhecida com seu nome, reuniu várias nações indígenas do Piauí contra a invasão da pecuária nessa capitania no século XVIII. Arrasou fazendas, libertou indígenas escravizados e morreu em combate.
MANÉ GARRINCHA (1933 – 1983)
“O anjo de pernas tortas”, considerado o maior driblador de todos os tempos, bicampeão mundial pelo Brasil em 1958 e 1962, era de uma família de indígenas Fulni-ô migrados de Pernambuco para a Baixada Fluminense, onde nasceu. É reverenciado hoje pelo seu povo como “a flecha fulni-ô.” MANUEL QUADRADO (século XIX)
Médico do arraial de Canudos, “tratador” pessoal da saúde de Antonio Conselheiro, era indígena Tuxá da aldeia de Rodelas (Bahia). Euclides da Cunha o descreve como “um tipo adorável, vivendo num investigar perene pelas drogarias primitivas das matas”. Foi também comandante militar.
MARÇAL TUPÃ-Y (1920 – 1983)
Professor e profissional de saúde do povo Guarani Ñandeva, foi pioneiro em denunciar a expropriação das Terras do seu povo por fazendeiros e, nesse sentido, discursou ao Papa João Paulo II em sua visita ao Brasil em 1980. foi assassinado por pistoleiros em sua aldeia, Campestre, Mato Grosso do Sul.
MARIA VENÂNCIA –
Guardiã dos cantos sagrados do ritual Torém do povo Tremembé (Ceará), seus conhecimentos e sua liderança foram fundamentais no processo de reorganização e luta do seu povo ao final do século XX.
MÁRIO JURUNA (1942 – 2002)
Cacique Xavante de Mato Grosso, ficou célebre ao usar gravador para registrar e cobrar as promessas dos poderosos de Brasília. Como o mais prestigiado líder indígena de sua época, elegeu-se em 1982 o primeiro deputado federal indígena do país, tendo sido responsável pela criação da Comissão Permanente do Índio no Congresso Nacional.
PEDRO POTY (1608 – 1652)
Cacique Potiguara da Paraíba, firmou paz com os holandeses garantindo a liberdade do seu povo. Alfabetizado, escreveu as primeiras cartas conhecidas de um indígena no Brasil. Capturado pelos portugueses em Guararapes, em 1649, foi brutalmente torturado por esses antes de morrer a caminho de Portugal, onde só então seria julgado.
ROSALINO XAKRIABÁ (1944 – 1987)
Vice-cacique Xacriabá assassinado com mais dois indígenas em cerco à sua casa, na madrugada de 11 de janeiro de 1987, na chacina que foi o primeiro caso julgado como “crime de genocídio” no Brasil. Hoje a Terra Xakriabá está demarcada. Um dos seus filhos é o cacique do seu povo e outro é o prefeito do seu município (São João das Missões, Minas Gerais).
SAMADO SANTOS (1918 – 1998)
Líder da única família indígena que, ao longo de 40 anos, jamais deixou a Terra Caramuru-Paraguaçu (Bahia), mesmo quando totalmente invadida por fazendas. Quando a questão foi enfim julgada em favor dos Pataxó Hã-Hã-Hãe no Supremo, em 2012, muitos vestiam camisas com sua foto e sua frase: “Sirvo até de adubo para essa Terra, mas dela não saio.”
SEBEREBA ARICOBÉ (1895-1955)
Cacique dos Aricobé da aldeia Missão (Bahia), que liderou a resistência desse povo a ataques dos coronéis da cidade de Angical e mesmo da polícia. Após 3 anos, precisou empreender uma astuciosa fuga. Gente dos Aricobé ainda vive hoje na região.
SEPÉ TIARAJU (1723 – 1756)
Chefe dos 50 mil Guarani que resistiram ao Tratado de Madri, que determinara o fim de suas comunidades. Antes da batalha em que tombaria morto, proferiu o famoso brado “Esta terra tem dono!”. Seu corpo não foi encontrado e crê-se que tenha subido aos céus. É tido hoje como um santo popular no Rio Grande do Sul, o São Sepé.
VITORINO CONDÁ (1805 – 1870)
Líder dos Kaingáng de Paraná e Santa Catarina, comandou a resistência do seu povo à invasão dos bandeirantes. Ao final, firmou a paz com esses para garantir a vida dos seus. É hoje nome da principal aldeia kaingáng na Terra Indígena Xapecó e inspira o nome da arena e o mascote da Associação Chapecoense de Futebol, o “Índio Condá”.

Jogo 2 – lideranças de hoje

ARMANDO APAKO (1932)
Herdeiro do avô João Gomes como pajé do povo Tuxá, é hoje o mais importante guia espiritual indígena do vale do São Francisco. Sustentou espiritualmente o seu povo mesmo diante da dolorosa perda do seu território sagrado na Ilha da Viúva (Rodelas, Bahia), inundado pela hidrelétrica de Itaparica, na década de 1980.BABAU TUPINAMBÁ (1974)
Cacique da aldeia tupinambá da Serra do Padeiro (Bahia), lidera hoje o mais notável processo de retomada de Terras tradicionais e de geração de autonomia política e econômica indígenas em todo o Nordeste. Recebeu em 2018 a comenda 2 de Julho da Assembleia Legislativa da Bahia.
CEIÇA PITAGUARY (1978)
Líder do povo Pitaguary do Ceará desde jovem, foi a primeira coordenadora do Departamento de Mulheres da Apoinme (Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo) e se destaca hoje na defesa da demarcação e do meio ambiente do pequeno território do seu povo.
DANIEL CABIXI (morreu em 2017)
Professor pareci pioneiro em iniciativas de promoção da educação indígena específica e diferenciada – como estudioso do ecossistema em que vive o seu povo, entre a Amazônia e o Cerrado -, destacou-se na Eco 92 (Conferência Mundial da ONU sobre Meio Ambiente) com estudos pioneiros sobre biodiversidade e farmacologia indígena.
DAVI YANOMAMI (1956)
Xamã, líder e escritor do povo Yanomami (Amazonas), lutou pela demarcação de sua Terra, obtida em 1992. Recebeu o prêmio ambiental Global 500 da ONU e é coautor de “A Queda do Céu”, testemunho xamânico que denuncia a destruição da Amazônia e as ameaças aos seus povos.
EUNICE KEREXU (1979)
Professora e uma das primeiras mulheres caciques dos Guarani, luta pela demarcação de sua Terra Indígena Morro dos Cavalos, em Santa Catarina, contrariando  interesses poderosos e recebendo ameaças e ataques à sua comunidade. É hoje uma das principais lideranças femininas indígenas no país.
GALDINO PATAXÓ (1950 – 1997)
Representante dos Pataxó Hã-Hã-Hãe (Bahia), queimado e morto em abril de 1997 por jovens da elite, quando dormia ao relento em Brasília, onde estava para tentar encaminhar demanda de seu povo na Justiça Federal. Seu assassinato causou comoção nacional e trouxe atenção para os descasos nos processos em defesa de Terras Indígenas no país.
GERSEM BANIWA (1964)
Antropólogo e professor na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), foi coordenador de Educação Escolar Indígena do MEC, quando contribuiu para a consolidação da política pública de educação indígena específica e diferenciada. Do povo Baniwa do Rio Negro(Amazonas), é hoje um dos principais intelectuais e ativistas indígenas no país.
JOEL BRAZ (1960)
Cacique e articulador da Frente de Resistência e Luta Pataxó, liderou retomadas na Terra Indígena Barra Velha do Monte Pascoal, hoje reconhecida de posse tradicional indígena. Injustamente indiciado por assassinato de um pistoleiro, ficou 11 anos em prisão domiciliar até ser julgado e absolvido em 2017. É referência de luta para o povo Pataxó.
JOÊNIA WAPICHANA (1974)
Primeira advogada indígena no Brasil, atuou em 2009 no Supremo Tribunal Federal no vitorioso processo em defesa da demarcação da Terra Indígena Raposa-Serra do Sol, em que vive parte do seu povo Wapichana. Em 2018, recebeu o prêmio de Direitos Humanos da ONU e foi eleita por seu Estado, Roraima, a primeira deputada  federal indígena no Brasil.
LÁZARO KIRIRI (1940)
Cacique dos Kiriri (Bahia) desde 1972, protagonizou desde 1979 a primeira autodemarcação e as primeiras retomadas como formas de luta pela recuperação de Terras Indígenas no Nordeste. A situação garantiu que a Terra Kiriri se tornasse, em 1981, a primeira a ser demarcada em toda a região, na qual é hoje o cacique há mais tempo no cargo.
MAIKELE TUPINAMBÁ (2001)
Coordenadora do grupo de jovens dos Tupinambá da Serra do Padeiro, é ativista do projeto Cunhataí Ikhã para promoção da educação de meninas indígenas. A ação em parceria com a Anaí (Associação Nacional de Ação Indigenista) tem apoio da ativista paquistanesa Malala Yousafzai, com quem conversou em sua visita à Bahia em 2018. Em 2019, iniciou o curso de Direito na Uesc (Universidade Estadual de Santa Cruz).
MANINHA (1965 – 2006)
“Guerreira, intelectual e feminista” do povo Xukuru-Kariri (Alagoas). Em 1995, foi uma das fundadoras da Apoinme (Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo) e exerceu a coordenação-geral da instituição, tendo importante papel ao trazer para o movimento indígena as pautas das mulheres. Faleceu precocemente. 
MARIA LEUSA (1986)
Líder das guerreiras do povo Munduruku do alto rio Tapajós (Pará), luta contra garimpos ilegais e projetos de usinas que ameaçam destruir sítios sagrados do seu povo. Recebeu em 2015, em Paris, o Prêmio Equador da ONU pelo protagonismo do seu povo contra as usinas, “uma ação de sucesso proeminente na promoção de soluções sustentáveis”.
MAROTO KAIMBÉ
Cacique do povo Kaimbé da Terra Indígena Maçacará (Bahia), conduziu da década de 1970 à de 1990 a luta pela demarcação da Terra do seu povo, mesmo sofrendo ameaças e enfrentando poderosos grileiros.
NIVALDA AMOTARA (1931 – 2018)
Descendente de importante família de líderes dos Tupinambá de Olivença (Bahia), teve papel destacado na mobilização do seu povo pelo reconhecimento étnico como indígena. Na condição de agente da Pastoral da Criança, na década de 1990, conheceu praticamente cada família de uma das mais de vinte comunidades dos Tupinambá. 
PEQUENA (1945)
Tida como uma das primeiras mulheres caciques no Brasil, conduziu a luta do seu povo Jenipapo-Kanindé (Ceará) pelos reconhecimentos étnico e de sua terra, Lagoa da Encantada, como de posse tradicional indígena, garantida em 2011. 
QUITÉRIA BINGA (1928 – 2009)
Uma das primeiras lideranças femininas indígenas do Brasil, conhecida internacionalmente por sua luta pela demarcação das Terras do seu povo, os Pankararu de Pernambuco, e também por educação e saúde indígenas. Parteira, foi responsável pela criação da primeira casa de parto e da primeira creche em Terras Indígenas no país.
RAONI METUKTIRE (1930)
Cacique Kayapó, mundialmente conhecido em defesa da Terra Indígena Xingu, desde os anos 1970. Em 1989, criou com o cantor britânico Sting a Rain Forest Fundation, que levantou fundos para a demarcação da Terra Indígena Kayapó e o tornou, ainda hoje, o mais conhecido ativista em defesa da Amazônia e de seus povos indígenas.
SÔNIA GUAJAJARA (1974)
Do povo Guajajara do Maranhão, com vasta carreira de direção em organizações indígenas brasileiras, é hoje coordenadora-geral da mais importante delas, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Em 2018, foi a primeira indígena a concorrer, como vice, numa chapa à Presidência da República.
TUÍRA KAYAPÓ
Guerreira do povo Kayapó (Pará), ficou célebre quando, em 1989, numa audiência sobre projetos de hidrelétricas no rio Xingu, brandiu seu facão diante do presidente da Eletronorte e discursou: “Sua eletricidade não vai nos dar a nossa comida. Precisamos que nossos rios fluam livres!” O projeto foi adiado por 20 anos e amplamente reformulado.
VALDELICE VERÓN (1978)
Herdou de seu pai, o cacique Marcos Verón, assassinato em 2003, a missão de lutar pela demarcação das Terras do povo Guarani (Mato Grosso do Sul), denunciando os mais de 300 guaranis mortos nos últimos anos.
XICÃO XUKURU (1950 – 1998)
Tornou-se cacique dos Xukuru (Pernambuco), em 1989. Organizou seu povo e liderou as bem sucedidas retomadas de sua Terra, afinal demarcada em 1995, antes de ser assassinado. Em seu funeral, a viúva Dona Zenilda discursou: “Ele não vai ser enterrado. Ele vai ser plantado, para que dele nasçam novos guerreiros, minha Mãe Natureza!”.

Foto: Divulgação

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.