Na natureza, as crianças e a intuição são bons guias para os adultos

Nas caminhadas dos encontros Ser Bebê é Natural, que realizamos periodicamente com o nosso projeto, encontramos muitos materiais, resíduos e seres diferentes, o tempo todo. Vemos folhas de todos os tipos, tamanhos, cores, texturas. Tem aranhas, teias e, em algumas épocas, elas formam grandes comunidades pelos parques. Tem cipó, tem joaninha, tem semente. Em cada canto, há milhares de possibilidades, especialmente para os bebês que estão atentos a tudo nessas primeiras experiências com a natureza. O que vemos e percebemos depende de nós e da nossa conexão com o espaço naquele momento.

Existe, ainda, a oportunidade de imaginar e criar. Estar imerso nessa conexão com a natureza é, também, perceber as possibilidades que existem no ambiente.

Em uma das vivências que realizamos em um parque paulistano, entre uma árvore bem grande, raízes bem grandes e o som das gotas da noite anterior caindo das folhas para o solo, encontramos um buraco recém feito (provavelmente pela manutenção local). Ao lado, havia alguns pedacinhos de terra, num tom marrom amarelado. Podiam ser apenas pedacinhos de terra, mas vimos ali muitas possibilidades. Adicionamos um pouco de água e as crianças se aproximaram para olhar o que estava acontecendo. Na mão, o punhado de terra foi se misturando com a água e se transformando. Mudou a consistência e, um pouco, sua cor. Barro.

Caíram gotas coloridas. Mudou a forma – para a forma que a gente queria! Logo demos origem a muitas brincadeiras. Virou tinta pra pintar o corpo, virou brinquedo, virou varinha mágica, virou bolo de aniversário e cara de monstro. Virou encantamento para crianças pequenas que viveram esta experiência inédita.

As crianças e os adultos brincaram muito com o barro. E quando digo muito, quero dizer intenso na qualidade e não na quantidade. Adultos se permitiram pintar, modelar, transformar terra em barro e, com sua presença e inteireza, encantaram as crianças. Adulto que se deixa levar assim, que se entrega, é um ótimo parceiro das crianças, gera confiança e segurança na brincadeira. Com certeza, foi uma criança que viveu e experimentou a vida inteira e pode trocar muitas experiências com as crianças que vivem no mundo há pouco tempo.

E mais: experiências com a natureza ajudam a relembrar experiências vividas em outros momentos com o corpo todo. É conhecimento armazenado dentro de nós.

“Algumas pessoas ficam confusas porque percebem que sabem coisas sem entender como sabem. Chamamos isso de intuição. Algumas pessoas têm receio de dizer que sabem a partir do feeling corporal. Sabem a partir do interior do corpo despertado por uma onda de excitação. O corpo e suas respostas são fonte de conhecimento”, diz Stanley Kelleman, em o Mito e o Corpo (p. 26).

Nas experiências com a natureza, o olhar das crianças nos guia, mas nada impede que nossa criança interior compartilhe brincadeiras e experimentações que estão guardadas nas profundezas do nosso ser.

Foto: Renata Stort

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Ana Carol Thomé

É pedagoga, especialista em psicomotricidade e educação lúdica. Participa de diversas formações sobre primeira infância, brincar e arte para crianças e coordena o programa Ser Criança é Natural (que dá nome a este blog), do Instituto Romã, que incentiva o contato das crianças com a natureza. Organiza a ação Doe Sentimentos e acredita no poder da infância e que o mundo pode ser melhor.