“Na Amazônia, temos 87% de Mata Atlântica e 13% de queimadas”, explica Ministro das Comunicações de Bolsonaro, em entrevista

Mais uma vergonha protagonizada por um membro do governo Bolsonaro em cadeia nacional, na TV e nas redes sociais. Em entrevista para uma emissora de TV a respeito da reunião do vice-presidente, Hamilton Mourão, com investidores estrangeiros, que protestaram contra o desmatamento na Amazônia, da qual participou, Fábio Faria, ministro das comunicações (no cargo desde junho), defendeu a política ambiental, falando da dimensão da Amazônia.

““Hoje nós mostramos um mapa (na reunião), que ficou muito claro para eles, né? Onde estava preservado… O tamanho, a dimensão que é toda a Amazônia, o que representa pro Brasil… Hoje, se você for chegar em Manaus e quiser pedir um avião, ‘ah, eu quero ver Mata Atlântica’, você fica ali três horas sem parar, vendo Mata Atlântica atrás de Mata Atlântica. Mas, se você quiser fazer o que muitos jornalistas fazem, alguns artistas, ‘quero ver aqui queimadas’, também tem”.

Quer dizer que, na floresta amazônica, tem Mata Atlântica e queimadas para todo mundo!

“Nosso agronegócio não precisa da Amazônia”

Não satisfeito, Faria ainda acrescentou porcentagens para reforçar a sua fala: “Você tem ali 87% de Mata Atlântica e 13% de queimadas”. Poxa, está faltando estudo para o ministro embasar suas declarações. A Amazônia ou floresta amazônica é um tipo de bioma; Mata Atlântica é outro.

A Amazônia se espalha por nove países; 60% fica no Brasil e está localizada na região norte, nos estados do Amazonas (maior parte) e áreas do Pará, Acre, Amapá, Mato Grosso, Maranhão, Roraima, Rondônia e Tocantins. Trata-se da maior floresta tropical do mundo.

Já a Mata Atlântica está localizada ao longo da costa leste, sudeste e sul do Brasil, se espalhando por 17 estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina,  Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Alagoas, Sergipe, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí. Representa 15% do território nacional e, com apenas 12% da floresta original, abriga cerca de 72% dos brasileiros.

Na entrevista, Faria ainda citou a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, elogiando-a: “que, por sinal, se saiu muito bem também na reunião”. E contou, orgulhoso: “Ela mostrou que nosso agronegócio não precisa da Amazônia, né? Nem a soja, onde é produzida a soja, todas as atividades principais da agricultura, enfim, plantações, enfim, tudo o que o Brasil produz e exporta não entra na região da Amazônia. E isso eles não sabiam”.

“Temos que melhorar a imagem do Brasil no exterior”

O ministro das comunicações de Bolsonaro esqueceu de comentar sobre a pecuária, que integra o agronegócio brasileiro, e, junto com a agricultura extensiva, é uma das grandes preocupações dos ambientalistas em relação à Amazônia.

Se você quiser ouvir o ministro Faria (e rir ou chorar um pouco), assista ao trecho de dois minutos, extraído do programa, que viralizou nas redes sociais. Este, nós “pinçamos” do perfil do ambientalista Caetano Scannavino, um dos idealizadores do Projeto Saúde e Alegria, que atua na região de Alter do Chão (Pará), conhecida como o “Caribe da Amazônia”.

Repare num dos títulos indicados pela emissora: “Faria: Temos que melhorar nossa imagem no exterior”. Sinto dizer ministro, mas, com sua ignorância – e com a política (anti) ambiental do governo -, não vai dar.

Foto: Reprodução/vídeo

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.