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Na Amazônia, milhares de ribeirinhos estão expostos ao perigo de erosão e assoreamento de rios

Na Amazônia, milhares de ribeirinhos estão expostos ao perigo de erosão e assoreamento de rios

Mais de cinco mil ribeirinhos da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, a cerca de 600 quilômetros da capital amazonense, estão em situação de risco devido à erosão e ao acúmulo de sedimentos nos rios.

O número representa cerca de metade da população localizada nesta região amazônica que é banhada pelos rios Amazonas e Japurá. É o que indica estudo liderado pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, em colaboração com as universidades de Brasília (UnB), do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e de Toulouse, na França, publicado na revista científica Communications Earth & Environment da Nature, em 20 de fevereiro.

A erosão (localmente conhecida como “terras caídas”) está relacionada à remoção de sedimentos por desgaste causado pelas variações no nível da água ao longo do ano – na região estudada, a diferença pode chegar a 11 metros.

Já o assoreamento se refere à deposição de sedimentos no leito e nas margens do rio, o que pode alterar seu curso, formando praias. Enquanto terras caídas destroem construções e territórios, a criação de obstáculos para acesso da população ao rio em áreas de formação de grandes praias dificulta a locomoção e o acesso a serviços e alimentos. Os impactos são agravados em períodos de diminuição do nível das águas, como durante a seca prolongada que afetou a Amazônia em 2023 e 2024.

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A partir de informações de satélite, os pesquisadores consideraram os dados de água na superfície relativos ao período de 1986 a 2021 e combinaram os resultados a informações socioeconômicas da região para mapear o risco de 51 comunidades na região da Amazônia Central.

Destas, pelo menos quatro estão sob risco muito alto (comunidades de Santa Domícia, Canariá, Boiador e Acapuri de Baixo) e sete estão sob risco considerado alto (Barroso, Porto Braga, Punã, Ingá, São Raimundo do Panauã, Triunfo e Caburini).

Entre os fatores que aumentam a vulnerabilidade das comunidades, estão a maior distância até os serviços disponíveis nos centros urbanos, a ausência de estruturas de organização social e a falta de experiências prévias com desastres do tipo.

Além disso, foi possível mapear, com o uso de satélites, a ocorrência de perigo de terras caídas e formação de praias em 254 comunidades da Reserva Mamirauá.

Do total de comunidades analisadas, 18,5% são afetadas por processos de sedimentação, com impactos importantes no transporte fluvial, 26%, pela erosão das margens fluviais, o que gera perdas diretas de áreas nos territórios, enquanto 55,5% estão em uma situação estável.

Mais de 80% destas comunidades estão às margens dos rios e apenas 18% vivem em terras altas, mas que também são impactadas pelo desgaste do solo.

Para o pesquisador André Zumak, do Instituto Mamirauá, as condições da região analisada podem impactar na qualidade de vida dos povos tradicionais da região. Além de ficarem isolados devido à baixa do nível dos rios, eles podem sofrer com insegurança alimentar devido aos reflexos das mudanças no solo na produção agropecuária e na pesca, por exemplo.

O pesquisador alerta ainda que, em decorrência das alterações do clima, que intensificam eventos como as secas, os estragos podem ser ainda mais graves.

“As secas extremas dificultam a mobilidade dessas comunidades que residem ao longo das margens dos rios. A exposição de algumas áreas durante a seca registrada em 2024, por exemplo, proporcionou eventos chamados de terras caídas, com mortes, inclusive. Isto é uma relação direta com as mudanças climáticas, mas são necessários mais estudos para entender melhor esta relação”, diz Zumak.

A pesquisa destaca o trabalho de mapeamento do Serviço Geológico Brasileiro (SGB) na região, mas alerta que ainda é preciso implementar mais estudos e ações preventivas de desastres.

Para o pesquisador do Instituto Mamirauá, a investigação pode orientar políticas públicas voltadas para solucionar e mitigar os efeitos destes processos. “As informações geradas com esta investigação, principalmente a metodologia, que pode ser replicada em outras áreas, já podem ser utilizadas pelo SGB e Defesa Civil dos municípios, auxiliando na identificação de áreas de risco em comunidades ao longo dos rios na Amazônia”, conclui.

* Texto originalmente publicado no site da Agência Bori em 20/2/2025

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Foto: Paula dos Santos Silva / acervo dos pesquisadores

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