Moto ou carro? É o Gaia, o novo veículo elétrico brasileiro

Moto ou carro? É o Gaia, o novo veículo elétrico brasileiro

Todas as grandes metrópoles do mundo estão repensando o conceito de mobilidade urbana. Tirando os carros dos centros da cidade, investindo mais em transporte público e estimulando o uso de veículos compartilhados.

Com foco nesse nicho, a startup brasileira Gaia Electric Motors desenvolveu um veículo 100% elétrico. Um misto de moto e carro, ele tem três rodas, o Gaia não possui chave física e pode ser compartilhado por e-mail e WhatsApp.

Ele possui dois motores elétricos com 50Kw de potência total. Segundo a empresa, sua performance é comparável a um carro 1.6, porém com zero emissão.

Um dos principais diferenciais do Gaia em relação a outros veículos elétricos é que a recarga da bateria pode ser feita em uma tomada normal, como a encontrada em qualquer casa.

Com uma carga completa, que pode ser feita em 8 horas, o Gaia tem autonomia para percorrer até 200 km, mais do que suficiente para o uso diário na cidade.

Como tem três rodas, o novo veículo é considerado uma motocicleta e por isso, para dirigí-lo é preciso ter uma carteira de motorista (CNH) de moto.

O Conexão Planeta entrevistou, por e-mail, Ivan Gorski, fundador e CEO da Gaia Electric Motors. Ele falou sobre a inspiração para a concepção do veículo, suas principais vantagens e o processo de fabricação, que envolve fornecedores e profissionais de diversos países.

De onde surgiu a ideia para o Gaia?
Sempre tive contato com tecnologia e fui apaixonado por isso, como um hobby. Um dia eu estava construindo um kart para minha filha brincar e, durante o processo, acabei fazendo cálculos sobre peso do carro, potência, dimensões… Automaticamente, comecei a desenvolver um olhar crítico sobre a indústria automobilística. Se comparar o peso de um Honda Civic, por exemplo, com um Ford 1964, ambos pesam 1.3 toneladas.

O que mudou em 60 anos de indústria? Mudou muito pouco. É muito peso, um desperdício de energia, manutenção. Não precisamos de um veículo deste tamanho para nos locomover. Foi então que tive a ideia de criar um veículo leve e, ao pesquisar sobre os tipos de motorização, percebi que o veículo que eu tinha desenhado tinha um layout perfeito para uma aplicação 100% elétrica. Os veículos elétricos demandam um chassis mais leve para compensar o peso extra das baterias.

Por que o carro foi desenhado na Polônia?
Quando estávamos desenvolvendo o Gaia, buscamos profissionais do mundo todo, incluindo o Brasil. Os escritórios europeus realmente se destacaram dos demais e esse, em especial, se destacou pela postura, profissionalismo e por possuir um time muito competente. Eles fizeram trabalhos para diversas montadoras no circuito europeu e possuíam muita experiência que precisávamos para desenvolver um veículo como este.

Projetar um veículo funcional é muito desafiador para quem nunca passou por isso antes. Tive bastante dificuldade de encontrar profissionais no Brasil que tivessem participado do design de veículos, ou mesmo que falassem inglês para interagir com os outros profissionais. Hoje, o perfil de profissional que encontramos no mercado brasileiro (principalmente nas montadoras) são de áreas comerciais com pouca influência e acesso ao desenvolvimento dos veículos, infelizmente.          

A tecnologia é brasileira?
O chassis do Gaia foi desenvolvido pelo Gustavo Lehto, um dos poucos engenheiros do Brasil com experiência em fabricação em baixa escala e alta tecnologia. Antes de trabalhar com a Gaia, o Gustavo foi o principal responsável pelos últimos 10 anos do desenvolvimento e fabricação dos veículos da StockCar no Brasil e essa trajetória deu a ele muita experiência em veículos de alta performance. Então, eu diria sim, que a tecnologia é brasileira, já que a solução foi desenhada por um brasileiro.

Porém, isso significa, também, que fomos atrás da melhor tecnologia do mundo para embarcar no veículo, por exemplo: os motores e controladores são italianos e as baterias vêm da China que hoje detém 95% do mercado mundial de baterias de lithium. A transmissão foi desenvolvida na Alemanha por um ucraniano que tem muita experiência em transmissões de automóveis para grandes marcas do mercado europeu. É um time realmente global trabalhando para uma empresa brasileira sob o comando de um time de brasileiros.

Onde ele será montado?
Algumas peças do chassis e suspensão serão fabricadas na fábrica da Granja Viana (Cotia – SP), onde fica o escritório da empresa e a montagem será feita em uma planta em fase de instalação em Manaus – AM. Todo o controle de qualidade e desenvolvimento fica na fábrica e escritório de Cotia-SP.

Já há interessados no Gaia? Já existe uma previsão do começo da produção?
Sim, embora nosso foco seja empresas (B2B) notamos muita procura por clientes finais (B2C). Já há mais de 100 pessoas que fizeram a pré-reserva do veículo pela Internet. No site da Gaia, é possível fazer pré-reservas, garantindo prioridade na fabricação mediante o pagamento uma taxa indenizável de R$300,00.

A previsão do começo da produção é em 6 meses, quando deverá estar concluída toda a documentação para emplacamento e obtenção das licenças necessárias para produção em série. Estamos, em paralelo, realizando os últimos testes no veículo e fazendo pequenos ajustes em nosso protótipo que está sendo emplacado. 

O Gaia é aberto nas laterais. E nos dias de chuva?  
Essa é uma limitação legal (legislação). Motocicletas fechadas não podem circular em estradas e como nosso veículo é bem mais robusto que uma motocicleta, optamos por deixá-lo aberto, até porque os dias de chuva são exceções, e optamos por desenvolver um acessório para fechamento removível.

O Gaia tem emissão zero de carbono?
O Gaia é 100% elétrico e não consome qualquer tipo de combustível para seu deslocamento. Ou seja, uma vez entregue ao proprietário nenhum consumo de combustível fóssil irá ocorrer – tornando um veículo de zero emissão.

Porém, a matriz de transporte no país (como peças e fornecedores) ainda é dependente da emissão de carbono, da mesma forma que qualquer mercadoria produzida hoje no Brasil. Infelizmente, isso está fora do nosso controle – uma vez que dependemos da infraestrutura naval e rodoviária existente, como qualquer empresa.

Você não acha que a exigência de uma CNH de moto pode restringir a compra do veículo para aqueles interessados mas que só tem carteira para dirigir carros?
Nosso foco não são consumidores finais, mas sim, o provimento de serviços. Um motorista de aplicativo hoje gasta em média R$ 0,50 (cinquenta centavos) por quilômetro rodado. Se ele utilizasse o Gaia iria gastar R$ 0,04 (quatro centavos). Isso significa que o motorista trabalharia metade do tempo que gasta hoje ganhando a mesma coisa. Não acredito que a CNH de moto será um impeditivo ou uma barreira.

Já para os clientes finais (consumidores) não será tão simples como comprar um veículo de quatro rodas – pois será necessária a CNH de moto. Gosto de pensar que é tudo uma questão de prioridades e valores. Um veículo elétrico de 4 rodas hoje no país não sai por menos de 140 mil reais. O Gaia irá custar próximo de 80 mil e a única exigência será a adequação à legislação de motocicletas, como por exemplo, obter uma carteira de moto.

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Fotos: divulgação Gaia Electric Motors

Um comentário em “Moto ou carro? É o Gaia, o novo veículo elétrico brasileiro

  • 16 de julho de 2019 em 5:38 AM
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    Equivalente a 17 mil libras sterlinas. cotacao de 4,65. Procurar reduzir o preco.

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.