Que notícia mais triste. Leôncio, que quase três anos após ter sido atropelado e ficado em coma, em estado gravíssimo, tinha voltado finalmente à natureza, foi encontrado morto há poucos dias. A informação foi divulgada pela equipe do Centro de Pesquisa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Cenap/ICMBio).
Após sua reintrodução na vida selvagem em abril, a onça-parda (também chamada de puma) estava sendo monitorada através de um colar GPS, mas recentemente houve um alerta de mortalidade. Acredita-se que Leôncio morreu durante um encontro com outro felino durante uma disputa de território. Foram recolhidas amostras para uma perícia e a confirmação da causa mortis.
“Depois de cerca de dois meses monitorado diariamente, por telemetria e por armadilhas fotográficas, Leôncio estava se estabelecendo em uma área adequada e farta de presas, às margens do lago de Itaipu. Dava indícios que a operação que começou com seu resgate, passou por cirurgias e adaptação pré-soltura seria um sucesso. Mas não é tão simples assim. Devolver um animal para a natureza é um processo complexo e que envolve uma centena de fatores, muitos dos quais não temos controle”, escreveu o Cenap/ICMBio em suas redes sociais.
Segundo o órgão, a maior preocupação com Leôncio era que ele se aproximasse de casas, atacasse animais domésticos e, por isso, pudesse ser abatido. Apesar de ele ter caminhado por entre chácaras e sítios, como demonstrou o colar GPS, margeado Foz do Iguaçu e cruzado a perigosa BR, finalmente ele havia chegado a um local que parecia ser seguro. “Lá ele predou capivaras e diminuiu o ritmo de deslocamento, dando indícios de que iria ficar por ali. No local registramos poucos vestígios da presença humana nos dando mais esperança de que não haveria conflitos. Por outro lado, havia expectativa de confrontos com outras onças”.
Os especialistas explicam que não são raros os relatos de encontros fatais entre grandes felinos em vida livre. “Infelizmente Leôncio se foi. Trilhamos um caminho difícil, que é a reabilitação e realocação de animais de volta ao seu habitat natural. Perdemos Leôncio em uma questão natural e não tem como contornar isso no processo de treinamento. Apesar desse momento triste, sabemos que é possível chegar ao que desejamos. Vamos continuar trabalhando, nos baseando no sucesso de outros casos e em tudo que aprendemos com Leôncio”, diz a equipe do Cenap/ICMBio.
O registro da soltura de Leôncio em abril
(Imagem: reprodução vídeo)
A história de Leôncio
Leôncio foi encontrado atropelado em uma estrada do oeste do Paraná, em julho de 2019. A jovem onça-parda tinha uma fratura muito grave no fêmur, cortes na face e estava inconsciente. Em estado crítico, não abria nem a boca e nem os olhos. Segundo Pedro Henrique Teles, médico veterinário do Refúgio Biológico de Itaipu, um dos profissionais responsável pelos primeiros socorros ao animal, a pergunta que toda a equipe se fazia era: “Vamos fazer eutanásia ou dar uma segunda chance para ele?”.
A decisão foi por fazer de tudo para salvar a vida de Leôncio e quase três anos depois, graças à união de diversas organizações público e privadas, a história parecia ter tido um final feliz. Na sexta-feira, 22/04, dois anos e nove meses após o atropelamento, ele foi devolvido à natureza.
Para garantir que Leôncio se recuperasse plenamente e tivesse a habilidade de subir em árvores e caçar de novo, ele recebeu uma placa, um pino e 16 parafusos na perna.
Leôncio, um dos de seus últimos registros antes da reintrodução
(Foto: Rubens Fraulini)
Imagem de abertura: divulgação Cenap/ICMBio
