Morre, em Manaus, Richard Vogt, um dos maiores pesquisadores do mundo sobre tartarugas
Faleceu ontem (17/01), em Manaus, o cientista Richard Carl Vogt, chamado carinhosamente pelos amigos de Dick. Nascido nos Estados Unidos, ele viveu no México, mas há muitos anos escolheu o Brasil para trabalhar e morar com a família. Ele era o fundador do Centro de Estudos dos Quelônios da Amazônia – CEQUA e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Dick era considerado um dos maiores especialistas de quelônios do mundo. Ele esteve envolvido em duas das mais importantes descobertas na área de estudos das tartarugas de água doce.
Em 1979, juntamente com James J. Bull, pesquisador e professor da Universidade do Texas, em Austin (EUA), ele constatou que a determinação do sexo das tartarugas se dá pelo tempo de incubação dos ovos de acordo com a temperatura. Os dois cientistas comprovaram que a incubação no sol a uma temperatura acima de 33 graus faz nascer uma fêmea e em menos de 30 graus um macho.
Já em 2012, Dick e a então doutoranda do Inpa, Camila Ferrara, foram os primeiros pesquisadores a comprovar que há comunicação acústica entre as tartarugas-da-amazônia (Podocnemis expansa) e que os sinais sonoros começam a ser trocados ainda dentro do ovo. Além disso, eles também comprovaram, em 2014, que as tartarugas mantêm um comportamento de cuidado parental entre mães e filhotes, que migram juntos por mais de 75 quilômetros pelos rios.
Neste mesmo ano, Dick recebeu o Prêmio Behler de Conservação de Tartarugas, nos Estados Unidos, pelo seu trabalho ao longo de 45 anos.
“Poucos cientistas podem dizer que alteraram o curso de todo um campo de estudo. Mas Dick Vogt pode, não uma, mas duas vezes! Seu trabalho pioneiro com Jim Bull na determinação do sexo dependente da temperatura (publicado na revista Science) mudou para sempre a forma como vemos a evolução e a conservação dos quelônios. Surpreendentemente, ele seguiu essa incrível conquista que definiu a carreira com mais uma – seu trabalho sobre a vocalização, que está definindo um novo caminho para a forma como praticamos a conservação das tartarugas”, escreveram Brian Horne e Andrew Walde na época.
Além das descobertas que mudaram para sempre a pesquisa sobre as tartarugas no mundo inteiro, o cientista foi autor de mais de 100 artigos científicos e doze livros em inglês, português e espanhol.
De acordo com colegas, Dick foi levado para o hospital e internado na UTI, na quarta (13/01), em estado muito grave, com infecção bacteriana na corrente sanguínea. Não há confirmação ainda se ele foi mais uma vítima da COVID-19.
Richard Vogt tinha 71 anos.
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Em 2018, Richard Vogt perde um prêmio nos Estados Unidos por ter mostrado fotos consideradas inadequadas e ter sido acusado de sexismo (leia mais aqui).
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Fotos: reprodução internet e Otávio Lino
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.