Miss Universo 2019: a “mulher mais bonita do mundo” é negra

No mesmo dia em que Silvio Santos rejeitou e silenciou candidata negra em um concurso musical – para premiar a que ele achou mais bonita, e era branca -, em Atlanta, nos Estados Unidos, o concurso Miss Universo 2019 elegeu a modelo suafricana Zozibini Tunzi, de 26 anos, como a mulher mais bonita do mundo.

Deixando de lado todos os detalhes que envolvem e originaram este concurso mundial, neste momento da história em que o racismo, a extrema-direita e o movimento pela supremacia branca dão sinais intensos pelo mundo – inclusive em nosso país -, esta é uma ótima notícia.

Os sites femininos ou especializados nesse tipo de concurso, disseram que Zozibini impressionou os juízes com sua naturalidade e com seu sorriso cativante, mas também por seus ideais contra o racismo e a desigualdade de gênero

Antes da vitória, Tunzi falou da importância da representatividade em discurso engajado“Cresci em um mundo onde uma mulher que se parece comigo, com meu tipo de pele e cabelo, nunca é considerada bonita. Isso acaba hoje. Quero que as crianças vejam seus rostos refletidos no meu”. 

Ela também comentou sobre liderança feminina e as pressões estéticas que acontecem durante a competição. Ela teve 89 concorrentes. “Liderança é algo que falta nas mulheres jovens há muito tempo. Mas, após a sociedade rotular como elas deveriam ser, este passou a ser um desejo”.

Pois é, os concursos de beleza parece que mudaram bastante. Hoje, não se trata apenas de analisar a beleza física da candidata. Personalidade e inteligência estão entre as habilidades consideradas pelos júris das competições nacionais e internacionais. 

Tunzi é modelo, graduada em relações públicas e gerenciamento de imagens. Trabalhou como estagiária no departamento de RP de Ogilvy Cape Town e começou a participar de concursos de beleza quando ainda era estudante. Em 2015, foi eleita Miss Mamelodi Sundowns e, em 2017, semifinalista da Miss África do Sul. Mas, na segunda tentativa, este ano, ganhou o título em seu país. O prêmio incluiu um carro e um apartamento mobilizado no bairro nobre de Sandton, Joanesburgo, onde continuará morando durante “seu reinado”.

Em 68 edições do concurso, apenas cinco negras ganharam 

Tantas edições e, até hoje, apenas cinco mulheres negras foram consideradas as mais bonitas do mundo. Mas já representaram alguns passos, cada uma em seu tempo. Na foto acima, reuni as quatro antecessoras de Zozibini Tunzi: duas de Trinidad Tobago, uma da Califórnia e outra de Angola.

A primeira foi eleita em 1977: Janelle Commissiong (à esquerda na foto), de Trinidad e Tobago. Isso aconteceu após 25 anos de existência do concurso. 

Em 1995, a vencedora foi Chelsi Smith, da Califórnia. O concurso foi realizado em Windhoek, na Namíbia. Eram outros tempos e o título a transformou em modelo de grandes marcas de moda. Ela também se tornou atriz de séries de televisão, além de gravar um disco single, que integrou a trilha sonora do filme Tudo Pra Ficar com Ele.

Wendy Fitzwilliam, advogada de Trinidad e Tobago (de novo!!), venceu o titulo em 1998, derrotando 80 concorrentes. 

Treze anos depois, em 2011, no Brasil, foi a vez da angolana Leila Lopes ser eleita (à extrema direita, na foto). Na ocasião, depois da vitória, ela declarou: “Os racistas devem procurar ajuda porque não é normal uma pessoa pensar assim no século 21″. E completou: “Qualquer tipo de preconceito não tem fundamento”. 

Imagine se Leila viesse ao Brasil, hoje. Soubesse do aumento dos assassinatos de jovens negros pela polícia – um extermínio em curso – e ainda assistisse ao programa de Silvio Santos e visse o que ele fez com a cantora negra Jennyfer Oliver.

Fotos: Divulgação

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.