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Ministro ataca dados do Inpe e anuncia edital para contratação de novo sistema, mas admite aumento do desmatamento

Três dias depois de a colunista Mônica Bergamo divulgar em sua coluna, na Folha de São Paulo, que o Ibama lançará edital para a contratação de novo sistema de monitoramento do desmatamento no país, o governo convocou entrevista coletiva, da qual participaram Bolsonaro e os ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente), Augusto Heleno (Segurança Institucional) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores), com o objetivo de atacar o Inpe novamente. E os absurdos ditos durante esse encontro, hoje, foram imensos.

(Vale ler a posição do Observatório do Clima – rede que integra diversas organizações ambientalistas e de mudanças climáticas – em nota publicada em seu site: Governo comete fraude intelectual para desqualificar Inpe).

Sem negar o aumento do desmatamento (mas sem falar em números), Salles declarou que os dados do sistema Deter do Inpe (que registra a vegetação mensalmente), sobre a Amazônia, são incorretos. E relacionou esta declaração à reunião realizada com o ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, e representantes do Inpe e do Ibama. “Todos os presentes reconheceram que os dados não condizem com a verdade”, e acrescentou que “a polêmica sobre a questão do desmatamento” foi criada por “jornalistas, técnicos e ditos especialistas”. Sempre tentando desqualificar.

Ele chegou a afirmar que, nessa reunião, os representantes do Inpe concordaram que os dados não correspondem à realidade, que há sobreposição de alertas, resultando em aumento nos dados, e também que registros de desmatamentos de 2017 e 2018 foram divulgados como se fossem de agora.

Salles e Bolsonaro têm criticado o Inpe desde o início do governo, em janeiro. Recentemente, o presidente disse, com todas as letras, que os dados revelados pelo instituto “são mentirosos”, o que levou Ricardo Galvão, diretor do órgão, a fazer críticas severas ao governo.

Galvão não participou da reunião sobre a qual comentou Salles, mas, em entrevista à Folha de São Paulo, garantiu que os técnicos do instituto que participaram da reunião refutaram os erros apontados pelo ministro. “Só neste mês foram feitos 1.700 alertas. Eles (do Ministério do Meio Ambiente) pegaram alguns casos e mostraram que não era desmatamento, mas isso sempre foi verdade para o Deter. Nós nunca dizemos que corresponde à área real de desmate”.

Cabe salientar que o Inpe sempre destaca que o Deter não foi feito para medir desmatamento, mas, sim, para auxiliar na fiscalização, que cabe ao Ibama. Este órgão é que deve fazer, in loco, a verificação da realidade dos dados divulgados pelo Deter. E Galvão ainda destacou ao jornal que, por serem mensais, os dados indicam quando há tendência do desmate, o que, infelizmente, é frequente.

Salles completou seu pronunciamento dizendo que os índices que serão levados em conta, agora, serão os do Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite), também do Inpe, que divulga apenas dados anuais e não mensais como o do sistema que ele tanto desqualifica. Questionado, reconheceu que há correlação entre os dois sistemas, mas que os dados do Deter criam “polêmica midiática”. Claro! Eles são mais constantes e nos lembram da tragédia ambiental em curso todos os meses. E, por isso mesmo, tanto ele como Pontes são favoráveis à adoção de um outro sistema de monitoramento das áreas desmatadas na Amazônia.

Na semana passada, reforçando o que disse Bolsonaro, o ministro de Ciência e Tecnologia chegou a afirmar que os dados do Deter não deveriam ser públicos. Mas esta é uma das características do sistema mais ovacionadas pelos cientistas, não só brasileiros, mas do mundo: a transparência. Mas, como prova de que não considera essa transparência como um valor em sua gestão, Bolsonaro declarou que os dados deveriam ser apresentados ao governo antes de serem divulgados.

No final da entrevista, Salles contou que o Deter continuará sendo utilizado, e revelou que o ministério vai mesmo lançará licitação para a contratação de um novo sistema. Mas a data ainda não foi definida. E acrescentou: “Daqui para frente é construir um sistema que seja mais rápido na detecção que permita orientar as ações de comando e controle de fiscalização e reconhecer que precisa ser encarada quais são as origens do desmatamento”.

De acordo com a Folha, uma empresa paulista de geoprocessamento (Santiago & Cintra) – contratada pelo governo do Pará – já visitou o ministério duas vezes este ano. Será aberto um edital, mesmo?

Foto: Arquivo Pessoal/Facebook

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