O escritor amazonense Milton Hatoum aderiu à Mobilização Mundial do Clima de uma forma muito especial e singela: escreveu e recitou poesia inspirada nas agruras das mudanças climáticas, mas principalmente na tragédia do Rio Doce, devastado pela lama tóxica da mineradora Samarco.
Um presente para os brasileiros e para o mundo. Abaixo, a poesia na íntegra. No final do post, o vídeo com a linda declamação de Hatoum.
O clima ao avesso
Enlouquece as estações
Perturba o céu desta Terra de tantas tragédias.
Pássaros cruzem um céu de cinzas
Amargam noites de medo
E amanhecem sem ver as águas de um rio.
Não há mais rios doces nem inocentes
Águas sujas escoam lentas em leitos mortos
Ou já nem correm na longa noite funérea.
Quando o iodo e a lama enterram os mortos de Minas
E apagam as metáforas da passagem do tempo
Peixes, rios, plantas sufocados
Morrem envenenados pela fumaça da floresta
Queimada por homens com olhos de cobre
Corações ferozes e mãos pesadas de tanta ganância
O sol reflete na terra mapas sombrios
Manchas enormes na natureza calcinada
Esse pesadelo incendeia o mundo
Nos faz inimigos da natureza, nossa infância
Somos inimigos de nós mesmos, inimigos da vida e da esperança.