MapBiomas pode lançar novo sistema de alerta do desmatamento no Cerrado se governo abandonar monitoramento do bioma

Na semana passada o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) anunciou que, por falta de verbas, interromperá o monitoramento por satélites do desmate, a partir de abril, no Cerrado, o segundo maior bioma do país. O motivo é falta de verbas.

O instituto não tem R$ 2,5 milhões em seu orçamento para realizar o trabalho, feito desde os anos 2000 com recursos de um convênio com o Banco Mundial que expirou. A equipe responsável pelo Prodes (que revela as taxas anuais) e pelo Deter (que faz o monitoramento em tempo real) já foi desmobilizada.

Para comparação, o monitoramento da savana mais biodiversa do mundo, onde nascem as principais bacias hidrográficas do país, custa por ano o que o presidente Jair Bolsonaro gastou durante suas férias. Mais: é metade do que custaram ao contribuinte brasileiro as motociatas promovidas por Bolsonaro e em apoio a si mesmo durante a pandemia.

Ontem, 10/1, em nota pública, o MapBiomas, consórcio formado por dezenas de ONGs, universidades e empresas de tecnologia disse ver “com preocupação” que os sistemas do Inpe estejam ameaçados de descontinuidade por falta de recursos.

“Atenta aos sinais de que tal cenário pudesse acontecer, a equipe do MapBiomas vem desenvolvendo um Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) específico para o Cerrado, que pode ser ativado a qualquer momento para garantir o monitoramento do desmatamento no bioma”, divulgou o consórcio.

“Esperamos que a ameaça de paralisação do Prodes e do Deter Cerrado não se concretize e que o trabalho de excelência realizado pelo Inpe continue a ser apoiado e valorizado. Mas, se isso acontecer, faremos todo o possível para que o monitoramento seja garantido e disponível a toda a sociedade por meio do SAD Cerrado”.

O último dado do Prodes Cerrado, publicado sem alarde no site do Inpe no fim do ano passado, mostrou um aumento de 7,5% na devastação do bioma em 2021. No ano passado, 8.531 km2 desse bioma viraram fumaça, quase tudo para ceder lugar a pastagens e monoculturas como a soja.

“O apagão de dados do Cerrado era uma possibilidade real desde o ano passado. O governo sabia do risco e decidiu não agir, o que só permite concluir que, mais uma vez, se trata de uma ação deliberada do regime Bolsonaro para impedir que a sociedade tenha acesso a informações cruciais, como fez com os dados da Covid”, declarou Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

“Felizmente a sociedade civil brasileira está mobilizada para disponibilizar os dados com acurácia e de forma gratuita para todos. Mesmo que o governo enterre o sistema do Inpe, os brasileiros e o resto do mundo saberão o que está acontecendo no Cerrado. Também como ocorreu com os números de Covid, reportados por um consórcio de veículos de imprensa, a tentativa do governo de esconder a informação não vingará. O Brasil é maior do que Bolsonaro e seus desmandos”, finalizou o executivo.

*Este texto foi publicado originalmente no site do Observatório do Clima em 10/1/2022

Foto: Augusto Miranda/MTur/Creative Commons/Flickr

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Observatório do Clima

Fundado em 2002, o OC é a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com mais de 70 organizações integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais. Seu objetivo é ajudar a construir um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável, na luta contra a crise climática. Desde 2013 publica o SEEG, a estimativa anual das emissões de gases de efeito estufa do Brasil