Mapa inédito revela áreas de garimpo ilegal em terras indígenas e unidades de conservação na Amazônia

Mapa inédito revela áreas de garimpo ilegal em terras indígenas e unidades de conservação na Amazônia

Organizações não-governamentais de seis países* – Peru, Colômbia, Brasil, Equador, Bolívia e Venezuela -, se uniram para produzir, pela primeira vez, um mapa inédito que mostra a proliferação de áreas de garimpo ilegal na Floresta Amazônica.

O mapa Mineração Ilegal, produzido pela Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (Raisg), analisou uma série de dados e informações, incluindo imagens de satélite, metais explorados, além de registros e licenças de empresas. No Brasil, os parceirso para o projeto foram o Instituto Socioambiental (ISA) e o Imazon.

Segundo o levantamento, foram identificados 2.312 pontos e 245 áreas de garimpo ou extração de minerais, como ouro, diamantes e coltan (mistura de dois minerais: columbita e tantalita). Estas atividades de mineração predatória acontecem dentro da maior floresta tropical do planeta, provocando não só desmatamento, mas como a poluição em cursos d’água. Foram mapeados 30 rios afetados pelo garimpo ou por rotas para a entrada de máquinas, insumos e pela saída de minerais.

Peixes próximos a garimpos no Peru têm altíssima concentração de mercúrio

“A incidência de garimpo ilegal na Amazônia, especialmente em territórios indígenas e áreas naturais protegidas, tem crescido exponencialmente nos últimos anos com o aumento do preço do ouro”, diz Beto Ricardo, do Instituto Socioambiental e coordenador geral da Raisg. “No entanto, é uma das pressões menos pesquisada, em relação ao desmatamento para expansão da pecuária, por exemplo, devido também aos riscos associados ao seu mapeamento”.

Ainda de acordo com Ricardo, a Raisg decidiu ter o garimpo como uma das questões que necessitam de monitoramento contínuo, especialmente por seus impactos sociais e ambientais. Um deles é a contaminação de rios e peixes com mercúrio, usado durante a garimpagem de metais preciosos e depois, simplesmente jogado na água, o que pode causar sérios problemas na saúde das comunidades ribeirinhas.

Desmatamento na floresta causado pelo garimpo ilegal

Entre os países monitorados na pesquisa, a Venezuela é a campeã na chamada “epidemia de garimpo ilegal”. Infelizmente, nosso país vem logo em seguida nesse ranking. No Brasil, foram detectadas 18 áreas de extração irregular de minerais dentro de terras indígenas.

Mapa interativo digital revela áreas ilegais de mineração

A Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada alerta que, a única maneira de enfrentar o problema é desenvolver uma ação transfronteiriça, com a cooperação entre os vários países amazônicos. “No caso brasileiro, a solução envolve a fiscalização e retirada dos garimpeiros de terras indígenas e unidades de conservação, aliada à criação de alternativas econômicas para os povos indígenas e demais populações da região, recomenda a entidade.

Em cada ponto de garimpo, é possível obter informações detalhadas sobre a atividade

Além do mapa interativo disponível online, a Raisg criou um portal, em inglês, que tem uma reportagem aprofundada, com histórias e vídeos sobre o que está acontecendo na floresta. Com o título de “Amazônia Saqueada”, o conteúdo aponta, por exemplo, que amostras de peixes no Peru, encontrados próximos a garimpos, apresentam uma concentração de mercúrio 43% superior àquela que seria normal.

*As outras organizações internacionais envolvidas no projeto do mapa do garimpo ilegal foram FAN na Bolívia, Gaia na Colombia, IBC no Peru, Ecociência no Equador e Provita e Wataniba na Venezuela.

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Fotos: divulgação Raisg/Daniel Paranayba (abertura) e Rogério Assis (floresta)

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.