Manjericão para o pesto, jabuticaba para os bichos: farturas do quintal

receita de pesto com manjericão

Plantei e vou colhendo generosidades que crescem silenciosas no quintal da gente.

Plantei dois limoeiros. Um é siciliano, outro limão cravo. Os dois estão carregadinhos. O limão siciliano, este já rendeu risoto, bolo, conserva.

Plantei também manjericão. Cheiroso que só ele. Passo pelo vaso esbarrando nos ramos e saio recendendo à erva fresca.

Plantei jabuticabeira. Bem que tento, mas não consigo comer uma única frutinha. Vigio toda tarde. Quando ela está pra ficar madura, espero a manhã seguinte, pra ver o pretume e o luzidio da casca. Sonho em dar uma mordida e estalar a doçura pra dentro da minha boca. Volto lá cedinho, dia seguinte. E algum bicho noturno já viveu esta experiência por mim. Ou é gambá ou é morcego. De dia, passarinhos. O quintal é generoso com eles.

Tenho hortelã num vaso, hibiscos na cerca, erva-doce também num vaso. Numa tarde dessas, fiz um chá de hibisco. Misturei limão siciliano, gelo, hortelã – tá apinhado o vaso de hortelã – e pouquinho açúcar. Ficou um suco refrescante.

A pitanga – não falei dela ainda – já rendeu molho pra peixe, pra carne e geleia.

Não plantei tomate. Mas eles brotam por aí. É que os restos frescos de verduras e legumes vão pra compostagem e em algum momento adubam a nossa horta. E os tomates são boa praga invadindo o vaso da roseira, os vasos do tomilho, da salsinha, da cebolinha, da sálvia, ocupando a beirinha da cerca. Deles, que nascem sem esforço nenhum, muitos também são consumidos por visitantes invisíveis da noite. Quase maduros viram iguaria pros bichos. Então, dos que sobram pra minha colheita corto em fatias, organizo num prato com mussarela de búfala, salpico folhinhas de manjericão e tenho uma caprese regada a azeite de limão – aquele siciliano da conserva. Incrível.

Também tenho capuchinha, uma flor comestível que lembra um leve agrião. E como enfeita um prato! Finalizo salada com elas, finalizo risotos. É um toque delicado, colorido, chique até.

Tendo tudo isto a poucos passos, busco no quintal maços de manjericão pra resolver meu jantar. Uma a uma, tiro as folhinhas do ramo, lavo e seco. No pilão de pedra, macero um dente de alho (que veio de outros quintais), várias castanhas de caju (que busquei na Bahia) e acrescento aos poucos, as folhas de manjericão, pilando em movimentos circulares.

Retiro a massaroca muitíssimo verde do pilão, transfiro pra uma vasilha funda, acrescento azeite de oliva pra diluir a receita, e umas gotinhas de limão ( sim, colhido no quintal), pra refrescar e acidificar um tantinho só a receita. Depois de tudo, parmesão ralado (este veio do Sul). E tenho um pesto*.

Cozinho espaguete ou penne ou fetuccine por 8 minutos, retiro da água e aos poucos acrescento na travessa, juntando suavemente ao pesto. Costumo tirar a massa da água e não escorrer, porque a massa pode precisar ser regada com a água do cozimento pra ficar mais suculenta. Faço isso bem dosado pra não aguar.
Acrescento mais parmesão ralado na hora de servir, misturo bem massa e molho, até que fique bem incorporado.

Meu jantar tem cor, aroma e sabor de quintal, ao que agradeço e peço por nos abençoar sempre com tais farturas.

RECEITA DE PESTO

INGREDIENTES

um punhado de manjericão fresco (2 xícaras das folhinhas fora do talo)
1/2 xícara de castanha de caju ( ou nozes ou castanha do pará ou pinoli – que é indicado nas receitas originais. Mas nós temos nossas deliciosas castanhas nacionais. Vamos usá-las)
1 xícara de queijo parmesão ralado (pode ser o do saquinho, mas se você tiver um pedaço e ralar na hora, tanto melhor)
1 dente de alho
1 xícara de azeite (mais ou menos. Recomendo que vá colocando aos poucos na receita, misturando bem e percebendo se o molho vai ficando brilhante e levemente diluído).
gotas de limão (use, no máximo, meio limão pequeno)

ALGUMAS DICAS

Nesta receita, uso a castanha salgada e também temos o parmesão – que é salgado. Por isso, recomendo usar sal a gosto, se quiser. Neste caso, use um pouquinho de flor de sal ao macerar o alho, lá no início do processo.

Se achar complicado macerar no pilão, fique à vontade para usar liquidificador ou processador de alimentos.

Lembre-se também de salgar a água do cozimento da massa. Sal grosso. Pouco, o suficiente pra ressaltar o sabor da massa.

OUTROS USOS PARA O PESTO …

… um toque de tempero mais arrojado à saladinha caprese, uma colherada na sopa de beterraba. Fica incrível sobre o pão italiano, ou sobre um finíssimo pão sueco, na entradinha, como molho no espaguete de abobrinha.

*Para quem ainda não conhecia o pesto, ele é um molho de origem italiana, mais precisamente de Gênova, região da Liguria, que pede o uso de manjericão fresco. A receita original sugere macerar as folhas sempre em pilão de pedra ou mármore. Também obrigatório na receita dos italianos é usar pinoli, uma sementinha bem untuosa, azeite extravirgem e queijo pecorino ou parmigiano.

Foto: domínio público/pixabay

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Cássia Miguel

Mulher de marido, mãe de filho, madrasta de enteados. Começou a carreira profissional vendendo pinga e pão com mortadela na venda dos pais, em Minas. Foi bancária, revisora de jornal, rádio escuta, repórter, editora e apresentadora de TV. Hoje é especializada em media training, com foco para entrevistas em TV e vídeo. Fez jornalismo na PUCCAMP, pós graduação em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e Relações Públicas na USP e Análise do Discurso na PUC SP. Tudo isto sem tirar o pé da cozinha