Manifestações na internet e nas redes sociais marcam o Dia Nacional da Araucária

Manifestações na internet e nas redes sociais marcam o Dia Nacional da Araucária

Nesta quarta-feira (24), Dia Nacional da Araucária, das 11h às 15h, um ato em defesa da Floresta com Araucária e do patrimônio público natural estadual e federal ocorre em frente à Assembleia Legislativa do Paraná, no Centro Cívico, em Curitiba.

Para respeitar as recomendações sobre o distanciamento social, tão necessário em tempos de pandemia, apenas os organizadores do evento estarão presentes no local.

O convite é para que todas as pessoas que desejem apoiar o ato acompanhem e interajam de modo online. Ele será divulgado ao longo do dia no Instagram do Observatório de Justiça e Conservação (OJC) (@justicaeco), que também vai promover uma live às 12h30 para explicar os detalhes da ação. Lives também serão feitas ao longo do dia nas redes sociais da cantora e compositora Raissa Fayet (@raissafayet) e do movimento #ParePresteAtenção (@pare.presteatencao), parceiros do ato.

Quase três toneladas de toras de araucárias serão levadas por um caminhão até a frente da Assembleia Legislativa e do Palácio do Governo do Paraná, em protesto à ausência de políticas públicas eficientes e capazes de proteger o pouco que sobrou de Floresta com Araucária e Campos Naturais no Estado e no Brasil.

Depois de décadas de exploração irresponsável e ausência de fiscalização, resta menos de 1% de Floresta com Araucária em bom estado de conservação. A situação dos Campos Naturais, outro ecossistema associado ao bioma Mata Atlântica, é igualmente dramática. Estudos indicam que, hoje, existem menos de 0,24% de Campos em relação às porções originais que um dia ocuparam o Estado.

As toras vêm de Piraquara e são partes de araucárias que precisaram ser cortadas pela prefeitura do município, porque representavam risco de queda em moradias. Outras caíram pela força de temporais. O ato em frente à Assembleia e o transporte das toras têm as autorizações necessárias para serem feitos.

O protesto busca chamar a atenção da sociedade e do poder público para as ameaças constantes que a conservação da natureza sofre no Paraná e também no Brasil.

Recentemente, a multinacional francesa Engie, em plena fase reprodutiva da araucária, derrubou dezenas de exemplares da árvore em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba, com a intenção de instalar mais de mil torres de energia elétrica em áreas naturais de 24 municípios paranaenses, muitas, passando por cima da Área de Proteção Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana. As árvores, algumas centenárias, foram derrubadas em desrespeito à legislação estadual, que proíbe qualquer corte da araucária em época reprodutiva. Ironicamente, o projeto da Engie se chama “Gralha Azul”, a ave dispersora do pinhão. 

A APA da Escarpa Devoniana concentra algumas das últimas porções ainda em bom estado de conservação da Floresta com Araucária e dos Campos Naturais no Brasil. A intenção de instalação das torres é repleta de incoerências e de falta de transparência nos processos, que estão sendo apurados por técnicos, professores e especialistas em diferentes áreas e investigados pelos ministérios público estadual e federal.

O ato também denuncia os riscos de um projeto de lei protocolado em 2019 pelo deputado estadual Emerson Bacil (PSL), que tramita na Assembleia Legislativa do Paraná e pode causar a perda definitiva da biodiversidade que ainda existe na Floresta com Araucária.

O PL 537/2019 está em análise na Diretoria Legislativa da Assembleia e ameaça as florestas nativas com araucárias de todo o Sul do país. O texto da proposta quer regularizar o corte das araucárias, o que, na prática, representa uma abertura sem qualquer amparo legal e que tem por objetivo a degradação das últimas áreas bem conservadas de Floresta com Araucária, que estão reduzidas a ínfimos fragmentos onde antes havia uma cobertura contínua, que abrangia 1/3 de todo o território paranaense.

Com o ato, que pode ser acompanhado e apoiado de forma online, espera-se, portanto, mostrar que a sociedade não vai aceitar que o Governo do Paraná ignore tantas e constantes tentativas de desmonte desses ecossistemas e da Mata Atlântica, já tão historicamente explorados e degradados.

Práticas da Engie estimulam denúncia internacional sobre irregularidades

No Dia Nacional da Araucária, o Observatório de Justiça e Conservação (OJC) também vai enviar uma carta relacionando algumas irregularidades que envolvem o processo de licenciamento feito pela Engie para viabilizar a instalação das mais de mil torres nas áreas naturais dos 24 municípios paranaenses.

O documento será enviado à International Hydropower Association, uma organização internacional sem fins lucrativos e comprometida com o avanço da energia hidrelétrica sustentável. As incoerências que constam na carta contrariam as Diretrizes de Sustentabilidade das Hidrelétricas sobre boas práticas adotadas pela organização, bem como os Padrões de Desempenho de Sustentabilidade adotados pelo Banco Mundial.

A Engie é uma empresa considerada “categoria ouro” entre os associados da Hydropower e deveria respeitar as diretrizes da entidade. E os recursos para viabilizar o empreendimento – estimado em mais de R$ 2 bilhões – viriam do Banco Mundial.

Cópias da carta também serão enviadas no dia 24 ao Ministério Público do Paraná e Federal, ao Ministério do Meio Ambiente da França, à Federação Francesa de Espeleologia, ao Banco Mundial e ao Partido Verde francês.

Quando? 24 de junho de 2020.

Que horas? Das 11h às 15h.

Onde? Na Praça Nossa Senhora da Salette, em frente à Assembleia Legislativa do Paraná, no Centro Cívico, em Curitiba.

Como acompanhar e apoiar? Pelo Instagram do OJC (@justicaeco), do Pare Preste Atenção (@pare.presteatencao) e da cantora e compositora Raissa Fayet (@raissafayet).

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Foto: Zig Koch/Floresta com Araucária em área indígena de Mangueirinha – PR

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Observatório de Justiça & Conservação

O Observatório de Justiça e Conservação (OJC) é uma iniciativa apartidária e colaborativa que trabalha fiscalizando ações e inações do poder público no que se refere à prática da corrupção e de incoerências legais em assuntos relativos à conservação da biodiversidade, prioritariamente no Sul do Brasil, dentre os quais se destacam, a Floresta com Araucária