*Texto alterado em 06/11/20 para atualizar o número de visons que serão abatidos, devido a um novo comunicado das autoridades da Dinamarca
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Pra começar, é difícil acreditar que ainda hoje, animais sejam criados e mortos pela indústria da moda. Para que suas peles sejam usadas na fabricação de casacos. Sim, em alguns países, a atividade ainda é permitida, como no caso da Dinamarca. Só que desde junho, as fazendas de visons (Mustela vison), um mamífero semiaquático, usado para este fim, começaram a ter surtos do novo coronavírus.
Em setembro, depois de um aumento significativo no número de casos de COVID-19 entre os visons, o governo dinamarquês decidiu abater os animais infectados em fazendas, aqueles suspeitos de estarem infectados, bem como os que sejam saudáveis, mas que estejam em um raio de 8 quilômetros de um grupo contaminado.
Mas em um novo comunicado divulgado no início de novembro, o governo informou que foi encontrada uma nova cepa do coronavírus, uma variação do SARS-CoV-2, entre os animais, por isso, cerca de 17 milhões de visons devem ser sacrificados – a estimativa inicial, em meados de outubro, era de que seriam pouco mais de 1 milhão.
A partir do dia 6 de novembro e até, no mínimo, 3 de dezembro, bares, restaurantes, transporte público e todos os esportes internos públicos serão fechados em sete municípios da região de Jutland do Norte.
A Dinamarca é a maior produtora mundial de pele desses bichinhos. Exporta ainda, em pequenas quantidades, peles de raposa, lebre e chinchila.
Dinamarca é o maior produtor mundial de pele desses bichinhos
Desde agosto, foram confirmados casos de COVID-19 em 270 fazendas de North Jutland e doze pessoas foram contaminadas. O primeiro caso, em junho, foi detectado porque um funcionário de uma fazenda testou positivo para o coronavírus, ou seja, ele deve ter infectado os visons.
“Lançamos iniciativas continuamente para gerenciar e conter a propagação da infecção. Tendo em vista o grande aumento recente, devemos, infelizmente, afirmar que não foi suficiente para prevenir a disseminação contínua da infecção entre os rebanhos de visons de North Jutland”, afirmou Mogens Jensen, ministro da Agricultura, Alimentação e Pesca da Dinamarca.
Moradores da região demonstraram preocupação com os surtos de coronavírus entre os animais. De acordo com relatos, eles ficam doentes rapidamente com a COVID-19 e morrem em poucos dias. Não se sabe ainda porque a espécie é tão vulnerável ao coronavírus.
O abate dos visons será feito pelas autoridades federais e os criadores receberão uma compensação financeira.
Na Dinamarca há cerca de 1.500 fazendas de vison, que produzem aproximadamente 19 milhões de peles por ano. É o terceiro produto de origem animal mais comercializado internacionalmente pelo país escandinavo. Os principais importadores são asiáticos: China, Hong Kong, Cambodia, Tailândia e Vietnã.
Nos estados de Utah e Wisconsin, nos Estados Unidos, onde há criação de visons, animais também foram infectados e morreram devido ao SARS-CoV-2, vírus responsável pela COVID-19.
*Com informações do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e da BBC Brasil
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Foto: Peter Trimming/flickr/creative commons