Mais de 200 mil pessoas assistem live com desabrochar da rara flor da lua amazônica, que só acontece uma vez por ano, por poucas horas

Ver o desabrochar da flor da lua foi um dos grandes sonhos da vida de Margaret Mee. A ilustradora botânica inglesa que se especializou em plantas da Amazônia brasileira conseguiu, quase ao final de sua vida, finalmente presenciar o florescer dessa raríssima flor de cactus, que nasce apenas uma vez por ano, entre maio e julho, e fica aberta durante poucas horas, entre o nascer e o por do sol.
Foi a ilustração de Margaret Mee que tornou a flor da lua famosa no mundo inteiro. Ela viu pela primeira vez o cactus em 1964, mas foi apenas em 1988 que teve a chance de observar o desabrochar da flor (mesmo ano em que ela faleceu).
A espécie Selenicereus wittii foi descrita originalmente em 1900 por botânicos alemães que estiveram na Floresta Amazônica, no Brasil. Diferente de outras espécies de cactus, esse é observado em regiões que são periodicamente inundadas por rios de água negra e altamente ácidos. Por ser uma planta epífita (depende de outra como estrutura para crescer), se enrosca no tronco de outras hospedeiras com suas raízes.

A ilustração de Margaret Mee
Logo depois que desabrocha, a flor da lua tem um aroma que faz lembrar o de jasmim ou gardênia, mas pouco tempo após o perde, e exala um cheiro não tão agradável.
Por ser uma planta tão rara, alguns jardins botânicos de outros países possuem um exemplar dela em suas áreas dedicadas às florestas tropicais. É o caso do Cambridge University Botanic Garden (CUBG), na Inglaterra, e foi lá que houve uma grande comoção no sábado (20/01), quando pela primeira vez foi possível ver a flor desse cactus brasileiro e compartilhar o momento com mais de 200 mil pessoas, ao vivo pela internet, já que o local está fechado à visitação pública por causa da pandemia.
“Ficamos totalmente impressionados com o interesse que nossa flor criou. Como cientistas, botânicos e horticultores aqui no Garden, todos nós somos fascinados por plantas, mas tem sido tão emocionante ver como nossa flor da lua conquistou os corações e o interesse de tantas pessoas em todo o mundo”, disse Beverley Glover, diretor do CUBG.
Os botânicos começaram a ficar atentos no começo do mês, quando perceberam que a flor iria desabrochar. O broto da espécie é bastante grande – na natureza, pode atingir entre 25 e 27 cm.

O broto protuberante da planta
Na estufa inglesa, a flor da lua estava enrolada em uma árvore a mais de 3 metros de altura.
“De manhã vimos na transmissão ao vivo que as sépalas do botão começaram a se abrir e na hora do almoço ficou claro que estava começando a abrir muito mais cedo do que o esperado. Começou a abrir totalmente ao longo da tarde, atingindo a floração total às 17h”, contou Alex Summers, supervisor da estufa.
Cerca de doze horas após atingir a abertura total, a flor se fechou.
Agora a expectativa é que no ano que vem se possa ver, novamente, esse momento mágico da natureza. E quem sabe, os ingleses consigam ver de pertinho, pessoalmente, esse espetáculo tão especial.

O desabrochar acontece apenas uma vez por ano, por poucas horas
Abaixo o vídeo que mostra o desabrochar da flor da lua no Cambridge University Botanic Garden:
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Fotos: reprodução Cambridge University Botanic Garden/© Nils Köster (abertura), © W. Barthlott, Bonn (planta com várias flores)
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.