Maiores museus de história natural do mundo manifestam apoio ao Museu Goeldi

Mais antiga instituição científica da região amazônica, o Museu Paraense Emílio Goeldi é reconhecido internacionalmente pela sua importância na produção de conhecimento científico sobre a floresta e sua biodiversidade.

Desde sua fundação em 1866, em Belém, o museu conseguiu criar um catálogo com 19 coleções científicas, que abrigam mais de quatro milhões e meio de itens, acervos únicos de valor inestimável e que contêm ícones do patrimônio nacional.

Mas com o corte no orçamento feito pelo governo federal, reduzindo em 44% os recursos destinados a todos seus órgãos, o Museu Goeldi, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), terá inviabilizado o funcionamento integral da instituição, que mantém três bases físicas no Pará e mais um campus avançado no Mato Grosso. Além disso, estão suspensas reposições de vagas via concurso público e é ainda incerta a manutenção dos programas de bolsas ofertadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq).

“A drástica redução de recursos, de um orçamento que já vinha sendo atingido nos últimos anos, levaria ao fechamento por tempo indeterminado de seu centenário Parque Zoobotânico, em Belém, e da Estação Científica Ferreira Penna, na Floresta Nacional de Caxiuanã, no Marajó, interrompendo décadas de estudos de longo prazo e monitoramento sobre uma importante região da maior floresta tropical do mundo”, afirmou a entidade em comunidade público.

“Abração” ao Museu Goeldi, em Belém

Depois de protestos e manifestações, no último dia 15 de setembro, foi anunciado um repasse de três milhões de reais para o museu, o que garantirá seu funcionamento emergencial até o fim do ano, que tinha seu orçamento original para 2017 estimado em 12 milhões de reais.

Todavia, o orçamento para 2018 continua em risco.

“Nós estamos passando por uma guerra orçamentária. A primeira batalha está vencida, mas a guerra continua. Temos um contingenciamento para os próximos 20 anos por uma determinação regimental, constitucional. E a nossa próxima batalha é o aumento do teto orçamentário para 2018. É lutar e ter condições para que o Museu Goeldi não passe pelo risco de fechamento que passou este ano”, explica Nilson Gabas Jr, Diretor do Museu Goeldi.

Preocupados com a grave situação enfrentada por um dos mais importantes centros de pesquisa científica sobre a Floresta Amazônica, diretores de doze dos maiores museus de história natural do mundo enviaram carta de apoio ao Museu Goeldi, manifestando preocupação com a crise orçamentária da instituição e a consequente ameaça à preservação das coleções científicas.

Assinaram a carta os dirigentes do Naturalis Biodiversity Center (Holanda), Royal Ontario Museum (Canadá), Natural History Museum of Los Angeles County (Estados Unidos), The Natural History Museum (Reino Unido), American Museum of Natural History(Estados Unidos), Natural History Museum of Denmark (Dinamarca), Smithsonian National Museum of Natural History (Estados Unidos), Field Museum of Natural History (Estados Unidos), Royal Belgian Institute of Natural Sciences(Bélgica), Denver Museum of Nature and Science (Estados Unidos), Museum für Naturkunde Berlin, Leibniz-Institute for Evolution and Biodiversity (Alemanha) e Royal Botanic Gardens Kew (Reino Unido).

No documento, os diretores afirmam que as coleções do Museu Goeldi têm grande valor científico não só para o Brasil, mas para toda comunidade científica internacional. Eles ressaltam ainda que, como todos sabem, coleções como estas levam décadas para serem construídas, mas podem ficar danificadas irreparavelmente em poucas semanas, quando não há controle adequado da temperatura onde elas são guardadas.

Falta de investimento em pesquisas científicas e na preservação do conhecimento inviabilizam o crescimento de qualquer nação. É somente através da educação que um país consegue inovar e criar uma economia sustentável e duradoura. No Brasil, infelizmente, neste momento, meio ambiente, conservação e ciência têm sido relegados para segundo plano. Visão torpe, que só compromete ainda mais a situação atual do país.

Fotos: divulgação Museu Goeldi

Deixe uma resposta

Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.