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Macacos não transmitem varíola! Mas podem ter sido mortos por medo da doença, como ocorreu no interior de São Paulo

Macacos não transmitem varíola! Mas podem estar sendo mortos por medo da doença, como ocorreu em São José do Rio Preto, em SP

Atualizado em 10/8/2020
Ao tomar conhecimento do crime contra os macacos em São José do Rio Preto, a OMS – Organização Mundial de Saúde, se manifestou. Em Genebra, sua porta-voz, Margareth Harris, explicou que a doença foi nomeada como ‘varíola dos macacos’ por ter sido identificada, primeiro, nos anos 50, em macacos num zoológico da Dinamarca, salientando que o vírus está presente em vários animais. E enfatizou que o atual surto mundial está ocorrendo devido à “transmissão entre humanos, com contato próximo”. E completou: “O vírus está em alguns animais. Mas não é o que estamos vendo agora. O risco é de outro humano, e a forma de impedir a propagação é reconhecer os sintomas, buscar ajuda e cuidar para que não haja a transmissão. As pessoas não devem estar atacando animais”. Que tal a chamarmos de ‘nova varíola’? A seguir, a notícia publicada em 8 de agosto.
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Em meados de junho a OMS declarou que ia alterar o nome da nova varíola denominada varíola dos macacos, infecção causada pelo vírus Monkeypox (do gênero Orthopoxivírusvariolae), que se espalhou rapidamente por diversos países, entre eles o Brasil. 

A iniciativa da OMS surgiu a partir da solicitação de mais de 30 cientistas, que estão trabalhando com o órgão da ONU para alterar a nomenclatura com o intuito de evitar a discriminação e o estigma contra os primatas

A ‘nova varíola’ tem esse nome infeliz porque o vírus causador foi identificado, nos anos 50, em macacos de laboratório. No entanto, sua transmissão acontece apenas entre humanos, quando uma pessoa entra em contato com lesões na pele, secreções ou objetos usados por alguém infectado.

Por isso, é absurdo que essa nomenclatura perdure já que pode levar ao entendimento de que a doença se origina dos macacos, ainda mais depois da covid-19.

Até agora, a OMS não adotou nem sugeriu outro nome. A Sociedade Brasileira de Primatologia (que reproduzo no final deste texto) divulgou nota de alerta em maio, mas a ignorância e a crueldade humanas já começaram a produzir crimes contra macacos, como ocorreu com os bugios no início de 2017, durante a epidemia de febre amarela (contamos aqui).

É o que tem acontecido desde 3 de agosto, em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, onde já foram resgatados onze macacos das espécies sagui e prego.

Macacos não transmitem varíola! Mas podem estar sendo mortos por medo da doença, como ocorreu em São José do Rio Preto, em SP
Profissionais do zoológico de São José do Rio Preto e da prefeitura resgatam macacos intoxicados e agredidos / Foto: Flávia Alonso/CCZ/Prefeitura de São José do Rio Preto

Todos foram encontrados com sinais de intoxicação e de agressão. Um deles, já estava morto; os demais foram levados para o zoológico municipal para tratamento. Um deles passou por duas cirurgias e se recupera, mas cinco morreram. 

Próximo deles, também foram encontradas armadilhas. Em nota, a prefeitura declarou que suspeita que os macacos tenham sido atacados por visitantes por medo da ‘varíola dos macacos’, devido ao registro de três casos na cidade. 

“Os indícios apontam para uma possível ação deliberada, envolvendo hipóteses como tráfico de animais e atentados relacionados aos recentes casos de varíola dos macacos registrados”.

Desde o primeiro caso de agressão aos macacos, a prefeitura tem pedido aos moradores para que não agridam os macacos, visto que eles não são transmissores da doença.

A prefeitura deveria avisá-los, também, que mau-tratar ou matar animais silvestres é crime!

De acordo com o artigo 32 da Lei nº 9.605, de 1998, conhecida como Lei dos Crimes Ambientais, a pena para quem “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”, é de 3 meses a um ano de prisão e multa, aumentada de 1/6 a 1/3 se ocorrer a morte do animal”.

A prefeitura também enfatizou que “é importante destacar que os macacos não fazem parte da cadeia de transmissão da doença”. Sem dúvida! Falta um plano de campanhas educativas – em todos os níveis: federal, estadual e municipal! -, que poderia ter sido implantado assim que a doença surgiu no mundo. Essa medida certamente teria evitado as mortes dos macacos em São José do Rio Preto. Que esse crime sirva de alerta para o país!

A Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo solicitou reforço da vigilância em áreas de mata – como a Mata dos Macacos e o Parque Ecológico -, à Polícia Ambiental para rastrear e identificar possíveis alimentos envenenados e tentar inibir novos ataques. A ação foi iniciada hoje. 

Assista, no final deste post, ao vídeo produzido pelo Fórum de Proteção Animal com base no alerta da Sociedade Brasileira de Primatologia, que reproduzo a seguir.

O alerta dos especialistas em primatas 

Macacos não transmitem varíola! Mas podem estar sendo mortos por medo da doença, como ocorreu em São José do Rio Preto, em SP
Foto: Sociedade Brasileira de Primatologia/divulgação

Em 31 de maio deste ano, a Sociedade Brasileira de Primatologia (SPB) divulgou nota para esclarecer sobre a transmissão da doença causada pelo vírus chamado de Monkeypox, pertencente ao gênero Orthopoxivírus.

“Esse gênero é o mesmo da varíola humana, erradicada mundialmente desde a década de 1980. O Monkeypox tem taxa de transmissão menor e severidade muito mais branda”, relata a instituição.

Abaixo, reproduzo o alerta da SBP, que pode servir para ajudar a conscientizar nossos leitores a cerca da verdade sobre a doença que é transmitida apenas de humanos para humanos. 

Desde o início de maio, segundo a OMS, pessoas com essa enfermidade foram identificadas em 22 países fora da África: Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Emirados Árabes, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Holanda, Israel, Itália, México, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Suécia, Suíça, e com casos em investigação no Brasil. 

Até o momento, não foi identificado um animal considerado reservatório na natureza, ou seja, aquele que carrega o vírus sem apresentar sinais clínicos. Entretanto, pesquisas realizadas em 1950, identificaram a infecção em primatas-não-humanos e roedores (fig 1). A doença está presente na forma endêmica (esporádica ocorrência de casos), em países da África Central e Ocidental. 

Em 2003, foi registrado um surto nos Estados Unidos da América, considerado o primeiro surto deste vírus fora da África, após roedores serem importados daquele continente como animais de estimação (pets), disseminando o vírus para uma espécie de roedor nativo da América do Norte, conhecidos como cães-da-pradaria (Família Sciuridae), e depois destes para as pessoas. 

Em 2017-2018, houve um surto na Nigéria, com relatos de casos suspeitos e confirmados em mais de 100 pessoas, com suspeitas de transmissão humano-humano. 

Nos casos relatados neste momento, não foi possível identificar um animal ou local de origem da transmissão da doença, o que torna nesse momento sua origem quase um fator irrelevante, tendo em vista que a transmissão também tem ocorrido de pessoas para pessoas (transmissão comunitária de humano-humano) sendo essa forma de contágio o fator relevante para o estabelecimento de medidas de controle. 

Assim, as instituições signatárias deste informe vêm esclarecer que, apesar do vírus receber a nomenclatura de varíola dos macacos, o atual surto não tem a participação de macacos na transmissão para seres humanos. 

Todas as transmissões identificadas até o momento pelas agências de saúde no mundo foram atribuídas à contaminação por transmissão entre pessoas. 

É importante ressaltar que os macacos (primatas não-humanos) não são os “vilões”, e sim vítimas como nós (humanos), e não devem sofrer nenhuma retaliação, tais como agressões, mortes, afugentamento, ou quaisquer tipos de maus-tratos por parte da população. 

O receio de contágio por transmissão desta e de outras doenças, como a febre amarela, pela proximidade com os macacos, não se justifica. Muitos microrganismos afetam a saúde de primatas humanos e não-humanos, sendo que muitas vezes os primatas adoecem antes e isto nos alerta antecipadamente sobre a presença de uma doença que pode causar impacto sobre a saúde das pessoas. Ou seja, os macacos servem como animais sentinela sobre o risco de estarmos expostos a doenças. 

Os primatas fazem parte da nossa biodiversidade, têm importante papel na manutenção das florestas e auxiliam nos serviços ecossistêmicos – serviços reguladores que a natureza nos presta, como na polinização, dispersão de sementes nativas, controle de pragas, etc. Com isso, os primatas contribuem com a manutenção da saúde ambiental e humana. 

Caso você possua algum primata não-humano e por receio dessa virose não se sinta confortável em mantê-lo, deve entrega-lo aos órgãos competentes, IBAMA ou Centro de Triagem de Animais Silvestres – CETAS, mesmo que o animal não seja de origem legal. Nunca o solte na natureza! Ao avistar algum macaco doente ou morto, avise os órgãos de saúde de seu município. Preserve os primatas!”.

SBPC/MG (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – Regional Minas Gerais)
– Tríade (Instituto Brasileiro para Medicina da Conservação) 
– Projeto Bugio/Furb – Universidade de Blumenau 
– Centro Nacional de Primatas
– Laboratório de Primatologia 
– Gecas (Grupo de Ecologia Aplicada/UFMT)
– Pró-Primatas Paulistas
– CPB/ICMBio
– ICMBio/MMA

Agora, assista ao vídeo do Fórum de Proteção Animal:


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Foto (destaque): Flávia Alonso/CCZ/Prefeitura de São José do Rio Preto

Fontes: Sociedade Brasileira de Primatologia, G1

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