Luz de vagalume sai na foto?

vagalume

Quando comecei a levar a fotografia mais a sério, em uma noite no início da época das chuvas no Pantanal esta pergunta veio à minha mente: seria possível registrar no filme fotográfico a luz dos vagalumes e pirilampos que, neste período do ano, dominam a paisagem noturna pantaneira?

Sim, ainda estávamos na era pré-digital, então as possibilidades técnicas para conseguir determinados tipos de imagens eram mais limitadas – ou ao menos exigiam recursos dos quais eu não dispunha na época. Eu imaginava que o brilho da luz emitida por eles era muito fraca e, como se moviam constantemente, seria difícil que ela sensibilizasse o filme e ficasse registrada na foto. Este pensamento me acompanhou por vários anos e acabou ficando esquecido dentre outras tantas ideias de fotografias que eu gostaria de fazer.

Me mudei do Pantanal e, durante muito tempo, não tive mais o privilégio de presenciar aquele espetáculo de luzes piscantes que tanto me encantava. Foi quando em um certo final de tarde de novembro, no pequeno fragmento de mata ao lado da minha casa atual, percebi que pela primeira vez estava ocorrendo uma cena parecida com a que eu costumava ver no Pantanal. Eram centenas de vagalumes e pirilampos piscando ritmadamente enquanto voavam pela floresta.

Eu já havia os visto naquela área, mas nunca em tanta quantidade ou com tanta intensidade. Imediatamente comecei a preparar o equipamento para fotografar a cena, já planejando quais seriam os ajustes necessários da câmera, enquadramento, composição, etc. Quando finalmente estava com tudo pronto, surpresa: as luzes tinham minguado e o breve espetáculo havia acabado. Penso que o gasto energético que estes insetos têm para emitir sua bioluminescência seja muito alto, então o fenômeno é naturalmente de curta duração todas as noites.

Mas fiquei atento e, para não esquecer, ativei um alarme para no dia seguinte me lembrar de preparar as coisas com antecedência suficiente, torcendo para que o espetáculo se repetisse – e felizmente ele se repetiu! É um tipo de fotografia desafiador, e por isto mesmo divertido de fazer. Como são necessários ajustes de foco e enquadramento críticos, o tempo de exposição é longo (nesta o obturador da câmera ficou aberto durante dois minutos) e o pico de atividade dos insetos não dura muito (cerca de 45 minutos), não era possível fazer mais do que cinco ou seis imagens por noite (a cena se repetiu por apenas cinco noites e depois os bichinhos minguaram). Isto me obrigou a diminuir o ritmo e voltar a pensar nos tempos da fotografia analógica, quando a gente não podia se dar ao “luxo” de manter o disparador da câmera pressionado para tirar dezenas de fotos de uma só vez.

Enquanto esperava a foto acontecer na escuridão da mata (pois eu tinha que permanecer com todas as luzes apagadas), me recordei daquela noite pantaneira anos antes, quando ainda fotografava com filme e ficava pensando se um dia conseguiria registrar o espetáculo de luz dos vagalumes e pirilampos…
Foto: Daniel De Granville

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Daniel De Granville

Biólogo com pós-graduação em Jornalismo Científico, começou a carreira fotográfica na década de 90, quando vivia no Pantanal e trabalhava como guia para fotógrafos renomados de várias partes do mundo, o que estimulou seu interesse pela atividade. Já apresentou exposições, palestras e cursos na Alemanha, EUA, Argentina e diversas regiões do Brasil. Em 2015 foi o vencedor do I Concurso de Fotografia de Natureza do Brasil, da AFNATURA, e em 2021 ganhou o primeiro prêmio na categoria “Paisagem” do Concurso Global da The Nature Conservancy. Vive atualmente em Florianópolis, onde tem se dedicado ao ensino de fotografia e continua operando expedições em busca de vida selvagem Brasil afora