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Luto no Parque das Aves: 172 flamingos morrem com ataque de onças-pintadas do Parque Nacional do Iguaçu

Luto no Parque das Aves: 172 flamingos morrem com ataque de onças-pintadas do Parque do Iguaçu

Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, está de luto e ficará fechado por três dias. Isto porque grande parte dos flamingos que lá viviam, há 26 anos – descendentes de flamingos resgatados na África – morreram nesta madrugada. Dos 176, sobreviveram apenas quatro, após o ataque de duas onças-pintadas do Parque Nacional do Iguaçu.

Foi uma fatalidade, um acontecimento inesperado, como destacam as representantes do Parque das Aves e do Projeto Onças do Iguaçu, que atua no Parque Nacional e monitora as onças.

“Identificamos, através de imagens das câmeras de monitoramento, os dois indivíduos que adentraram o Parque das Aves: trata-se de uma jovem fêmea, Indira (nascida em 2018), e seu filhote, Aritana. Entre os grandes felinos, é comum que a fêmea ensine seus filhotes a caçar, antes que se tornem completamente independentes”, explica Yara Barros, coordenadora executiva do Projeto Onças do Iguaçu, que está trabalhando junto com a equipe do Parque das Aves para averiguar a situação.

(em agosto, contamos aqui, no Conexão Planeta, sobre a escolha do nome do cacique indígena Yawalapiti, do Xingu, falecido no ano passado devido à covid-19, para batizar o filhote que nasceu este ano)

As onça- pintadas Indira e Aritana / Foto: reprodução vídeo

“Todas as medidas de segurança para evitar ataques já tinham sido tomadas, com nossa orientação e supervisão, mas como animais silvestres podem ter hábitos não previsíveis, o evento foi inesperado e o primeiro a acontecer nos mais de 27 anos de existência do Parque das Aves”, completa a bióloga. 

“Estamos todos desolados com a situação, pois cada animal aqui é um membro da nossa família”, conta Paloma Bosso, diretora técnica do Parque das Aves. “Nosso time conviveu diariamente com cada um deles trabalhando incansavelmente para oferecer sempre os melhores cuidados. Mas também temos ciência de que estamos em meio à floresta, um ambiente natural e povoado de vida silvestre. Essa fatalidade foi um evento inesperado”. 

Solidariedade e ataques

A primeira reação natural a partir de uma notícia tão trágica é ter pena dos flamingos por imaginar que foram devorados pelas onças. Por conta disso, as reações do público foram diversas. 

Parte reconheceu a fatalidade e se solidarizou com a equipe do Parque das Aves e os esforços do projeto Onças do Iguaçu, nas redes sociais. Mas outra parte reagiu de forma negativa, chegando a levantar suspeitas sobre a segurança do Parque Nacional e o possível ‘surto’ de onças no local.

No entanto, como em qualquer situação, antes de qualquer julgamento, é importante observar algumas particularidades deste acontecimento tão triste.

No que tange à causa da morte das aves, de acordo com Luciana Leite, diretora de engajamento e sustentabilidade do parque, “nem todos os flamingos morreram em decorrência do encontro direto com as onças-pintadas. Essa e outras espécies de aves, diante de um predador, registra um fenômeno chamado miopatia de captura, devido ao stress que a situação provoca, e vêm a óbito por parada cardíaca”. 

A equipe de veterinários está fazendo autópsia em todos os indivíduos para saber a causa da morte de cada um.

Para responder às suspeitas levantadas, o projeto Onças do Iguaçu, divulgou nota de esclarecimento, bastante detalhada, em suas redes sociais, que destaco e comento a seguir.

“Onças são animais selvagens, são carnívoros, exímios predadores. Elas caçam e se alimentam de outros animais. Não são cruéis. São onças. Nos perguntam se é seguro visitar os parques. Sim, é seguro! As onças sempre existiram na região e no Parque Nacional do Iguaçu, e não há um único registro de acidentes com pessoas em toda história. As onças tendem a se afastar de pessoas e buscar refúgio na mata, que é a sua casa e seu abrigo”.

Quanto à população de onças, o projeto salienta que não há qualquer possibilidade de ‘um surto’ – “que teria sido escondido para não provocar medo” –, pois há 28 indivíduos em 185 mil hectares, o que significa “uma quantidade pequena para a área em questão”. E ainda destaca que, em todo a Mata Atlântica existem apenas cerca de 250 onças-pintadas e que a espécie está criticamente ameaçada de extinção.

“Foi quase extinta na década de 90, mas, com muito esforço e a dedicação de muita gente conservacionista – além de lindeiros – vem se recuperando. Aos poucos, mas sempre inspirando cuidados. E precisamos do apoio de todos para continuar”.

Por fim, relembrando sua missão – proteger e conservar as onças-pintadas -, declara: “Nossas onças não precisam ser julgadas como criminosas. Precisam que nós transformemos nosso amor por elas em ações de conservação, para que possam ter chance de sobrevivência”.

Futuro e coexistência

Foto: Parque das Aves/Divulgação

Há 27 anos, a família Croukamp iniciou, em Foz do Iguaçu, um sonho: o de restaurar um dos biomas mais ameaçados do planeta e inspirar milhões de pessoas a protegê-lo, com o Parque das Aves, construído em meio à Mata Atlântica. 

Por quase três décadas, o Parque das Aves abrigou harmoniosamente estes animais, Manteve um Centro de Visitação que acolhe os habitantes sem que interfiram na floresta e na rotina desses animais e utilizando de medidas detentoras para evitar a aproximação de grandes felinos. 

“Pelo histórico do Parque das Aves no manejo destes animais há mais de 25 anos, não tínhamos razões para acreditar que um evento como este seria possível”, explica Paloma Bosso. 

“Somos uma instituição baseada em ciência e, em parceria com o projeto Onças do Iguaçu, já havíamos instalado, além da cerca que está em todo arredor do Parque, outros instrumentos desenvolvidos para repelir a presença destes animais no entorno do recinto dos flamingos. São utilizadas luzes pulsantes, medida reconhecida como eficaz para manter felinos afastados. Além disso, o recinto é monitorado por câmeras de segurança e também por armadilhas fotográficas”.

E Yara comenta: “O entorno do recinto dos flamingos tem luzes que piscam de forma intermitente e são mais eficientes do que luzes. Além disso, as armadilhas fotográficas instaladas em pontos estratégicos fazem o monitoramento constante da fauna silvestre que circula no entorno. Até esse incidente, nunca foram registrados grandes felinos nas proximidades do recinto dos flamingos”.

Ela ainda conta que o projeto que lidera já está trabalhando junto com o Parque das Aves para reforçar ainda mais as medidas de segurança que já existiam e eram eficazes, tanto que, em 27 anos, nunca havia acontecido algo parecido no local. E desenvolver um trabalho de monitoramento de longo prazo.

Tristeza no Parque

Foto: Parque das Aves/Divulgação

Todos os funcionários, em especial aqueles que cuidam desses animais há muitos anos, ficaram extremamente abalados. “Foi uma surpresa. É arrasador, não consigo nem explicar o que estou sentindo”, revela Mário Diba, o tratador que foi responsável pelos cuidados desses animais em quase três décadas. “Depois de tanto tempo de trabalho, luta e carinho por esses animais: é uma situação muito triste. Até agora não estou acreditando. Acho que a gente não vai esquecer disso tão cedo”.

“A nossa equipe está em luto. A nossa maior preocupação neste momento é acolher os nossos colaboradores, muito fragilizados por tudo que aconteceu. É uma cicatriz na história do Parque das Aves. Estamos tristes, mas também confiantes que daqui pra frente nos reergueremos, como fizemos outras vezes”, declara Anna Croukamp, fundadora do Parque das Aves.

A colônia de flamingos

Foto: Parque das Aves/Divulgação

Em 1995, o Parque das Aves recebeu 16 flamingos africanos resgatados de uma salina localizada entre a África do Sul e Botswana. Devido a uma seca extrema na região, que chegou antes do término do período reprodutivo, dezenas de filhotes de flamingos haviam sido abandonados pelos casais que migraram em busca de melhores condições. 

Sem cuidado parental, estes filhotes morreriam. Foi, então, que o Umgeni River Bird Park, na África do Sul, os resgatou e encaminhou para instituições de conservação em todo o mundo.

Em Foz do Iguaçu, os flamingos encontraram uma segunda chance de vida e deram início à colônia que se fortaleceu nos últimos 26 anos. O primeiro filhote nasceu em 2001.

Ao longo desses anos, o Parque das Aves desenvolveu e implementou técnicas de reprodução e bem-estar animalconsideradas um caso de sucesso que resultou numa colônia de 176 flamingos chilenos e africanos.

Com informações do Parque das Aves e do Projeto Onças do Iguaçu

Foto: Parque das Aves/Divulgação

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