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‘Legado das Águas’ é um dos últimos refúgios contra a extinção do muriqui-do-sul, o maior macaco das Américas

Espécie natural da Mata Atlântica, o muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides, que tem a cada preta) está em risco de extinção, o que deixa o bioma em estado de vulnerabilidade também, já que ele contribui para a manutenção de seus ciclos hidrológicos, também imprescindíveis para o abastecimento de grandes centros urbanos como a região sudeste do Brasil.

Para ajudar a reverter esse cenário delicado na região do Vale do Ribeira, estado de São Paulo, há sete anos o Legado das Águasmaior reserva privada de Mata Atlântica no Brasil – iniciou uma linda parceria com o Instituto Pró-Muriqui, pautando seus esforços, para proteger a espécie, na pesquisa cientifica.

Recentemente, veio o reconhecimento por essa acertada decisão: a reserva foi classificada como Área Prioritária Global para a conservação do de muriqui-do-sul, por abrigar uma das três populações mais importantes do mundo. A indicação veio da IUCN (União Internacional Para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais), entidade internacional que influencia legislações e políticas de conservação nas esferas pública e privada.

Assim, o Legado das Águas torna-se, oficialmente, um polo mundial para pesquisas do maior macaco das Américas tem um metro e meio de comprimento, e inclui o muriqui-do-norte – Brachyteles hypoxanthus -, que vive em Minas Gerais e Espírito Santo, mas tem a cara rosada -, podendo receber cientistas, instituições, doações e recursos do mundo todo em prol de sua conservação.

O pesquisador Maurício Talebi – responsável pelo estudo realizado no Legado das Águas desde 2013 e pela autoria principal dos artigos científicos que resultaram na classificação da reserva -, salienta a importância desse reconhecimento neste momento tão crucial: “Na recente versão da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN, o muriqui-do-sul passou para a categoria criticamente em perigo, que é o último estágio antes da espécie ser considerada extinta na natureza”. 

No Brasil, a estimativa aponta a existência de apenas 1.200 muriquis-do-sul na natureza, que vivem entre os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Hoje, os três maiores grupos habitam o Parque Estadual Carlos Botelho, a Serra do Mar e o Legado das Águas, que fica no Vale do Ribeira. Todos no estado de São Paulo.

Reprodução e sobrevivência

No Legado, que se estende por 31 mil hectares de mata contínua, em alto grau de conservação e com alimento abundante, há aproximadamente 100 indivíduos. Certamente, o controle e o monitoramento da presença humana e a conexão com importantes Unidades de Conservação (UCs), formando um corredor ecológico, colaboram para esse resultado. Talebi explica:

“As características únicas do Legado das Águas tornam a população viável, ou seja, com maior probabilidade de persistir nos próximos 100 anos, principalmente por boas condições para reprodução e sobrevivência“. E acrescenta: “Com investimento para ações conservacionistas, temos a possibilidade de reverter o perigoso quadro que aflige esses primatas e, por consequência, os humanos. A IUCN é um dos principais instrumentos que norteiam a atividade científica no mundo, e ser reconhecida como Área Prioritária por essa entidade é ter o maior e melhor atestado possível de importância global da conservação da Mata Atlântica”. 

Vale destacar que Talebi é um dos organizadores e um dos autores principais do PAN Muriquis – Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Muriquis, lançado pelo ICMBio em 2010, que tem, por objetivo, aumentar o conhecimento e a proteção das populações desses primatas.

Entre as diversas ações propostas pelo Plano está a parceria com a iniciativa privada, apontada como um meio de viabilizar o desenvolvimento de atividades de conservação da natureza. “Apesar dos recursos financeiros escassos para projetos ambientais, existem novas tendências globais que envolvem principalmente investimentos de empresas que entendem o valor econômico da Mata Atlântica. Com a parceria do Legado das Águas no desenvolvimento da pesquisa na reserva, chamamos a atenção do mundo todo para essa questão urgente dos muriquis”, completa o pesquisador. 

“Plantar macaco para colher floresta e água”

Assim, Talebi resume a importância do muriqui-do-sul para a Mata Atlântica e, consequente para o desenvolvimento sustentável da região. Se quisermos traduzir esse cenário para a linguagem econômica, não é exagero dizer que a espécie é essencial para o equilíbrio da Mata Atlântica, representando 70% do PIB do país, já que ele é considerado o jardineiro da floresta. E o pesquisador explica: “sua rica dieta em frutos nativos da floresta, transforma o muriqui-do-sul no principal dispersor de sementes entre os primatas endêmicos. Em um raio de dois quilômetros, ele chega a dispersar até 50 espécies, principalmente de árvores de grande porte”. 

Em outras palavras, a extinção local do muriqui-do-sul, em 30 a 50 anos, pode causar um grave empobrecimento da variedade de espécies arbóreas e, por consequência, afetar a cadeia alimentar de outros animais. Isso significa que, em um espaço médio de tempo, a qualidade da floresta estaria comprometida em muitos quilômetros, o que impactaria os mananciais e resultaria em escassez de recurso hídrico.

Portanto, por ser um eficiente jardineiro da floresta, o muriqui-do-sul é também um importante agente na conservação da água potável. E Talebi alerta: “O impacto da extinção que ocorre naturalmente é corrigido pela própria natureza. Mas o impacto causado pela atividade humana, demanda investimentos impraticáveis ou tecnologias inexistentes. Ainda dá tempo para evitarmos mais baixas, e sem dúvida, o custo é bem menor”.

Conservar e lucrar  

Foto: Luciano Candisani

Por ser endêmico da Mata Atlântica – ou seja, não pode ser encontrado em nenhum outro lugar no mundo – e indicando de saúde da natureza, o muriqui-do-sul é um símbolo de conservação desse bioma. Por isso, Frineia Rezende, gerente executiva da Reservas Votorantim – que administra o Legado das Águas – considera a presença da espécie como um atrativo para investimentos na preservação

“A conservação da biodiversidade brasileira não é importante só para o país, mas para a maioria dos setores econômicos em escala global. Por isso, o Brasil é apto a receber investimentos que garantam a proteção de nossos biomas e de seus recursos naturais, com cuidados para cada espécie da biodiversidade nativa. No entanto, as endêmicas têm maior atenção, pois os danos de uma extinção podem ser fatais e irreversíveis à natureza e, consequentemente, aos seres humanos”, explica. 

Para ela, o reconhecimento do Legado das Águas como Área Prioritária Global deve ser um exemplo para inspirar a presença da conservação da biodiversidade na agenda do setor privado. “Ao contrário do que muitos pensam, áreas protegidas, públicas e privadas não devem ser espaços intocáveis, mas, sim, garantir a proteção da biodiversidade e dos recursos naturais, e o Legado é uma prova disso”.

A executiva lembra que a reserva tem um portfólio rico em soluções baseadas na natureza, o que permite fazer negócio sem precisar destruir um centímetro sequer de floresta: “vamos da pesquisa científica ao desenvolvimento de produtos e serviços baseados no uso responsável de recursos“.

E destaca a riqueza especial da Mata Atlântica paulista, além da população local: “O Brasil é um riquíssimo campo para conservação em terras privadas, pois possui uma quantidade significativa de remanescentes dos diferentes biomas, e no caso do estado de São Paulo, a Mata Atlântica, o bioma mais megadiverso do mundo e com muitas possibilidades de arranjos econômicos que garantam a promoção da sociobiodiversidade”. 

Fotos: Miguel Flores/Divulgação

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