Atualizado em 22/11/2019
Adaptação em Sergipe – “Lady está se adaptando muito bem à caixa de transporte”, contou o pessoal do Santuário Elefantes Brasil em seu Instagram. O diretor, Scott Blais, e veterinários de sua equipe estão acompanhando a elefanta. “Ela é muito calma e curiosa. Tudo está correndo da melhor forma possível”. E destacam o cuidado com suas patas, que “serão imersas em uma infusão – água aquecida e algumas ervas -, hoje e amanhã, para reduzir um pouco a inflamação. O problema é comum em elefantes de cativeiro, pois vivem em espaços reduzidos, não são bem cuidados e passam muito tempo sobre superfícies duras como cimento ou concreto. As patas ficam mais finas, as unhas se quebram, tornando-se suscetíveis a infecção e osteomielite”. Conheça a história de Lady a seguir.
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Lady tem 46 anos, passou a maior parte de sua vida – 40 anos – em circos, e seis em um zoológico. Em 2013, foi resgatada do Circo Europeu Internacional pelo IBAMA do Rio Grande do Norte e enviada para o Parque Zoobotânico Arruda Câmara, mais conhecido como Bica, em João Pessoa (PB), onde ainda vive, em condições precárias.
Após longa negociação, em 30 de outubro, o futuro da elefanta asiática foi decidido em audiência pública e ela será transferida para o Santuário de Elefantes Brasil (SEB), na Chapada dos Guimarães, Mato Grosso. Ou seja, é lá – onde moram Ramba, Rana e Maia – que ela vai viver livre, tranquila e passará por cuidados especiais, até o fim da vida.
O santuário e suas adoráveis moradoras
Sei que nem todos os nossos leitores acompanharam a trajetória deste santuário desde sua implantação, então vou contar sua história e de suas ilustres habitantes, aqui, rapidamente.
O SEB é o primeiro santuário de elefantes da América Latina e ficou pronto em 2016, quando recebeu suas primeiras moradoras: Maia e Guida, duas elefantas asiáticas tiradas de suas famílias ainda bebês para viverem em circos. Em janeiro deste ano, Rana, que vivia no zoológico de um hotel fazenda em Aracaju, Sergipe, se juntou a elas. Em julho deste ano, Guida morreu inesperadamente, como contamos aqui, no Conexão Planeta.
A última a chegar ao santuário foi Ramba, em outubro. Ela veio do Parque de Rancágua, próximo à Cordilheira dos Andes, no Chile, numa operação fantástica de logística e transporte, que relatamos também. Relatamos também sua reação ao chegar no santuário e o primeiro encontro com Maia e Rana. Veja as três elefantas absolutamente integradas, em foto recente, abaixo.
Vale ressaltar que todos os elefantes traficados de seus lugares de origem (Ásia e África) para trabalhar em circos, foram maltratados durante muitos anos e apresentam sequelas físicas e de comportamento. Por mais que, no Santuário, as elefantas vivam bem e livres, e passem por um processo muito amoroso de reabilitação, elas podem ter pouco tempo de vida, como foi o caso de Guida. Cada uma tem respondido de um jeito muito peculiar ao novo lar. Mas, em geral, parece que as três moradoras se recuperam bem, como atesta o Santuário, quase todos os dias, em seu perfil no Instagram.
Maus-tratos e sequelas
No caso de Lady, os especialistas do SEB a acompanhavam desde 2010, “quando ainda estava em outro circo, se apresentando em Minas Gerais”, conta Kat Blais, diretora e veterinária. Os maus tratos eram constantes, lá e depois, num circo no Rio Grande do Norte, até que, há seis anos, ela foi transferida pelo Ibama para o zoo da Bica, que não tinha um recinto apropriado para recebê-la, mas sua direção garantiu que ela ficaria num espaço provisório, enquanto o ideal seria construído.
No entanto, em janeiro de 2014, “quase um ano após ser confiscada”, ativistas, mídia e políticos. denunciaram o zoo por causa das condições em que Lady era mantida: ela continuava no mesmo espaço, sem acompanhamento veterinário. “Acompanhávamos sua situação, quando o Deputado Ricardo Tripoli entrou em contato conosco, solicitando que fôssemos a João Pessoa ajudar no que fosse possível”. E assim começou a história que aproximaria Lady de Kat e Scott Blais, que fundou o SEB.
Eles tiveram conversas com a prefeitura e a Secretaria do Meio Ambiente de João Pessoa. Enviaram um dos membros do conselho do santuário para visitá-la e reunir-se com veterinários e o diretor do zoo, além do secretário. A situação de Lady era preocupante: ela estava acorrentada (sim, é difícil manter um animal tão grande num espaço tão pequeno sem colocar pessoas e o próprio animal em risco), num local muito pequeno “onde podia dar somente alguns passos”.
Em julho deste ano, uma perícia de médicos veterinários enviados pelo Ministério Público Federal (MPF) indicou que Lady sofria maus-tratos e corria risco de morte. A prefeitura ainda tentou rebater o relatório dos veterinários, propôs nova perícia, mas, em 7 de agosto, a gestão municipal divulgou comunicado à imprensa declarando que ela deveria ser transferida para “um lugar mais adequado”.
Kat explica o real estado da elefanta. “Sua saúde estava comprometida devido à falta de cuidados veterinários durante sua vida em cativeiro. Os problemas em sua patas se agravaram, ela sofre de osteomielite (inflamação do osso causada por infecção) e de uma doença em um dos olhos provocada pelas luzes dos espetáculos dos circos. Lady tem muitas necessidades e o zoo não pode atendê-las. Não porque não desejemos isso, mas porque não há estrutura adequada e segura para o tratamento e nem experiência suficiente com elefantes”. Diagnóstico terrível.
(Ramba, uma das futuras amigas de Lady, também sofre de doença incurável nas patas, mas tem sido muito bem tratada pelos veterinários do santuário, e apresenta melhoras significativas)
Do zoo ao santuário em 45 dias
Iniciaram-se, então, conversas e negociações entre o SEB, associações de proteção animal, o Ibama, a Secretaria do Meio Ambiente e o poder público. Depois de longo tempo, foi feita uma avaliação técnica das instalações do santuário e, em 30 de outubro, em audiência pública em João Pessoa foi decidida a transferência definitiva de Lady, que deve deixar a Bica em 45 dias.
Ontem, 14 de novembro, a caixa de transpore que levará Lady para o Santuário dos Elefantes, saiu de lá rumo ao zoológico em João Pessoa, Paraíba, onde chegará em seis dias. Veja no post do Instagram que reproduzimos mais abaixo.
Quem acompanhou o resgate de Maia e Guida, de Rana e de Ramba sabe o quanto esse tipo de operação é complexa. Começa com o carregamento da caixa, seu transporte e descarregamento no destino. Segue com a adaptação da elefanta à caixa, o que pode levar dias. Ela é treinada: atraída para a caixa com alimentos; depois atraída para fora. Assim que parecer familiarizada, será feito seu carregamento no caminhão, de forma lenta e tranquila. Em seguida, Lady e a equipe do Santuário – liderada por Scott, expert em transporte de elefantes – viajarão vários dias (quantos, dependerá da reação de Lady), calmamente e com monitoramento constante, até sua chegada ao Santuário.
Como destaca a assessoria do Santuário, “tudo está sendo feito e será feito para manter a integridade e o bem-estar de Lady”. Só lembrar do empenho do SEB durante o resgate de Ramba para ter certeza de que assim será, agora.
Os próximos moradores do Santuário
Nas redes sociais, o Santuário dos Elefantes do Brasil já anunciou a vinda de mais quatro adoráveis elefantes da Argentina, conhecidos como Mendoza4: Pocha e Guilhermina (mãe e filha), Kenya e Tamy, o único macho candidato a morar no SEB, até agora. Veja o quarteto no post do Instagram do santuário, que reproduzimos abaixo:
Eles vivem no Ecoparque de Mendoza e já está tudo acertado para sua doação ao SEB. Mas ainda demora para os quatro estarem juntos, em paz, na Chapada dos Guimarães.
Pocha e Guilhermina, ambas asiáticas, serão as duas primeiras a chegar ao Santuário porque compartilharão o mesmo habitat de Maia, Rana e Ramba.
Kenya, que é africana, terá uma morada especial, que ainda está em fase final de construção: o galpão está pronto, as cercas parcialmente erguidas, mas ainda faltam vigas de aço para finaliza-lo. As duas espécies precisam ser mantidas separadas e, para abrigar, outros elefantes africanos, é preciso expandir a área, que ficará semelhante a dos elefantes asiáticos.
Tamy será o último elefante resgatado pois precisará de um habitat próprio, com cercas maiores e mais fortes, especialmente projetadas para machos. Ficará para 2020. É uma obra que carece de recursos, que ainda serão captados.
Além disso, ainda há um outro detalhe: faltam licenças de importação e não há uma data definida para isso. Como Guilhermina nasceu no zoológico, seu documento é mais fácil de resolver.
Para saber mais, acompanhe o Santuário dos Elefantes nas redes sociais: Instagram e Facebook.
Aqui, no Conexão Planeta, estamos atentas a qualquer movimentação. A próxima notícia certamente será sobre a viagem de Lady para o santuário e sua chegada. Aguardem.
Agora, assista a alguns momentos do quarteto de elefantes de Mendoza:
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Fotos: Alessandro Potter/Bica (destaque) e as demais Divulgação/SEB