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Jucá é forte aliado contra envelhecimento da pele

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Os primeiros testes visavam comprovar as ações anti-inflamatória, antisséptica e cicatrizante, popularmente atribuídas à casca de uma árvore comum na Amazônia e na Mata Atlântica. Mas os pesquisadores observaram outra atividade de grande interesse entre os compostos do extrato das cascas e das vagens do jucá ou pau-ferro (Libidibia ferrea): a inibição dos sinais de envelhecimento da pele, como a perda de elasticidade e firmeza e o aparecimento de manchas.

Então, a pesquisa iniciada na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), pelo grupo liderado pelo doutor em Farmácia, Emerson Silva Lima, acabou se estendendo até a Universidade de São Paulo (USP), com a parceria com a equipe coordenada pela doutora em Biologia Funcional e Molecular, Silvya Stuchi Maria-Engler, e ainda incluiu uma temporada da pós-graduanda Tatiana do Nascimento Pedrosa na Bélgica. Tatiana fez os primeiros ensaios in vitro do uso tópico do extrato de jucá e comprovou suas atividades antienvelhecimento e clareadora. Para isso, usou um tipo de pele artificial que aprendeu a fazer na Europa, empregando células de pele humana cultivadas em laboratório.

O pau-ferro é uma árvore vistosa, de tronco liso e claro, que solta pedaços da casca espontaneamente. Possui madeira resistente e oferece boa sombra, sendo muito usada em paisagismo urbano. As folhas são miúdas, as flores amarelas recebem a visita de abelhas melíferas e os frutos são vagens de 5 a 10 centímetros, escuras e duras, com meia dúzia de sementes cada. Tanto nas florestas como nas cidades, a espécie pode chegar a 30 metros de altura.

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Entre as substâncias e os compostos identificados nas cascas e nas vagens, estão o ácido gálico, a catecina e a epicatecina: um ácido orgânico e dois polifenóis que agem contra a enzima tirosinase, a grande vilã dos sinais de envelhecimento. A tirosinase degrada o colágeno e a elastina, que garantem a firmeza e a elasticidade da pele. Com o tempo – e a contribuição nociva dos raios solares, da poluição e do tabagismo – os tecidos sofrem um processo de oxidação e a pele produz essa e outras enzimas responsáveis pela degradação. Como consequência, a pele fica flácida, surgem rugas e manchas.

Ao inibir a ação oxidante, o extrato de jucá retarda rugas e flacidez, além de promover a despigmentação. “Mas não recomendo o uso do extrato direto na pele”, pondera Tatiana Pedrosa. “Ainda são necessários testes clínicos e o estudo da formulação de cosméticos para garantir a segurança do produto e isso pode levar muitos anos, a menos que alguma empresa se interesse em investir no desenvolvimento”.

A pesquisadora agora trabalha no cultivo de peles artificiais envelhecidas e com manchas, para testar possíveis reações aos cosméticos à base de jucá, como sensibilidade, irritação e corrosão. O uso dessa técnica é um passo importante para a eliminação de testes em animais. Ela também se dedica à cultura de peles artificiais com dermatite atópica, uma doença inflamatória, de incidência crescente, que afeta especialmente crianças e provoca muita coceira e feridas. “Saí do Amazonas para São Paulo com a ideia de trabalhar apenas com produtos naturais e gerar novos compostos, mas fiquei sensibilizada com a dermatite atópica. Por isso, pretendo continuar pesquisando a possibilidade de desenvolver uma pele artificial com essa doença na busca de uma cura ou tratamento”, relata a doutoranda.

No Amazonas, o grupo de pesquisa continua trabalhando com o jucá. “A espécie faz parte do nosso portfólio, que inclui a tecnologia de produção; formulações em gel, cremes e fitoterápicos”, acrescenta Emerson Lima. O extrato de pau-ferro ainda tem uso no tratamento do diabetes, como antiglicemiante, e já pode ser encontrado no mercado como sabonete íntimo feminino, como antisséptico. Como se vê, sobram qualidades desejáveis ao extrato. Só falta mesmo é incentivo para as indústrias cosmética e farmacêutica investirem no potencial da biodiversidade brasileira.

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Fotos: Liana John (pau-ferro, ao alto; detalhe da casca, ao centro e vagens maduras, acima)

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