Jardins da Arara de Lear: livro conta a história linda da descoberta desta espécie em risco de extinção


O fotógrafo João Marcos Rosa faz parte da nossa rede linda de colaboradores, praticamente desde o início do Conexão Planeta, em 2015. Pouco tempo depois que lançamos o site, ele me procurou se oferecendo pra fazer parte desta família. Fiquei envaidecida porque sempre o admirei, desde os tempos em que eu trabalhava num site de sustentabilidade (Planeta Sustentável) na Editora Abril e ele já colaborava com a National Geographic Brasil.

E, assim, João começou a escrever no blog coletivo de fotógrafos Por Trás das Câmeras, revelando histórias deliciosas de suas andanças pelo Brasil, em expedições que promove ou na companhia de pesquisadores em missões especiais de conservação. E durante estes dois anos em que tenho o prazer de editar seus posts e também de contar com suas preciosas imagens para ilustrar outros textos, foi muito natural associar a arara azul à ele.

Em 2016, João lançou livro dedicado à espécie – Arara-azul Carajás (Nitro) -, que é o maior psitacídeo do mundo. E, agora, junto com o escritor Gustavo Nolasco (ambos do coletivo de histórias visuais Nitro), nos brinda com mais uma publicação preciosa: Jardins da Arara de Lear, também pela Nitro, que, até novembro, tem cinco lançamentos programados:

São Paulo, em 21/9: Doc Galeria – Rua Aspicuelta, 145, Vila Madalena, a partir das 19h;
Canudos/BA, em 4/10: Espaço Kátia Chelle – Rua Santo Antônio, 38, Centro, a partir das 18h;
Euclides da Cunha/BA, em 5/10: Casa de Cultura – Avenida Rui Barbosa, 236, Centro, a partir das 19h;
Belo Horizonte, em 7/10: Livraria Scriptum, Rua Fernandes Tourinho, 99, Savassi, a partir das 10h e
Feira de Santana/BA, em 10/11: Centro Universitário de Cultura e Arte da UEFS, Rua Conselheiro Franco, 66, Centro, a partir das 19h.

Arara azul, cultura, costumes e ideais

A ideia do livro surgiu da batalha e dedicação do projeto Jardins da Arara de Lear (que inspirou o título), que vem lutando pela preservação e ampliação das áreas de alimentação deste animal tão brasileiro, sertanejo e resistente do sertão baiano.

Assim, os amigos mineiros revelam um dos maiores enigmas da ornitologia mundial, ocorrido no sertão da Bahia, bem próximo da quase mitológica Canudos, e protagonizado pelo naturalista alemão Helmut Sick, em 1979.

Com fotografia, poesia e narrativas deliciosas, eles refazem a saga e a trajetória do pesquisador que, depois de muitas tentativas frustradas e inúmeras expedições, encontrou a arara-azul-de-lear (Anodorynchus leari), espécie que se manteve misteriosa por 250 anos. João e Gustavo* também homenageiam a resistência e a coragem das mulheres e dos homens sertanejos, de sangue e de alma, que lutam pela preservação desta espécie que ainda está sob risco de extinção.

Assim, durante um ano, eles percorreram toda a região do sertão da Bahia, onde o alemão descobriu as primeiras pistas da existência da ave. A viagem incluiu passagens pelos paredões e grotões da Caatinga nas cidades de Jereamoabo, Euclides da Cunha, Paulo Afonso e Canudos, além do temido Raso da Catarina, uma das áreas mais áridas do Brasil. Não é preciso dizer que trouxeram na bagagem, além de belíssimas imagens da arara-azul-de-lear, retratos e histórias dos personagens sertanejos que sempre estiveram presentes na luta pela preservação dessa espécie única da fauna brasileira.

Com mais um detalhe bacana: durante o trabalho de pesquisa, João e Gustavo tiveram a companhia do fotógrafo e diretor Bruno Magalhães que quer adaptar o livro para o cinema. “Folheando as páginas do livro, percebo como a busca incansável do João pelas imagens e o desvendar de Gustavo por histórias épicas revelam uma causa muito maior do que a luta em prol de uma espécie em risco de extinção. Enxergo nesta obra um desejo de se preservar cultura, costumes e ideais. Tudo que a sobrevivência desta arara nordestina envolve. Narrativas sertanejas de luta e resistência, que, mesmo ásperas e duras, soam encantadoras e inspiradoras”, relata Bruno.

Um pouco da história de Sick e da descoberta da arara rara

O naturalista alemão Helmut Sick era obsessivo. Preso político durante a Segunda Guerra Mundial, veio para o Brasil assim que foi libertado e já iniciou suas pesquisas sobre a arara-azul-de-lear, dedicando-se a desvendar seu enigma. A única pista que tinha era um desenho misterioso, feito em 1830, na Inglaterra, pelo ilustrador Edward Lear.

Sick dedicou anos de sua vida à essa busca e, quando já estava doente e sentindo que aquela poderia ser a última de uma dezena de expedições pelo interior do país, descobriu o habitat da espécie da Caatinga do sertão baiano. Até então ela só tinha sido vista em cativeiro ou na ilustração de Lear.

A descoberta provocou alegria, mas também apreensão. Sick logo percebeu que a arara estava praticamente dizimada já que haviam apenas 21 aves da espécie, ou seja, a espécie já estava em risco de extinção. “Mas sertaneja que é, a arara-azul-de-lear resistiu”, contam João e Gustavo.

Antes de mergulhar em algumas imagens feitas para o livro, saiba um pouco mais sobre os autores, que aparecem na foto ao lado, junto com um sertanejo.

João e Gustavo são mineiros e integram o coletivo de histórias visuais Nitro, que completa 15 anos em 2018.

João (à esquerda) é fotógrafo, jornalista, colaborador da National Geographic e do Conexão Planeta. Também é autor dos livros Harpia (2010) e Arara-azul Carajás (2015). Gustavo é de Mariana/MG, e autor de outros dois livros: Os Chicos (2012) e Nossa Sala de Troféus (2016).

Agora, boa viagem visual à Caatinga, com as fotos de João e as Araras de Lear!

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.