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Isa e Fera aprenderam a ser selvagens

Foi um 2014 de águas avassaladoras em Corumbá, Mato Grosso do Sul. O Rio Paraguai em cheia engoliu a periferia da cidade. O resultado: onças-pintadas dando em árvores.

No quintal de uma casa, sobre a copa da mangueira frondosa e, por sorte, bem forte, uma fêmea com dois filhotes descansavam da grande travessia do rio.

Para as três, o descanso que deveria ser algo corriqueiro, ainda que tão próximo dos humanos, tornou-se uma tragédia.

A polícia ambiental e o corpo de bombeiros, acompanhados por uma veterinária, sedaram a mãe, usando dardos com tranquilizantes. Desacordada, ela caiu no leito do rio e morreu afogada. Deixou órfãs duas fêmeas pequenas.

Como filhotes de onças aprendem todas as lições de vida com a mãe, e não teriam mais tais ensinamentos, o protocolo mandaria que elas fossem levadas para o cativeiro, cresceriam em recintos, órfãs também do direito à liberdade.

Porém, numa proposta audaciosa as duas oncinhas ganharam uma segunda chance, nascida da parceria entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Projeto Onçafari.

Por meses, as irmãs foram abrigadas em um belo recinto com bastante vegetação dentro, comida farta e acompanhamento veterinário no interior de São Paulo. Depois foram transportadas até Miranda, no Mato Grosso do Sul. À espera delas estava uma área de 10.000 m² construída no Refúgio Ecológico Caiman.

Deixadas sozinhas, sem contato direto com o ser humano, entenderam o que a mãe não pode lhes ensinar: aprenderam a ser selvagens. Ainda sem noção da própria força, os filhotes chegaram a temer capivaras, queixadas e jacarés.

Porém, quando a fome apertava, perceberam que precisavam comer, que a água não era limite para elas, que com as próprias garras poderiam chegar ao topo das árvores.

Isa e Fera aprenderam a ser selvagens
Fera, monitorada, em registro de Adriano Gambarini

Após um ano inteiro de descobertas, de traçarem por conta própria estratégias de caça e de sobrevivência, elas convenceram os pesquisadores de que estavam prontas para voltar à natureza.

Receberam em seus pescoços radio-colares que permitem que os cientistas conheçam suas localizações, seus movimentos, sua atividade diária.

Em junho de 2016 viram, pela primeira vez, a porta do recinto aberta. Ganharam novos rumos. Ganharam sua liberdade de volta.

Isa e Fera estão soltas e vivas no Pantanal, já com filhos e netos (como o Conexao Planeta já contou: links abaixo), para a alegria daqueles que orquestraram a primeira experiência bem sucedida de soltura da espécie símbolo de um bioma inteiro.

Abaixo, mais registros de Adriano Gambarini da Fera, monitorada.

Isa e Fera aprenderam a ser selvagens
Isa e Fera aprenderam a ser selvagens
Isa e Fera aprenderam a ser selvagens

Fotos: Adriano Gambarini

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