Infestação de gafanhotos atinge Índia e Paquistão, a pior já enfrentada por esses países nas últimas décadas

gafanhotos

Primeiro, foram os países africanos. Em janeiro de 2019, lavouras da Etiópia, Quênia e Somália foram destruídas por imensos enxames de gafanhotos. Com cerca de 19 milhões de habitantes, a região, que já têm dificuldade em conseguir alimentos por causa de secas prolongadas, precisou combater a infestação desses insetos, conforme contamos nesta outra reportagem.

Em abril, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) fez mais um alerta, que uma nova onda de proliferação dos gafanhotos poderia tornar a situação ainda mais fora de controle e que outros 20 milhões de pessoas e sua segurança alimentar poderiam ser afetadas, na Tanzânia, Uganda e Sudão do Sul e também, Irã e Yemen.

Agora, em maio, é a vez de Índia e Paquistão serem atingidos pela praga – a pior infestação dos últimos 25 anos. De acordo com a FAO, apesar das operações de controle, as recentes fortes chuvas criaram as condições ideais para a reprodução do gafanhoto em vários países. Os filhotes se tornarão adultos vorazes em junho, assim que os agricultores começarem suas colheitas, dando lugar a uma situação ainda mais sombria.

“Os gafanhotos, combinados com os impactos da COVID-19, podem ter consequências catastróficas nos meios de subsistência e segurança alimentar”, afirmou QU Dongyu, diretor geral da organização.

A região norte da Índia é a que tem sido mais impactada. Segundo moradores de Rajasthan, Madhya Pradesh, Gujarat e Punjab, o dia vira noite quando os gafanhotos tomam o céu. 50 mil hectares de propriedades já foram destruídas pelos insetos, que devoraram colheitas.

A expectativa agora do Ministério da Agricultura da Índia é controlar a invasão antes que a estação das monções (de fortes chuvas) chegue no final de junho, o que aumentaria ainda mais a reprodução dos gafanhotos e comprometeria a produção de arroz, milho e sorgo.

Quando ainda jovens, não totalmente maduros, esses insetos têm a capacidade de causar mais danos, pois têm uma vida útil mais longa.

Infestação de gafanhotos atinge Índia e Paquistão, a pior já enfrentada por esses países nas últimas décadas

O gafanhoto do deserto (Schistocerca gregaria) é uma espécie tida como a praga migratória mais antiga da humanidade. Cada enxame contém milhões de insetos, que podem percorrer uma distância de até 150 km por dia e comer o equivalente ao seu próprio peso em 24 horas, aproximadamente duas gramas. Um único enxame, cobrindo uma área de 1 km2 , pode conter até 80 milhões de gafanhotos.

“Se as infestações não forem detectadas e controladas, o impacto dessas pragas devastadoras pode permanecer por vários anos e centenas de milhões de dólares gastos, com graves consequências na segurança alimentar e nos meios de subsistência das comunidades afetadas”, destaca a organização da ONU.

Dada à situação sem controle atual, o melhor método para erradicar os gafanhotos é com operações aéreas.

“Além das atividades de controle de pragas, nossa resposta deve incluir esforços para restaurar os meios de subsistência das pessoas”, diz o diretor da FAO. “As comunidades da África Oriental já foram afetadas por secas prolongadas, que diminuíram suas capacidades de cultivar alimentos e ganhar a vida. Precisamos ajudá-los a se reerguer assim que os gafanhotos acabarem”.

Desde junho de 2019, há uma reprodução crescente também de gafanhotos do deserto na Índia, Irã e Paquistão. Alguns desses enxames migraram para o sul do Irã, onde chuvas fortes recentes permitiram a postura de ovos. Egito, Eritreia, Arábia Saudita, Sudão e Iêmen também têm registrado uma atividade reprodutiva substancial.

*Com informações da FAO e dos jornais The Guardian e The Hindu

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Foto: divulgação/Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura/Giampiero Diana (abertura) e Sven Torfinn (mulher na lavoura)

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.