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“Incêndios foram catastróficos, sem precedentes”, diz Neiva Guedes sobre impacto na área das araras-azuis

"Incêndios foram catastróficos, sem precedentes", diz Neiva Guedes sobre impacto na área das araras-azuis

Em um período de apenas 24 horas na semana passada, os incêndios no Mato Grosso do Sul consumiram mais de 100 mil hectares. O fogo foi intenso e rápido. 80% da área do refúgio ecológico Caiman, no município de Miranda, foi destruída. É lá que funciona há mais de 30 anos uma das bases do Instituto Arara Azul, que trabalha pela conservação da Anodorhynchus hyacinthinus.

Com 1 metro de comprimento, da ponta do bico até a ponta da cauda, ela é a maior espécie no mundo da família Psittacidae. Na região do Pantanal, 90% dos seus ninhos são feitos em palmeiras e reutilizados por elas de ano para ano. Nessas árvores é onde as araras-azuis também encontram os frutos com os quais se alimentam. E muitas delas agora não existem mais. A nova tragédia no Pantanal acontece bem no início do período de reprodução da espécie.

“O fogo varreu a Caiman. Em menos de três dias estava tudo queimado. Árvores centenárias estão tombadas. Foi muito trágico, é muito impactante. Ali estava a nossa principal área de estudo”, diz a bióloga Neiva Guedes, fundadora e diretora do Instituto Arara Azul.

Ainda não se tem uma estimativa do total de palmeiras e ninhos (naturais e artificiais) destruídos. Sabe-se que pelo menos dois desses últimos foram perdidos, um deles ativo, ou seja, estava com ovos dentro.

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A avaliação das perdas continuará, mas a ação emergencial agora é remanejar os ninhos artificiais das árvores caídas para outras. O que não está se provando tarefa fácil. Em alguns casos, todas as palmeiras próximas foram derrubadas ou queimadas também e as araras tendem a retornar para o mesmo lugar onde estão acostumadas ou postaram seus ovos em anos anteriores.

“Em 2019, quando o fogo passou durante dezessete dias, ou seja, ele foi mais lento e tivemos tempo de correr e checar, o incêndio atingiu 50% dos ninhos diretamente. Esse ano ainda não sabemos”, revela Neiva.

"Incêndios foram catastróficos, sem precedentes", diz Neiva Guedes sobre impacto na área das araras-azuis

O antes e o depois: a palmeira de pé, com um ninho, e agora, no chão, derrubada pelo fogo
Foto: Instituto Arara Azul

Nesse primeiro momento, a bióloga afirma, o maior impacto para as araras-azuis que tinham como lar a Caiman é em relação à alimentação. “Já sabemos que houve uma queima extensa dos palmeirais. A perda foi de tal dimensão que precisaremos suplementar as araras com frutos – acuri e bocaiuva – de outra região. Ali queimou quase tudo”.

Neiva ressalta que essa suplementação pode ser de longo prazo, já que só daqui a um ano ou um ano e meio é que as palmeiras conseguirão novamente dar frutos.

“A arara é uma ave resiliente e resistente, mas ela sofre demais. Com o tipo de fogo que ocorreu ali, elas devem ter ficado chocadas e podem demorar muito tempo a retornar para esse local”, lamenta a diretora do Arara Azul.

"Incêndios foram catastróficos, sem precedentes", diz Neiva Guedes sobre impacto na área das araras-azuis

Registros da devastação: tronco da árvore ainda arde com o calor
Foto: Instituto Arara Azul

Na tragédia anterior, há quatro anos, lembra Neiva, os incêndios atingiram a Reserva São Francisco do Perigara, no Mato Grosso, outra base do instituto e que abriga cerca de 15% da população mundial da arara-azul. Na época, aproximadamente 700 delas viviam lá.

“Depois do incêndio um grupo delas permaneceu até uns cinco ou seis meses na fazenda, enquanto ainda tinha comida, e quando acabou o alimento, elas debandaram. Estamos em 2024 e o número máximo que temos na Perigara hoje em dia é de 250 araras-azuis. Mais da metade delas nunca mais voltou. Não sabemos para onde foram ou se morreram”, afirma.

Para Neiva, que dedicou sua vida para cuidar dessas belíssimas aves, não há como negar o sentimento de tristeza.

“Os incêndios de agora foram muito mais catastróficos, muito mais impactantes. É algo sem precedentes. Nunca vimos isso antes”, desabafa. “Enfrentamos o fogo desde sempre. Desde o começo do projeto observamos incêndio em um capão, em uma cordilheira, mas a cada ano eles crescem mais e ficam pior. Esse foi o maior de todos no nosso trabalho de quase 35 anos.”

A bióloga admite que, infelizmente, talvez esse será o “novo normal”. “Precisamos olhar para o Pantanal. Achamos que o bioma que víamos no passado não haverá mais. Poderá ter um outro, com novas espécies, relações… Talvez até mais bonito, mas igual não achamos que voltará.”

"Incêndios foram catastróficos, sem precedentes", diz Neiva Guedes sobre impacto na área das araras-azuis

Algumas palmeiras ainda resistiram ao fogo, mas frutos estão queimados e
faltará alimentos para as araras
Foto: Instituto Arara Azul

Doações para o Instituto Arara Azul

Toda a equipe do Arara Azul está agora em uma corrida contra o tempo para reconstruir o que foi perdido. Para que o instituto continue a realizar esse trabalho fundamental para a sobrevivência da espécie no Pantanal, ele precisa da nossa ajuda!

Você pode fazer parte desse esforço contribuindo com a sua doação através da chave PIX CNPJ: 05.910.537/0001-02

Envie seu comprovante para contato@institutoararaazul.org.br para receber o recibo de doação.

“A gente já chorou, já sofreu, mas agora estamos trabalhando. O choro tem que ser rápido porque a emergência é maior”, ressalta Neiva. “A nossa parte nós estamos fazendo, mas precisamos de recursos e contamos com a ajuda de todos.”

 
 
 
 
 
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Foto de abertura: Instituto Arara Azul

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