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Will Smith renuncia à Academia do Oscar após críticas e pressão da instituição pelo tapa em Chris Rock: “estou de coração partido”

Atualizado em 2/4/2022
Ontem, 1º de abril, Will Smith divulgou comunicado no qual renuncia à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. A decisão ocorre devido à gravidade de sua reação na cerimônia do Oscar, no domingo passado, durante a qual ele subiu ao palco para agredir o humorista Chris Rock, que fazia piada sobre a cabeça raspada de Jada Pinkett Smith, sua esposa, que se sentiu ofendida. Ela sofre de alopecia. “Estou de coração partido”, declarou o ator. Durante a semana, a Academia disse não tolerar violência e aventou a possibilidade da saída de Smith de seu quadro de membros. Na quarta-feira, 30/3, sentenciou que o ator tinha 15 dias para se manifestar por escrito, justificando suas ações. O comunicado de desligamento da instituição foi sua resposta. Abaixo, a descrição do episódio e a mensagem que Smith divulgou em suas redes sociais já no dia seguinte ao Oscar.
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Na segunda-feira, 28/3, muita gente pelo mundo se dedicou a fazer julgamentos nas redes sociais sobre o comportamento do ator Will Smith e do comediante Chris Rock durante a cerimônia do Oscar, no dia anterior.

Rock passa sempre dos limites. Algum dia, o que Smith fez poderia acontecer. Era como uma ‘crônica de uma agressão anunciada’, parafraseando Gabriel Garcia Marques. Acredito que esse tipo de humor está com os dias contados. E que este fato onde servir de exemplo para que isso aconteça logo.

De qualquer forma, nenhuma violência pode ser celebrada, nem justificada, sob o risco de abrirmos precedentes terríveis, ainda mais no cenário agressivo, conservador e belicoso no qual vivemos hoje.

Em vez de “partir para a porrada”, Smith poderia ter feito um belo discurso para desconcertar Rock e aproveitado o momento para contar sobre a doença de Jade (que a deixou calva e é bastante desconhecida, inclusive do próprio comediante). Seria um serviço de utilidade pública. E ele não teria que perder tempo, como agora, para limpar sua imagem.

Mas li outra solução ainda mais interessante para o momento em que ele e Jada se irritaram visivelmente com Rock: ambos levantarem e irem embora. Abandonarem a premiação. E, quando fosse chamado para receber o Oscar de melhor ator, a situação ficaria ainda mais delicada para o comediante.

Talvez arrependido, já com a estatueta na mão, pouco depois da agressão, o ator fez um discurso piegas. Falou de Deus e de paz. Chorou diante de uma plateia dividida entre o choque com o ato que ele havia protagonizado minutos antes e a alegria de vê-lo finalmente premiado. Ficou pior.

Menos de 24 horas depois do tapa, ontem à tarde, o ator veio a público e se declarou “errado” e “envergonhado” pela agressão. Depois de uma enxurrada de comentários que se perderam na nuvem, ele se pronunciou em seus perfis no Instagram e no Facebook e pediu desculpas, não só a Chris Rock, mas a todos os presentes na festa, a todos que assistiam a cerimônia em suas casas, pelo mundo, à sua família e à academia.

Só seu Twitter ficou de fora de sua manifestação porque, menos de 24 horas do episódio com Rock, sua conta foi suspensa, sob a alegação de que isso acontece quando o autor ‘viola as regras”. E até o fechamento deste texto (às 11h), assim continuava.

Seu post apaga a violência cometida? Não. Mas creio eu que, daqui pra frente, ele vai pensar duas vezes antes de se entregar a rompantes de ódio e de macho alfa. E sua atitude pode servir de exemplo e levar quem apoiou sua atitude à reflexão e a mudar de opinião. Tá valendo.

“A violência é venenosa e destrutiva”

Will foi contundente logo no início: “A violência em todas as suas formas é venenosa e destrutiva. Meu comportamento no Oscar de ontem à noite foi inaceitável e imperdoável”, declarou.

E contou que está acostumado a ser ‘alvo’ de piadas, que fazem parte do trabalho, mas explicou que “uma piada sobre a condição médica de Jada era demais para mim e reagi emocionalmente”.

Assumiu estar fora de si e que, ontem, sentia vergonha de sua reação estúpida, absolutamente contrária a tudo que ele prega e defende. “Eu estava fora de linha e estava errado. Estou envergonhado e minhas ações não foram indicativas do homem que quero ser. Não há lugar para a violência em um mundo de amor e bondade”.

É isso! Pena que não pensou assim quando se irritou com o colega. De qualquer forma, o post valeu mesmo que tenha sido uma manifestação sob pressão, por medo, aconselhado por seus assessores – não importa!. Tem que refletir publicamente sobre o acontecimento deplorável. Também porque pode ter consequências nefastas em sua carreira.

Sabemos que qualquer um de nós, tomado/a por forte emoção – revolta, raiva, ódio, desespero, medo -, é capaz de tudo, até de matar. Por isso, mesmo, não podemos, como sociedade civilizada que dizemos ser, apoiar atitudes de agressividade física ou verbal. Seja publicamente ou de forma reservada. 

Do contrário, criamos condições para que homens que matam mulheres “sob forte emoção” (é o que seus advogados mais alegam) sejam inocentados. Que policiais que agridem, prendem e matam jovens negros e outros inocentes não sejam punidos. Assim como estupradores e por aí vai.

E o primeiro Oscar de Will se perdeu…

A polêmica sobre o tapa se instalou e se espalhou rapidamente. E, assim, o Oscar de Melhor Ator que Smith recebeu por sua atuação brilhante em King Richard – Criando Campeãs, o primeiro de sua carreira, se perdeu. 

Isso, vinte anos depois de sua primeira indicação (Denzel Washington, o ator negro mais indicado da história do Oscar, foi o premiado desse ano por ‘Dia de Treinamento) e 16 anos da premiação de Forest Whitaker (com ‘O Útimo Rei da Escócia’). Ele foi o último negro a ser reconhecido pela academia, com quem Smith também concorreu.

Vale destacar que, por sua atuação em King Richard, Smith também venceu o Globo de Ouro (janeiro) e mais dois prêmios este mês: Bafta (British Academy Film Awards) e Critics Choice Awards.

Ou seja, era pra celebrar muito o primeiro Oscar de Smith! Nas redes, quase ninguém comentou. Diante do tabefe que o ator desferiu contra Rock, no palco, para uma plateia atônita, a conquista do ator perdeu relevância. Sua revolta com os comentários desrespeitosos que o comediante fez sobre sua esposa, Jada, tomou esse lugar. No vídeo dá pra ver também a cara de insatisfação dela. Conto sobre o caso, mais adiante.

Entre os comentários que li, muita gente deu razão a Smith e ainda acrescentou: ‘foi pouco’. Mulheres comemoraram, ao mesmo tempo que lamentaram o fato de que nunca tiveram um homem que as defendesse assim. Até protestos descontextualizados colocaram o racismo na pauta: “ele defendeu uma mulher preta, constrangida…”. 

Mas nem todos foram a favor da agressão e até defenderam Rock dizendo que “foi só uma piada”, como o escritor português, Valter Hugo Mãe, que tem muitos seguidores. E muitas foram as celebridades que concordaram com ele e deixaram sua posição registrada em seu post.

A seguir, depois de descrever resumidamente o fato ocorrido na cerimonia do Oscar, reproduzo o texto divulgado por Smith.

A agressão 

Chris Rock passa dos limites, sempre. No domingo, não foi diferente. Em dado momento, focou em Jada Pinkett Smith, esposa de Will, comentando sobre seu visual – ela raspou a cabeça depois de ser diagnosticada com uma doença autoimune que a deixou calva: alopecia –, comparando-a a uma personagem de Demi Moore no filme G.I. Jane (‘Até o limite da honra’, no Brasil). Smith se incomodou com a chacota e pediu a ele que parasse, mas o comediante insistiu. 

Inesperadamente, o ator subiu ao palco, onde estava Rock que sorria ao vê-lo ir em sua direção, e deu-lhe um tapa. 

A princípio, a plateia reagiu como se a cena fizesse parte do script da festa, mas Smith estava descompensado. E, ao voltar para seu lugar, ainda gritou para Rock: “Tire o nome da minha esposa da p… da sua boca”. 

Rock ficou levemente constrangido e surpreso com a agressão, mas manteve a calma, tentando até fazer piada da cena.

No intervalo, o ator Denzel Washington, entre outros colegas de Smith, tentaram acalmá-lo, mas ele parecia muito alterado. 

O pedido de desculpas

“A violência em todas as suas formas é venenosa e destrutiva. Meu comportamento no Oscar de ontem à noite foi inaceitável e imperdoável. Piadas às minhas custas fazem parte do trabalho, mas uma piada sobre a condição médica de Jada era demais para mim e reagi emocionalmente.

Eu gostaria de me desculpar publicamente com você, Chris. Eu estava fora de linha e estava errado. Estou envergonhado e minhas ações não foram indicativas do homem que quero ser. Não há lugar para violência em um mundo de amor e bondade.

Também gostaria de pedir desculpas à Academia, aos produtores do programa, a todos os participantes e a todos que assistem ao redor do mundo. E gostaria de me desculpar com a Família Williams e minha Família King Richard. Lamento profundamente que meu comportamento tenha manchado o que tem sido uma jornada linda para todos nós.

Estou ‘em construção’.

Will”

Foto (destaque): Reprodução

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