
Como já escrevi aqui outras vezes, a indústria da moda não é nada sustentável. Estima-se que ela movimente, por ano, cerca de 2,5 trilhões de dólares no mundo. Infelizmente, os números grandiosos também estão em seu desperdício: a cada segundo, o equivalente a um caminhão de lixo cheio de sobras de tecido é queimado ou descartado em aterros sanitários. Ou 500 bilhões de dólares são jogados fora, anualmente, com roupas que mal foram usadas ou quase nunca recicladas.
Ou seja, a pegada ambiental do universo fashion é péssima. Segundo um relatório da consultoria McKinsey, divulgado no ano passado – The State of the Fashiont 2020 -, “a indústria da moda global consome energia, polui e desperdiça. Apesar de alguns modestos progressos, ela ainda não assumiu sua responsabilidade ambiental seriamente. Os envolvidos no segmento precisam trocar seus ‘chavões e ruídos promocionais’ por
conformidades regulatórias e ações significativas para atender uma demanda do consumidor por mudanças”.
E pouco a pouco, algumas empresas têm tentado trilhar um novo rumo. É o caso da multinacional sueca H&M, que anunciou que seus clientes poderão levar uma peça velha de roupa e transformá-la em uma nova na loja de Drottninggatan, em Estocolmo.
O sistema de reciclagem chamado de Looop funcionará ao vivo, dentro de um ambiente envidraçado, para que o público possa acompanhar o processo de transformação. Inicialmente, o cliente poderá escolher entre três peças: uma suéter, um cobertor de bebê ou um cachecol.

A nova peça sendo montada pelo Looop
De acordo com a marca, a tecnologia usada pelo Looop permite que as roupas sejam limpas, desfiadas em fibras e fiadas em novos fios, que são então tricotados em novas peças. “Alguns materiais virgens de fontes sustentáveis precisarão ser adicionados durante o processo e, é claro, trabalhamos para tornar essa parcela o menor possível”, afirma o comunicado da empresa.
Ainda segundo a H&M, o sistema não usa água nem produtos químicos, o que tem um impacto ambiental significativamente menor do que quando se produz roupas do zero.

Os fios do tecido passando pelo processo de reciclagem
Para os clientes que fazem parte do programa de fidelidade da marca, a reciclagem para a roupa nova custará 100 coroas suecas, algo em torno de 60 reais. Para aqueles que não possuem, o valor será de 150 coroas suecas, perto de 95 reais. Todo o dinheiro será revertido para a pesquisa e o desenvolvimento de matérias-primas.
A iniciativa do Looop foi criada pelo Fundação H&M, em parceria com o Hong Kong Research Institute of Textiles and Apparel.
“Estamos trabalhando para reduzir a dependência em matérias-primas virgens. Conseguir a adesão dos clientes é fundamental para alcançar uma mudança real e estamos muito animados para ver o que o Looop irá inspirar”, diz Pascal Brun, diretor de sustentabilidade da companhia.

O projeto piloto funcionará em um loja da capital sueca
Especialistas afirmam, entretanto, que apesar de bem-vinda, a novidade não tem capacidade de funcionar em larga escala. É preciso muito mais do que isso para que o varejo da moda se torne mais sustentável.
Em 2013, a H&M lançou também um programa global de coleta de roupas usadas em todas as suas lojas e estabeleceu a meta de fazer com que todas as peças vendidas fossem feitas de materiais reciclados ou de origem sustentável até 2030. Esse número atualmente é de 57%, garante a marca.

Os clientes podem escolher entre uma suéter, um cachecol ou
um cobertor de bebê
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Fotos: divulgação H&M





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