Era final do dia. Um velho parou no pátio da aldeia e iniciou um canto longo e triste. Com seu maracá, andava de um lado a outro chamando seu povo.
Nas casas ninguém parou para olhar o velho, das casas nem criança saiu. Um vento forte levantando poeira criava uma imagem linda, avermelhada, com sua silhueta marcando o compasso de seu maracá.
No horizonte, uma enorme tempestade já dava sinais de que se aproximava e o mundo parava.
Então, perguntei às pessoas da casa em que me encontrava e da qual observava o velho: “Porque ele chama seu povo e seu povo não responde?!”.
Um pequeno silêncio foi seguido de uma explicação muito simples, de poucas palavras: “O velho está chamando a morte. Tá cansado, querendo ir para encontrar o povo antigo e seus amigos. Tá com saudades daqueles que já se foram.”
Fiquei ali olhando Atorko Krahô e em meus pensamentos pude ver, em meio àquela poeira que se misturava com a chuva, o povo antigo cantando com ele.
Os indígenas Krahô cantam todos os dias. Se eles pararem de cantar, a árvore que segura o céu cairá, a noite virá e tudo vai mudar!
As fotos que escolhi para este post foram feitas em 1994 para o livro e a exposição “Krahô, os filhos da Terra”, etnia que vive no Tocantins. Gosto sempre de revisitá-las.