O presente da floresta

harpia

Comento nos cursos e viagens fotográficas que faço que, em alguns casos, é a câmera que nos leva a viajar. Esta foto é a comprovação deste comentário.

Por estar de câmera em punho o tempo todo, fui convidado, juntamente com um grupo de jornalistas, a participar de um evento em Porto Seguro, no sul da Bahia, para conhecer um projeto de conservação da RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) Estação Veracel. A empresa é uma moderna e eficiente fábrica de papel que tivemos a oportunidade de visitar e que protege uma área de aproximadamente seis mil hectares de Floresta Atlântica, riquíssima em biodiversidade.

Lá são encontradas espécies de animais e plantas que existiam em boa parte do que sobrou da exuberante floresta que Pero Vaz de Caminha descreve na famosa “Certidão de Nascimento” do Brasil ao rei de Portugal, D. Manuel I.

Viagens como esta têm uma programação intensa. Com horários cronometrados para que todos conheçam um pouco do que a empresa quer mostrar. Meu voo saia de Curitiba para Porto Seguro às 6 horas. Fiz o check-in e já no portão de embarque disseram que iria atrasar. Depois mais um outro aviso de atraso. Bem, pra resumir vários voos foram cancelados por problemas de aeroporto fechado em São Paulo. Somente seria viável chegar no dia seguinte próximo do meio dia!

Quase desisti pois a viagem era de dois dias apenas! Como iria ficar um dia a mais por minha conta, resolvi ir mesmo perdendo a visita programada na RPPN.

Conhecer a reserva era meu maior interesse. Sabia que tinha um ninho de harpia (Harpia harpyja) e ter a possibilidade de fotografar a ave com um filhotão na Floresta Atlântica era um sonho! A harpia é o maior gavião que temos na América do Sul, podendo atingir até 2,5m de envergadura e 90 cm de altura. Já tive o privilégio de acompanhar dois ninhos em atividade, porém os dois na Amazônia, onde ela é mais encontrada. Na Floresta Atlântica está quase extinta, portanto uma oportunidade rara para mim.

Cheguei em Porto Seguro para o almoço. Encontrei a equipe no hotel e saímos para visitar a indústria. Me surpreendi com a tecnologia e a falta do cheiro característico de fábricas de papel. Todo eucalipto foi plantado em antigas áreas de pasto. A Veracel preserva e recupera as encostas íngremes e mantém a RPPN Estação Veracel. É neste local onde era monitorado o ninho de harpia. Meu maior objetivo naquela viagem.

Acabei reorganizando meu dia extra para ir na reserva ao em vez de revisitar a parte histórica de Porto Seguro, como era minha proposta inicial. Lá encontrei um casal de ornitólogos, Caio Brito e Tatiana Pongiluppi, empolgados com o que fazem. Fiz fotografias de várias aves novas para mim, mas o interesse maior era o ninho de harpia. A princípio não poderíamos ir, mas com um pouco de insistência fomos, sempre acompanhados por pessoas da empresa.

Após uma caminhada de uns 40 minutos chegamos ao local do ninho. Estávamos a uma certa distância e o ninho era visível por entre as árvores. Mas nada do filhotão. Ele já estava começando a voar e poderia estar no ninho ou em alguma árvore próxima.

Fizemos esta incursão pela floresta com olho no relógio. Eu tinha pouco tempo para ficar observando o ninho, tudo cronometrado para eu não perder o voo para Curitiba.

Chegamos lá, olha daqui, olha dali e nada do filhote. O tempo se esgotando e nós procurando por entre as árvores. Minutos antes de irmos embora, a Tatiana viu num buraquinho entre as folhas o filhote majestoso nos olhando. Foi um delírio!

A luz estava ruim, com céu carregado de nuvens e uma luz contrária. Mas regulando bem a câmera deu bons resultados. Um deslocamento de poucos centímetros e a harpia já ficava encoberta. Fiz várias fotos pelos buracos entre as folhas e galhos da Floresta. Para nossa surpresa, ele (ou ela) fez um voo para outra árvore minutos antes de irmos. Esta imagem ficou na memória, os galhos e as folhas não permitiram que eu fizesse este registro.

Voltei com a sensação de ter recebido um presente na Costa do Descobrimento e feliz por saber que esta ave rara está protegida na RPPN Estação Veracel. Afinal, uma área que suporta aves como esta de topo de cadeia alimentar não é pouca coisa!

*Nikon D7500, com lente: Nikon 200-500mm abertura: F9 velocidade 1/1.600 – I.S.O.: 1.600

Para saber mais sobre a Estação Veracel clique aqui.

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Zig Koch

Fotógrafo profissional com ênfase em imagens de natureza, turismo e viagens. Autor de 14 livros e 25 exposições individuais, sendo quatro internacionais. Percorreu todos os biomas brasileiros, viajou para vários países de outros continentes, fotografando para revistas, ONGs e empresas.